domingo, 21 de julho de 2013

Azulejo em casa de taipa

julho 21, 2013 Por Alexandre Morais Sem comentários
 

E hoje lendo o livro de Maciel Melo - A poeira e a estrada - vi uma que não conhecia e achei boa demais: difícil que só botar azulejo em casa de taipa.
Num é que seja difícil o dono ter condições de botar o azulejo, não. É que não dá prumo nem com a peste.

Isso vale um abraço, companheiro!

Com uma prevenção dessas, não tem pinha que faça mal

julho 21, 2013 Por Alexandre Morais Sem comentários
Prevenido mesmo é Zé Moreno. Chegou num lugar onde uma turminha devorava umas pinhas. Como manda a boa educação, foram logo oferecendo:

- Quer pinha, Zé Moreno?

E ele, ligeiro e assustado:

- Quero não! Ave Maria! Deus me livre! Eu tive febre!

E eu nunca que soubesse que pinha fizesse mal a quem teve febre, mas pior foi saber o quanto Zé Moreno é prevenido. Vê o fim da história:

- Febre, Zé? Quando? Ontem?

- Não, tá com quinze dias.

Pense num caba difícil de uma pinha pegá-lo.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Bastim e o imposto da água

julho 12, 2013 Por Alexandre Morais Sem comentários


A mãe de Bastim batizou ele de Sebastião. Normal. Mas só por ter passado uns dias em São Paulo, só chamava o menino de Sebastiãozinho, chiando nos esses e no zê. Aí, sabe como é, né? Os outros chamavam de Bastiãozim, sem chiado e sem frescura. E por ser sem frescura virou logo Bastim. Pronto, pegou e ficou até hoje.
Mas isso é o de menos. Com isso Bastim nunca fez confusão. Até porque nunca se deu ao trabalho de aprender a ler e escrever. Era um sabido formado na escola da astúcia.
Essa semana lá ia Bastim no caminho da feira junto com Mané Pio e João de Zé Preto. Só deu tempo passar na cruz do finado Luiz Pequeno, que Bastim começou:
- O governo agora vai acabar com todo mundo. Botou uma lei que num vai escapar ninguém.
E Mané Pio dando corda:
- Ôche! Que lei é essa, Bastim?
- Quem tiver água, nem que seja numa cuia, vai ter que pagar imposto.
- Conversa é essa, home? Perguntou João depois de tirar o pacaia da boca e cuspir no aceiro da estrada.
- É desse jeito, vocês se prepare, que a coisa é feia: açude, barreiro, cisterna, poço, pote, caco de passarim, onde ajuntar água o governo vai medir e cobrar pelo pé.
Foi dois minutos de silêncio e Mané Pio assuntou:
- Danou-se! E como é que vai ficar?
Bastim apontou o caminho pra estrada do fim do mundo ficar mais cumprida:
- Enquanto tu pensava em perguntar eu já tava com a escapatória pronta. Quando o governo chegar nós diz: as água num é do senhor? E apois! Se o senhor quiser levar tudo, pode levar. Agora, se num tiver como levar, deixe que nós cuida. Então nós nem cobra pelo serviço nem o senhor cobra esse tal de imposto. Porque imposto aqui só anda quem tem carro, que é pra botar gasolina...
Aí deu uma risada alta e inteirou:
- Deixa ele vim, deixe ele vim!!!
- Ele quem, Bastim? Perguntaram junto Mané e João.
- O governo, esse fi da peste. O governo...

< Alexandre Morais >

quinta-feira, 11 de julho de 2013

sábado, 6 de julho de 2013

Sobre Theotonio Freire

julho 06, 2013 Por Alexandre Morais Sem comentários
    Retomado o contato, eis que Luzilá colabora com a gente. Nos manda um pouco da obra Pernambucanos do Passado, organizada por ela. E neste pouco nos diz muito sobre Theotonio Freire, homem que marcou seu tempo e deixou marcas para o nosso tempo. Seguem abaixo sua biografia e um soneto. Coisas boas de se ver... de ser ler... de se ter...

Um pouco sobre Theotonio

julho 06, 2013 Por Alexandre Morais Sem comentários


Theotonio Freire, homem dedicado às letras, é um dos mais atuantes intelectuais do seu tempo no Recife. Era a capital de Pernambuco então uma cidade efervescente. A  Faculdade de Direito, a presença de vários e diversificados jornais, o movimento Abolicionista que toma corpo, os espetáculos musicais e festas cívicas realizados no Teatro de Santa Isabel, o encaminhamento da Nação em direção da República, criam um ambiente propício à agitação intelectual e política.

Neste cenário, Theotonio Freire se mostra um espírito participante e corajoso, sempre atento aos acontecimentos literários e políticos: foi crítico, jornalista, enquanto exercia, segundo dizem, a função de funcionário do Hospital Militar de Pernambuco. De sua atenção aos acontecimentos da cidade dão testemunho suas Cartas a Pollux, correspondência imaginária de Castor, seu pseudônimo, a um amigo também inventado, estes pseudônimos remetendo aos gêmeos da mitologia, filhos de Júpiter e de Leda. Essas Cartas são um documento interessante, vivo, muitas vezes irônicos, satíricos, engraçados, sobre acontecimentos referentes à vida e sobretudo à política na cidade do Recife e no País.

Sua obra poética tem como temas principais o amor e a Pátria.A lírica amorosa, que canta igualmente o amor idealizado e a sensualidade, em nada fica a dever aos melhores poemas publicados na época. A produção de inspiração patriótica é marcada por um nacionalismo acentuado, que exalta as belezas do país e o valor de sua gente. Os romances, escritos com um estilo vigoroso, têm a influência de uma certa literatura então em moda, de inspiração realista e herdeira de cientificismo. Mas um livro como Passionario, por exemplo, pode ser lido com interesse e prazer mesmo nos dias de hoje.

Um soneto

julho 06, 2013 Por Alexandre Morais Sem comentários


 Crença

Quanta doçura, quanta, no teu riso,
E quanto amor no teu olhar bendito!
Um, que promete dar-me o paraíso,
Outro, que ensina a estrada do infinito.

E nem eu creio mais em ser maldito
E nem descreio que haja céu. Diviso
No teu amor celeste todo o rito
Divino e creio, pois de crer preciso...

Creio que tu, imácula criatura,
És meiga e santa e inviolada e casta,
Virgem serena de alma branca e pura.

E que me adoras, creio. E nisto crendo,
Penso que vens do céu, e tanto basta
Para pensar em Deus, se estou te vendo.

< Theotonio Freire >

A corrente do bem

julho 06, 2013 Por Alexandre Morais Sem comentários
     Veja as coisas como são!
   Primeiro Belinha fez um primor de cordel e batizou de Carta a Tião. Depois recitou este danado na Mesa de Glosas de Tabira em 2011. Eu ouvi, pedi, ganhei e, claro, me encantei.
    Segundo eu me atrevi a ser Tião e fiz o poema Respostando pra Mariazinha, o que ganhou de cara a aprovação de Belinha e de outras feras-amigas-poetas. Saí declamando por aí.
   Terceiro o Sesc me convida para mais uma Jornada Literária e lá fui eu pra Sertânia, ano passado. Entre outras, recitei o quê? Respostando pra Mariazinha. Quem tava na plateia e se disse encantada? Luzilá Gonçalves Ferreira, referência pernambucana na arte de fazer arte.
   Quarto Luzilá achou de publicar um comentário e um trecho do poema na coluna que assina às terças-feiras, no Diário de Pernambuco e tem o ótimo título de Letras às Terças. Quem primeiro viu e passou a notícia foi Carlinhos, um advogado amigo e admirador de nossa poesia. Tá todo mundo radiante por aqui.
   Quinto eu uso o espaço pra agradecer a Luzilá e todo mundo que compôs essa corrente do bem.
     E sexto segue aí abaixo a publicação do Diário e o poema na íntegra.

Respostando pra Mariazinha

julho 06, 2013 Por Alexandre Morais 1 comentário

Amada Mariazinha,
Quando vi a tua carta,
Esse papezim que ajunta
O que o mau destino aparta,
Morrer mesmo eu não morri,
Mas confesso que senti
O que sente quem enfarta.

Vi tua letrinha farta
De capricho e de beleza.
Pensei em ser o papel
Deitadim na tua mesa,
Pra receber aos pouquinhos
Dos teus dedos os carinhos
Cheinhos de sutileza.

Também vi delicadeza,
Até enxerguei teu riso,
No teu dizer: - Pra casar
Só o amor é preciso!
Isso é tudo que me salva,
Não quero fazer ressalva,
Ando louco, leso e liso.

Só sendo mesmo um aviso
Que Deus do céu me enviou,
Pedindo pr’eu te escrever
Pra dizer como eu estou.
Escrevi meio cismado
E fiquei emocionado
Quando a resposta chegou.

Num sei se tu reparou
Que na carta, assim num canto,
Tava faltando um pedaço,
Embora não fosse tanto,
Fui eu mesmo que rasguei
Porque ali derramei
Um dos pingos do meu pranto.

Zinha, tu não sabe quanto
Que estou arrependido
Por ter deixado o sertão,
Este meu berço querido...
Mas tô pronto pra voltar
Pra todo dia escutar
Tu me chamar de marido.

Não vou voltar iludido...
Iludido eu vim praqui.
Vou voltar pra ser feliz
No simples viver daí,
Ouvindo o que tu me disse
Seria até meninice
Eu não retornar praí.

Já fiz até um croqui
Da nossa bela casinha.
Na frente tem um jardim
Que é pra tu de manhãzinha
Se misturar com as “flor”
E eu descobrir pelo odor
De todas qual é a minha

Lá atrás, lá na cozinha,
Vai ter jeito de palhoça.
C’uma janela bem grande
Pra que por ela tu possa,
Enquanto prepara o almoço,
Só esticar o pescoço
Pra me avistar lá na roça.

Vou tirar madeira grossa,
Ou braúna ou aroeira,
Pra fazer os nossos troços:
Estante, mesa e cadeira...
Mas principalmente a cama
Que pra agüentar quem ama
Tem que ser boa a madeira.

Mas Zinha, que brincadeira
Foi aquela dos “moleque”?
Zinha, criar dez meninos
É pra rico que tem cheque!
Os planos ninguém desmonta,
Mas pelo menos nas “conta”
É melhor nós dá um breque.

Antes que a caneta seque,
Deixe eu te dizer mais uma:
Eu já tô de mala pronta
Coisa pouca nem se arruma
É só empurrar pra dentro
Depois encaicar no centro
Pra espalhar mais a ruma.

Não é mentira nenhuma
Já tô indo pra parada.
Pra onde se pega carro
Com destino à terra amada.
Achando logo um transporte
Chego aí, pra minha sorte,
Daqui pra de madrugada.

Pela Virge Imaculada!
Socorrei-me Santa Marta!
Se eu correr desse jeito
Com medo que o carro parta,
Com medo de aqui ficar,
É bem capaz deu chegar
Mais primeiro que essa carta!

É bem melhor feito tarta-
ruga não querer correr.
É melhor ir devagar
Que é pra nada acontecer...
Afinal já tamo junto
Vamos dividir assunto
Daqui até nós morrer.

Pois assim, meu bem querer
Vou fechando essa cartinha.
Talvez que nós chegue junto
Ou que ela chegue sozinha...
Enfim, lá vai assinado
Como ei de ser chamado
Tião de Mariazinha.

< Alexandre Morais >