Por Fellipe Torres - Diário de Pernambuco
Credito: Nando Chiappetta /DP/D.A Press. |
“Quando
sinto a ideia de um romance, por dias e meses a coisa me trabalha por
dentro, e quando me ponho a escrever, é tudo muito rápido e compulsivo.
Com a grande alegria de criar”
Cercada por mais de 6 mil
livros em sua casa no Bairro do Poço da Panela, a escritora pernambucana
Luzilá Gonçalves se define como preguiçosa, pois acha que poderia
produzir mais “e talvez melhor”. Por outro lado, considera-se uma
“mulier faber” (aquela que faz as coisas, explica): todo dia pela manhã,
por volta das 5h30, vai ao jardim regar as plantas. “As pessoas passam,
olham, dizem bom dia, se espantam: por que tão cedo? Mas já então os
passarinhos me haviam acordado e os dois galos no quintal”.
Também pesquisa, cozinha, e até pouco tempo ainda costurava. “Quando sinto a ideia de um romance, por dias e meses a coisa me trabalha por dentro, e quando me ponho a escrever, é tudo muito rápido e compulsivo. Com a grande alegria de criar”. No entanto, diz a autora, sempre a inspiração e o trabalho intelectual são interrompidos pelas “chamadas da vida banal”, referindo-se às preocupações domésticas, “coisa que os homens escritores em geral não têm, uma injustiça”, exclama, deixando transparecer a conhecida inclinação para causas feministas.
Credito: Nando Chiappetta /DP/D.A Press. |
Em
um cômodo amplo, com vista para duas grandes janelas, Luzilá escreve à
mão, por vezes consultando livros de teoria literária, e os
“imprescindíveis” Anais pernambucanos (1952) e Folklore Pernambucano
(1909), de Pereira da Costa. Também costuma checar obras de Gilberto
Freyre e de Joaquim Nabuco (de quem gosta menos, confessa). Só depois,
em outro quarto, Luzilá redige no computador.
Depois dos filhos,
a literatura é o que há de mais importante na vida da autora. “Faz com
que me sinta existindo, dá-me uma certa consciência de ser. Vejo que
sempre tive muita sorte e que se tivesse de escolher, seria professora,
escritora. Faria as mesmas coisas, mas... melhor”.
Credito: Nando Chiappetta /DP/D.A Press. |
A
vasta bilioteca reúne os livros considerados mais importantes – “os
queridos, que salvaria em caso de incêndio” – praticamente toda a obra
de Carlos Drummond de Andrade, Mário de Andrade, George Sand, Rilke, Lou
Salomé, Castro Alves. Também muitas obras de Ítalo Calvino, Jorge Luis
Borges, Antônio Cândido, Machado de Assis, Garcia Lorca.
Curiosamente, outro quarto da casa é reservado para as mulheres escritoras: Colette, Cecilia Meireles, Deborah Brennand, Lucila Nogueira. “Aqui também estão as Bronte [Charlotte, Emily e Anne Bronte], aquelas ‘inglesas velhas’ como dizia Rachel de Queiroz. De Rachel, quase tudo, com oferecimentos que guardo com carinho enorme”. Sobre a disposição dos livros, diz que a biblioteca “é ‘a ordem na desordem’, como escrevia Romain Rolland a propósito da França”. Aproveita para citar os franceses nas estantes: romances de Balzac, Flaubert. Poesia de Francis Jammes e de Aragon (“cantou como poucos no século 20 o amor”).
Curiosamente, outro quarto da casa é reservado para as mulheres escritoras: Colette, Cecilia Meireles, Deborah Brennand, Lucila Nogueira. “Aqui também estão as Bronte [Charlotte, Emily e Anne Bronte], aquelas ‘inglesas velhas’ como dizia Rachel de Queiroz. De Rachel, quase tudo, com oferecimentos que guardo com carinho enorme”. Sobre a disposição dos livros, diz que a biblioteca “é ‘a ordem na desordem’, como escrevia Romain Rolland a propósito da França”. Aproveita para citar os franceses nas estantes: romances de Balzac, Flaubert. Poesia de Francis Jammes e de Aragon (“cantou como poucos no século 20 o amor”).
Credito: Nando Chiappetta /DP/D.A Press. |
Após
muitos autores e obras citadas, Luzilá sugere: “basta de inventário. O
que há é a alegria de me sentir tão bem em meio a essas vozes todas,
atuais ou que me precederam no mundo”. Autora de livros como No tempo
frágil das horas (2004) e Voltar a Palermo (2002), também assina a
coluna Letras às Terças, no Diario de Pernambuco, atividade que diz
exercer com grande prazer. “Me obriga a tomar consciência da vida
literária do Recife, do que escrevem os amigos e até desconhecidos”.
Considera uma grande recompensa quando ouve de alguém um “sempre leio
você”.