Lembram do Rolando Boldrin? Aquele que apresentava o Som Brasil, aos domingos pela manhã, na Rede Globo? Quem é da pépoca e não lembrou ainda vai lembrar se eu disser que a música característica do programa era a que diz: amanheceu, peguei a viola, botei na sacola e fui viajar... Pois é o Rolando tá fora da mídia, mas num tá morto não. Apresenta um programa na TV Cultura, o Bem Brasil, nas terças à noite. Continua simpático e bom contador de causos. Eis um dos bons:
Vou contar um causo nordestino em homenagem a um grande amigo meu, o poeta Aldemar Paiva. O referido causo começa com gritos. Gritos da mulher do Coronel Pajuçara. É que ela tava dando à luz mais uma criança, que completaria a prole de mais ou menos dez caboclinhos de diversos tamanhos. Estava difícil. A parteira entregou os pontos depois de uma labuta de horas e muito suadouro. Veio o doutor que, depois de um pouco mais de gritaria, fez nascer um tal bruguelo de mais ou menos cinco quilos. Com tudo ajeitado, o doutor chama o Coronel Pajuçara para lhe passar recomendações:
Doutor – Coroné Pajuçara! Foi um parto difícil e sofrido, mas graças a Deus deu tudo certo. Só tem um porém. Acontece que sua esposa não poderá mais engravidar. Se embarrigar, morre.
Dali pra frente, ouvindo os conselhos do doutor, o casal passou a dormir em quartos separados. E o tempo também passava. Um mês, dois meses, três meses, até que numa noite enluarada, lá pelas três horas da madrugada, eis que a cumadre se encaminha rumo ao quarto do coroné. Bate à porta e, num sussurro esquisito, chama:
Cumadre (chamando) – Pajuçara! Pajuçara!
Coroné (roncando) – Rrrrrsssss…
Cumadre (mais alto) – Pajuçara! Ô Pajuçara! Acorda, marido!
Coroné (num susto) – Ah??! Quem é? Quem tá aí?
Cumadre (ainda num sussurro tremido) – Sou eu. A Maria. Abre logo essa porta.
Coroné (estranhando) – Ué? Que ocê qué, muié???
Cumadre (num som espichado) – Eu quero morrrrrê!