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Maria Curupaiti. Arte de Saulo Pfeiffer |
Alexsandro
Acioly
(Pesquisador
e Historiador - CPDOC/PAJEÚ)
Antes de falar na nossa heroína
pajeuzeira vamos fazer uma breve recapitulação da Guerra do Paraguai.
Pois bem. A Guerra do Paraguai ocorreu
entre os anos de 1864 e 1870 entre Argentina, Brasil e Uruguai, que formavam a “Trílplice Aliança”, por motivos
políticos, econômicos e territoriais contra o Paraguai do ditador Francisco
Solano López.
Brasil e Paraguai já vinham com
alguns desentendimentos mesmo antes do início da guerra, pois já havia uma
disputa entre os dois países em relação ao território onde hoje situa-se o
estado do Mato Grosso do Sul. Além disso, existia também outro desgaste em
relação à navegação da Bacia Platina, onde o Brasil era a favor da livre
navegação e o Paraguai de López era contrário.
Quem sabe se a ideia de Solano em não querer a navegação nesse trecho não fosse
relacionado ao fato de o Paraguai ser o único País ao Sul da América do Sul que
não tem acesso ao mar?
E
o que danado era essa Bacia Platina?
Peraí que nós vamos dizer. A Bacia Platina é a segunda maior bacia
hidrográfica do Brasil, perdendo apenas para a Bacia Amazônica, e é formada
pelos rios Paraná, Uruguai e Paraguai. E o danado do Solano sem querer que
ninguém navegasse nessas águas, já pensou?
Até
aí tudo bem, mas onde danado entra o Pajeú e essa tal mulher?
Bora simbora.
A Vila de Flores e a Guerra do Paraguai
Naquela época o país vivia uma
gangorra entre liberais e conservadores e Flores convivia com esse sobe e desce
do poder, principalmente por conta da sua extensão territorial no período.
Mas o fato é que em Flores os acontecimentos do conflito na região platina
passava despercebido, pois os acontecimentos na região eram outros totalmente
diferentes do que se passava na região Sul do Brasil.
Coincidentemente, por causa de dois
filhos do Capitão Antônio Lopes de Siqueira Braga, por nomes de Lúcio e Raimundo
Lopes de Siqueira, que viviam afrontando
e agredindo os cidadãos de bem daquela região e também da Ingazeira, Flores
passa a ser bastante citada. A partir do ano de 1865, por conta desses e de outros
acontecimentos, a Vila começa a ser indagada com insistência sobre a organização
de um “Corpo de voluntários da Pátria” na zona do Pajeú para seguir para os
campos de batalha do Paraguai.
Vale salientar que o trabalho de
recrutamento foi muito polêmico, pois a família Campos, segundo é citado no
livro Flores do Pajeú, de Belarmino de Souza Neto, tinha alguns adversários rancorosos que em contato com jornais da época faziam acusações de que alguns recrutados não
eram voluntários. Estes eram chamados de “Voluntários da Corda”, por seguirem
amarrados para os postos onde eram designados. Essa era a situação na região de
Flores.
Maria
Francisca da Conceição
Em 1866 Maria era uma criança com
apenas 13 anos,. Mas em meio a tão tenra idade, ela se apaixona por um
soldado de esquadra com o qual nesse mesmo ano se casa na pequena capelinha
rústica do lugarejo (Revista Cruz Vermelha – Setembro de 1943).
Já casado, o então cabo e esposo da
nossa Maria é convocado para o combate do Forte Curuzú e é a partir daí que a
nossa heroína começa a sua trajetória notável.
O pelotão onde estavam Maria e o
seu esposo era comandado pelo então Conde de Porto Alegre, Manoel Marques de
Sousa. Esse proibiu que todas as mulheres seguissem os esposos para a batalha
citada no parágrafo anterior. Maria infringe todas as regras e raspa a cabeça,
consegue um uniforme e por ter uma estatura magra, baixa e aparentando pouco
vigor físico, passa despercebida entre os comandantes e soldados (menos pelo seu
grande amor) que nada pode fazer para que ela não seguisse junto com a tropa.
Batalha
de Curuzú
Essa
batalha foi travada entre os dias 1 e 3 de setembro de 1866, meses depois da
vitória da esquadra na batalha de Tuiuti, vencida pelos aliados que faziam a Tríplice Aliança. O Forte de Curuzú ficava do lado esquerdo do Rio Paraguai, em
território paraguaio. Batalha dolorosa
para Maria, que perdeu o esposo e jurou vingança. Em meio a tantos mortos, ela se
despede do amado e se embrenha na luta. A baioneta fez aflorar o sangue
sertanejo que até então não havia sido
colocado à prova. Isso a faz ganhar a admiração de todos, tamanha a sua bravura.
Após a vitória, seguem rumo ao Forte de
Curupaiti, lugar que dera nome a nossa Maria por lutar tão bravamente e onde
será descoberta após ser ferida durante o combate. Tanto o Forte Curuzú quanto
o Curupaiti serviam de defesa avançada da fortaleza de Humaitá.
Batalha de Curupaiti
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Posicionamento dos fortes e da fortaleza de Humaitá |
A Batalha de
Curupaiti, comandada pelo General Guilherme Xavier de Sousa, comandante do 2º Corpo do Exército Brasileiro, teve início em 22 de setembro de 1866 e lá estava
a pajeuzeira em mais outra batalha sangrenta. A essa altura Maria não só devia
estar com o desejo de vingança como, também, já havia de ter incorporado o
patriotismo que muitos dos soldados carregavam consigo. Mas frente a sua
coragem em tentativa de avanço perante as tropas inimigas Maria tomba ferida e
é socorrida por soldados para que fosse feito os primeiros socorros. É nesse
momento que a pernambucana do Pajeú das Flores é descoberta. A partir desse
momento Maria Francisca da Conceição passa a chamar-se: Maria Curupaiti, em alusão a sua bravura nos campos
de batalha de Curuzú, Tuiuti e Curupaiti.
Segundo alguns jornais a agora Maria
Curupaiti, ainda combateu na Batalha de Tuiuti.
Muitos não
sabem, mas Curupaiti tem tudo a ver
com a nossa guerreira e com a nossa região. O significado de tal palavra vem do
tupi-guarani e pode significar literalmente:
-¨a água do angico¨ (curupaí+ti)
-¨lugar abundante em angicos¨ (curupaí+ti(ba)¨.
O certo é que
Maria Francisca da Conceição voltou ao Brasil, mas nunca ao sertão onde nascera, sendo encontrada na década de 1930 perambulando pelas ruas do Rio de
Janeiro, onde viria a falecer tempos depois. Em 26 de Junho de 1938 o Jornal O
Dia, do Paraná, publica em uma de suas páginas uma homenagem feita a Maria
Curupaiti pelo 15º Batalhão de Caçadores em Curitiba – PR. Curupaiti foi também
homenageada por outros periódicos em meados do século XX, como também, uma
homenagem foi feita pela cidade de São Paulo, com o nome de uma das
suas ruas na Vila Ester, Zona Norte da capital.
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Vila Ester - SP e a Rua Maria Curupaiti |
O nosso angico da guerra do
Paraguai é merecedora de todas as homenagens recebidas. Pena não terem sido
feitas com ela ainda em vida.
Repetindo o grito de guerra dos
soldados que a homenagearam no 15º Batalhão de Caçadores, em maio de 1930:
“Aqui
está Maria Curupaiti – Avante!"