terça-feira, 31 de agosto de 2021

agosto 31, 2021 Por Alexandre Morais Sem comentários


 

O dia em que o Pajeú foi bater na Amazônia - Parte 1

agosto 31, 2021 Por Alexandre Morais Sem comentários

Por Lindoaldo Campos
Mestrando em História dos Sertões - Membro do CPDoc-Pajeú

   Conhece esse cantador de viola?


   E esse lugar?

Fachada e interior do Teatro Amazonas


   O estilo arquitetônico é renascentista, com detalhes ecléticos. Na área externa, a famosa cúpula chama a atenção pela exuberância, composta por 36 mil peças nas cores da bandeira brasileira, importadas da Alsácia, na França. A maior parte do material usado na construção do teatro foi importada da Europa: as paredes de aço de Glasgow, na Escócia; os 198 lustres e o mármore de Carrara das escadas, estátuas e colunas, são da Itália.

   O salão de espetáculos tem capacidade para 701 pessoas, distribuídas entre a plateia e três pavimentos de camarotes. Impossível não ficar hipnotizado com o teto côncavo, no qual estão quatro telas pintadas em Paris pela tradicional Casa Carpezot. As telas representam música, dança, tragédia e ópera. Esta última, uma homenagem ao compositor brasileiro Carlos Gomes. Ao centro, um majestoso lustre de bronze francês. Também não passam despercebidas as máscaras nas colunas da plateia, que homenageiam compositores e dramaturgos, entre eles, Aristophanes, Molière, Rossini, Mozart e Verdi.

   Pois é: quem é curioso já foi atrás de saber que esse é o Teatro Amazonas, e a página https://cultura.am.gov.br/portal/teatro-amazonas/ ainda diz mais:

   Principal símbolo cultural e arquitetônico do Estado, o Teatro Amazonas, localizado no Largo de São Sebastião, no Centro de Manaus, mantém viva boa parte da história do ciclo da borracha, época áurea da capital amazonense. Inaugurado no dia 31 de dezembro de 1896, o Teatro surpreende e encanta pela imponência.

   Agora feche os olhos (agora mesmo não, só depois de ler mais esse pedaço) e imagine alguém vestido de smoking (isso mesmo: um traje chic de cerimônia), sozinho no palco do Teatro Amazonas apinhado de gente que não foi lá pra outra coisa não: só pra ouvir ele declamar e improvisar poesias.

   Pois esse alguém, esse mesmo do retrato lá do começo, foi Rogaciano Leite. Isso mesmo: o autor de Carne e Alma, que publicou em 1950 (em breve, será publicado o livro Coração Sertanejo, com algumas de suas poesias inéditas), com muitos poemas compostos na Amazônia (que, ao contrário do que muita gente boa pensa, no Brasil não é composta apenas pelo Estado do Amazonas, mas por 772 municípios distribuídos também pelos Estados de Rondônia, Acre, Roraima, Pará, Amapá, Tocantins, Mato Grosso e Maranhão – e Rogaciano apresentou-se em quase todos eles!).

   Isso mesmo: a terceira parte de Carne e Alma é intitulada Lianas Amazônicas, onde está o poema Imortalidade, com o qual simbolicamente fecha o livro e dedica ao Teatro Amazonas em que o poeta diz que vivem o Tempo, o Gênio e a Arte e canta na derradeira estrofe:

  Que templo!… Que Babilônia
   Se levanta na Amazônia
   À luz da Imortalidade!
   – Um prêmio aos dotes humanos…
   – Um desafio a mil anos…
   – Um presente à Eternidade

  Ora, ora, ora: foi justamente aí que o Pajeú foi bater na Amazônia, nesse caso mais precisamente no Teatro Amazonas, onde o poeta pajeuzense apresentou-se pela vez primeira no dia 6 de fevereiro de 1948 (ou seja, com 28 anos de idade, nascido que foi em 1º de julho de 1920, na região de Cacimba Nova, atualmente pertencente ao Município de Itapetim/PE e à época de seu nascimento pertencente ao Município de São José do Egito/PE), com direito a convite destamanho estampado nos jornais, e tem mais: com assinatura e pose de galã (sabia que Rogaciano foi inclusive convidado pra fazer o papel de Castro Alves em um filme sobre o poeta baiano?).
   Quer ver, veja esse convite publicado na primeira página da edição de 13 de outubro de 1949 do jornal Alto Madeira, de Porto Velho, capital do então Território Federal do Guaporé, atual Estado de Rondônia, onde aparece bem no meio, circundado por notícias sobre acontecimentos ligados à recente Segunda Guerra Mundial – daí você tenha noção a importância do convite:

   Mas veja bem (como dizia o saudoso Antônio de Catarina): essa foi a primeira apresentação de Rogaciano Leite no Teatro Amazonas, porque essa história de viola em teatro começa mais pratrásmente (como dizia Odorico Paraguaçu), porque já em 30 de maio de 1943 ele tinha cantado no cineteatro Cinearte, em Maceió, capital de Alagoas, fazendo dupla com o cantador Pedro Lima, conhecido como Ordep (o precursor de Ojuara?).

   Além do mais, Rogaciano também já havia se apresentado no Teatro José de Alencar, em Fortaleza, capital do Ceará, sua segunda terra-mãe onde foi viver no final de 1944 como ele mesmo afirmou muito por causa do cordel Iracema: a virgem dos lábios de mel, escrito por Alfredo Pessoa de Lima em 1927 como adaptação do romance Iracema, de José de Alencar.

   Como diz o pesquisador Alberto Porfírio em seu livro Noites de viola na Casa de Juvenal (p. 7) foi aí que teve início a Era Rogaciano Leite:

   Nos anos 40, 50 e parte dos anos 60 o Ceará viveu a Era de Ouro dos cantadores de viola, que nós optamos por chamar aquele período de a Era Rogaciano Leite, por ter sido o primeiro cantador intelectual que esteve em nossa região. Antes, a cultura cearense era outra. Os cantadores podiam ganhar dinheiro e fama mesmo sendo analfabetos.

   Pois bem: depois de muito ter pelejado (em vários sentidos da palavra), no dia 10 de fevereiro de 1945 os cantadores Rogaciano Leite e João Siqueira de Amorim Leite apresentam-se no palco do Teatro José de Alencar

Fachada e interior do teatro José de Alencar


   Quer ver, veja o cartaz estampado no Jornal O Povo (CE) de 10/02/1945:


   Depois, no dia 10 de abril de 1946, nesse mesmo teatro o poeta organizou o Festival Rogaciano Leite, que contou com a participação especial do afamado cantador Cego Aderaldo (que havia conhecido no ano anterior e de quem se tornou grande amigo), que tomou “parte também em interessantes desafios de improviso com o promotor da festa da arte” (Jornal Unitário (CE), 04/04/1946).

Jornal Unitário (CE) 04/04/1946

   Cansou, foi? Pois canse não que até bater na Amazônia o Pajeú tem mais e muito mais: em Fortaleza, Rogaciano participou ativamente do Violão Clube do Ceará, onde conheceu o compositor, acordeonista e pianista Lauro Maia, que, influenciado também pela poesia e pelo ponteado de sua viola (precisamente chamado de baião de viola), criou um ritmo chamado “balanceio” que influenciou a criação do gênero musical conhecido como baião, de que é Doutor Humberto Teixeira e Rei Luiz Gonzaga.

   Não sou eu quem digo não: é o também saudoso musicólogo José Ramos Tinhorão que diz em sua preciosa Pequena história da música popular (p. 251-252):

O ritmo do baião nordestino, transformado em gênero de música popular urbana a partir de meados da década de 1940, graças ao trabalho de estilização do acordeonista pernambucano Luís Gonzaga e do advogado cearense Humberto Teixeira (“Eu vou mostrar pra vocês / Como se dança o baião / E quem quiser aprender / É favor prestar atenção”, dizia o pioneiro “Baião”, de 1944), tem sua origem num tipo de batida à viola denominada exatamente de baião.

   [Ao iniciar-se a década de 1940], um grande e injustamente pouco conhecido maestro compositor cearense, Lauro Maia (1913-1950) descobriu a riqueza desse manancial de música nordestina e começou a compor num ritmo que chamava de balanceio […]

   Em um artigo intitulado “Baião”, escrito especialmente para a revista Boletim Social da UBC (União Brasileira dos Compositores), de julho a setembro de 1949, Humberto Teixeira, um dos criadores do baião urbano, ia reconhecer implicitamente a importância dessa precedência, ao incluir uma longa enumeração de particularidades nordestinas capazes de explicar o baião: “Estrofes de Rogaciano Leite… O balanceio de Lauro Maia… A viola do cego Aderaldo…”

   Mas eita que a conversa encompridou, ainda estamos no Ceará, demos um revorteio por Exu e faltou até dizer que Rogaciano Leite realizou o Primeiro Congresso de Cantadores nesse mesmo Teatro José de Alencar… Ou será que o primeiro congresso de cantadores foi no Teatro Santa Isabel, em Recife?

   Tem nada não: como o Pajeú ainda vai correr muito pra bater na Amazônia e lá é que vai correr mesmo, fica aqui apalavrado que logo logo a gente pega nessa deixa e paga o verso percorrendo o segundo trecho dessa história arretada que é de todos nós.

Começa montagem de projetor do Cine São José

agosto 31, 2021 Por Alexandre Morais Sem comentários


Do Blog do Nill Júnior

   Começou hoje (31/08/21) a última etapa para retomada das atividades no Cine Teatro São José, patrimônio cultural e histórico de Afogados da Ingazeira - PE.

   A montagem do moderno projetor digital adquirido este ano está sendo coordenada por Alexandre Barros, da empresa Base Post , fornecedora do equipamento. A ideia é de que o Cine retome as exibições em outubro, no mês de aniversário da Rádio Pajeú.

  A iniciativa de aquisição foi puxada por Fundação Cultural Senhor Bom Jesus dos Remédios, Secretaria de Cultura, Fundarpe e Prefeitura de Afogados da Ingazeira. O custo foi de R$ 219 mil, com R$ 119 mil custeados pela Fundação e R$ 100 mil divididos entre Prefeitura de Afogados,  num projeto de atividades culturais e Empetur, este último a ser repassado.

   Além de Alexandre,  Arthur Abdon (Cine São Luiz), Richard Soares e William Tenório, da Pajeú Filmes, dão suporte a essa importante etapa.

  Em paralelo, estão sendo feitos reparos, tratamento no emadeiramento, nova pintura, adesivação com linha do tempo, revisão no ar condicionado e adaptação de tela para receber os filmes.

   O Cine São José é um patrimônio do município inaugurado em 1942, fechado em 1994 e reinaugurado no final de 2003. Pertence a Diocese de Afogados da Ingazeira, gerido pela Fundação Cultural Senhor Bom Jesus dos Remédios.

   Em sua rede social, o Cine São José avisou que “a sirene vai voltar a tocar”, alusão ao sinal sonoro que anuncia a proximidades das sessões, uma sirene que pode ser ouvida de qualquer ponto da cidade de Afogados da Ingazeira.

segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Webprograma “Conexões literárias” discute a importância do cordel

agosto 30, 2021 Por Alexandre Morais Sem comentários

 

Ana Ferraz - Editora Coqueiro

   Ancorado no tema “Por dentro do verso: o Cordel em perspectiva”, o programa Conexões Literárias deste mês conversa com o escritor Damião de Andrade Lima, autor do livro Redes de Poesia, recém-lançado pela Cepe, e com a editora Ana Ferraz, da Coqueiro Editora, especializada em cordel. A literatura dos folhetos é Patrimônio Cultural Imaterial desde 2018, porém ainda não é trabalhada devidamente nas escolas, nem é reconhecida como gênero literário pela academia, onde nunca houve nenhum representante do gênero popular e tipicamente nordestino e pernambucano. O bate-papo será mediado pelo coordenador de Literatura da Secult-PE/Fundarpe, Roberto Azoubel. Parceria entre a Secult-PE/Fundarpe e a Cepe, o Conexões Literárias acontece na próxima terça-feira (31), às 19h, nos canais da Cepe e da Secult-PE/Fundarpe, no YouTube.
  Um dos mais festejados da nova geração de poetas do sertão do Pajeú, Andrade Lima pretende abordar o surgimento da literatura de cordel e a sua importância no âmbito educativo, “no intuito de fomentar a nossa literatura, tornando-a cada vez mais sólida, ampla e valorizada, principalmente pelas políticas públicas, com projetos culturais”, declara Andrade Lima. Segundo o escritor, a escola é uma das principais portas de entrada para a arte e os artistas, através da poesia popular, “uma leitura prazerosa por meio do cordel”, diz o poeta.

Andrade Lima - Poeta


  “A literatura de cordel é um veículo de comunicação de extrema importância para uma sociedade mais justa, formadora e plena, diante do cenário literário”, escreveu Andrade Lima na apresentação do livro Redes de Poesia. A obra integra o trio de títulos da Coleção Pajeú, que a Cepe Editora lançou em junho com o objetivo de difundir a poesia produzida naquela região do Estado, bem como a literatura de cordel: a Cepe publicou três cordéis que vão de brinde para o leitor que comprar um dos três títulos da coleção: “Meu eu sertanejo, Mesas de Glosas”, da 1ª Feira de Poesia do Pajeú, além do já citado “Redes de Poesia”. “Comadre Florzinha e o Caçador”, de Wellington Santos Rocha; “A Incrível História do Menino Mandacaru”, de Odilia Renata Gomes Nunes; e “Gênesis”, a origem do cangaço feminino, de Thaynnara Alice Queiroz Pessoa, são os três cordéis da promoção. As ilustrações foram criadas pelo gráfico, poeta e artífice Lourenço Gouveia. À venda nas lojas físicas e no site: www.cepe.com.br.
   Roberto Azoubel considera uma honra falar sobre o cordel. “A literatura de cordel é um universo muito particular, principalmente porque essa expressão se dá sobretudo no Nordeste brasileiro. É também um universo riquíssimo em todas as cadeias de que a literatura pode dispor, desde a criação até a mediação, já que muitos desses folhetos são lidos em feiras públicas”, declara o coordenador de Literatura da Secult-PE/ Fundarpe, que pretende esclarecer ao público como se encontra o cordel atualmente, quais as suas formas mais usuais, e como as escolas abordam esse fascinante gênero literário.
   Ana Ferraz, da editora Coqueiro, adianta que os professores não estão preparados para trabalhar essa literatura em sala de aula. Segundo ela, as escolas preferem chamar um cordelista para falar sobre o cordel. “As escolas estão presas a dois ciclos do cordel: o junino e o folclórico”, lamenta a editora, avaliando que é preciso, portanto, maior reconhecimento do cordel através de políticas públicas, editais culturais voltados para o cordel e espaços para discutir o gênero, que não é folclórico, ao contrário do que as escolas ainda difundem. “É preciso oferecer mais oficinas literárias para os educadores e tornar o cordel matéria obrigatória em sala de aula”, sugere a editora, ressaltando a importância atual do cordel institucional. “As empresas querem contar suas histórias na linguagem popular”, diz ela.
   Ana também analisa que não há espaço nas livrarias para o gênero literário nordestino e principalmente pernambucano. “Isso dificulta a cadeia produtiva, o xilogravador, os poetas, as editoras, o distribuidor”. Segundo Ana, as academias brasileiras de letras ignoram essa literatura, que não é reconhecida como gênero literário “criativo, inventivo e em consonância com o imaginário”“Não há nenhum cordelista membro da academia”, destaca Ana, lembrando também a maior representatividade atual da mulher cordelista. “Ao longo de décadas, era uma literatura só para homens, apesar da cordelista pioneira, a paraibana Maria das Neves Baptista (1913-1994), que tinha que usar pseudônimo masculino”, ressalta Ana.
  Atualmente, segundo a editora, “temos dois tipos de cordelistas: os mais tradicionais, que mantêm todo o cuidado com a literatura do ponto de vista das origens, da forma fixa, e os contemporâneos, que trazem o cordel com formato diferenciado, folhetos mais curtos”, explica Ana, ressaltando as três formas fixas mais trabalhadas no cordel hoje: sextilhas, setilhas e os decassílabos”.


HISTÓRIA - Também conhecido como folheto ou literatura popular em verso, o cordel teve origem no século XVI, época do Renascimento na Europa, em que se popularizou o registro impresso de relatos orais. Seu nome se origina da forma como tradicionalmente os folhetos eram expostos para vendas em Portugal, pendurados em cordas, cordéis ou barbantes.

Serviço:
Programa Conexões Literárias Por dentro do verso: o cordel em perspectiva, com Damião Andrade Lima, Ana Ferraz e Roberto Azoubel
Quando: 31 de agosto de 2021 (terça-feira), às 19h
Transmissão pelos canais: youtube.com/secultpe | youtube.com/cepeoficial

agosto 30, 2021 Por Alexandre Morais Sem comentários


 

domingo, 29 de agosto de 2021

Milton Oliveira - Crônicas do Tempo

agosto 29, 2021 Por Alexandre Morais Sem comentários

  Confissão

Milton Oliveira

  Para quem gosta de ler, não é surpresa alguma se deparar com toda sorte de informações, as quais, de alguma maneira, poderão acrescentar algo importante, curioso, extraordinário ou até mesmo interessante. Li, há poucos dias, que o médico britânico, Richard Smith, considera que, dos vários males que podem exterminar nossa vida, o câncer é o melhor deles, porque o enfermo pode se despedir dos parentes e amigos, dos prazeres, rever locais antigos, perdoar a quem julgar digno de perdão, partir para o andar de cima com mais serenidade. Mais ou menos isso. E fiquei até tarde da noite me virando na cama, sem sono.

   Estou no rol das pessoas que foram atingidas pelas garras dessa doença tão temida, e agradeço a Deus por me conceder essa experiência. Não se trata de fanatismo, de uma espécie moderada de ausência de lucidez, não. De forma alguma! Tenho consciência da evolução da vida e da consequência fatal que aguarda a todos nós. Por acreditar num ser superior que me deu a vida, como deixar de reconhecer o direito dessa dádiva voltar para onde veio?

   Quedando-me em reflexões, descubro-me, ansioso, com o desejo de rever alguns parentes a quem defiro sincera amizade, pessoas que moram noutras localidades e que nunca mais nos avistamos. Igualmente, gostaria de abraçar alguns amigos queridos, com os quais usufrui os melhores anos da minha infância e adolescência. Os colegas do internato e inúmeros outros que a vida me presenteou ao longo dos últimos anos. Ah! Como seria bom encontrá-los! Mas não pretendo, com isso, despedir-me deles; desejo revê-los, apenas, porque não será esse o momento do adeus. Todos nós adoecemos, seja do que for, e isso não quer dizer que é chegado o fim.

   Sempre fui sentimental, assumido mesmo, desses que não gostam de entabular relacionamento sem que haja um pouco de ternura. A bem da verdade, sempre dei preferência ao enlevo de sentir o coração bater mais apressado, em face da ternura de um olhar recheado de interesse. Como fui criticado por isso! Às vezes de forma desapiedada, a censura velada transmudando-se em inverdades, em acerbas críticas sem fundamento algum, em insultos desnecessários. Noutras, porém, desfrutei da compreensão daqueles que não concordavam comigo, mas me deixaram de lado.

   Aprendi, entre outras coisas, que a felicidade é não guardar rancor, e o perdão é um bálsamo para o espírito. A leveza da alma é um tesouro inestimável.

  Censurar o próximo é uma imaturidade ímpar. Todos nós temos imperfeições, e muitas!, mas isso não pode ser motivo de condenação, de execração, de insultos graciosos. Aquele que se compraz em rotular as pessoas, padece de miopia quanto ao seu comportamento, porque, mesmo cometendo o que critica nos outros, julga que ninguém sabe de suas falhas, ou que elas são menores que as alheias, e não é bem assim.

  Quem não comete atrocidades com o poder da mente? Fantasias sexuais, adultérios, vinganças, maledicências inconfessáveis. Nem por isso deixamos de ser íntegros e bons, dignos do apreço dos nossos pares. A intimidade é uma particularidade dimensionada de acordo com a cultura de cada um. Viva a sua, aproveite-a intensamente, seja feliz, sem a menor censura, porque a soma de suas experiências definirá os matizes da sua existência.

Publicado originalmente no Blog do Finfa

Pessoal do Ceará: nossos ídolos ainda são os mesmos

agosto 29, 2021 Por Alexandre Morais Sem comentários

Belchior e Ednardo - Foto: Arte Louise Dutra


Por Luã Diógenes / Diário do Nordeste

   No último dia 15 de Agosto vivi uma alegria fora do comum, encontrei o compositor Ednardo no Passeio Público. Semanas após escrever sobre a relação do artista com aquele espaço sagrado dentro da cidade, a emoção de encontrar um ídolo foi notória e selada em um abraço apertado

  Desde então, a atemporalidade da música parece ter ficado mais clara na minha mente. Eu sou prova viva de que para a arte não existe limitação ou factualidade. Agora, o pesquisador Renato Vieira descobre músicas do nosso eterno Antônio Carlos Belchior inéditas do grande público e com várias parcerias maravilhosas, os meus olhos chegam a brilhar.

Além da validação riquíssima de um repertório desconhecido, o resgate dessas canções também rememoram o mais importante movimento musical no Estado que é chamado de “Pessoal do Ceará”. 

   O próprio Ednardo pretende lançar novo álbum e dentre uma das faixas a “Bip bop” feita em parceria com o amigo Bel. Ainda na onda das composições inéditas do “Rapaz Latino Americano”, Raimundo Fagner também já organiza projetos rememorando tal repertório do conterrâneo. É revigorante assistir artistas como Fausto NiloClimério, Rodger RogérioTeti e outros astros do nosso universo artístico voltarem a ser manchetes nacionais.

CEARENSE TAMBÉM É MUSICAL

 Para compreender a importância do “Pessoal do Ceará” dentro do Estado é preciso compreender o período no qual o grupo surgiu. No início da década de 1970, várias agremiações de jovens em todo país, envoltos pelo desejo de luta por liberdade, encontraram na arte uma forma de contestação.

  O Brasil passava por um regime ditatorial desde 1964, o autoritarismo dominava os mais altos comandos governamentais. Nesse cenário de euforia por justiça e, mesmo que alguns negando, foram influenciados pelo movimento Tropicalista, percursor nessa luta pela desconstrução do estabelecido.

 Surge “Os Novos Baianos” na Bahia, em Minas Gerais aparece o “Clube da Esquina” e, mesmo sem nomenclatura específica, Elba e Zé Ramalho, Alceu Valença e Geraldo Azevedo são lançados na Paraíba e Pernambuco como uma agremiação de similaridades musicais.

  Um pouco tardio em parâmetro nacional, mas dentro do mesmo contexto, jovens em sua maioria universitários da classe média fortalezense começam a se apresentar em festivais na Universidade Federal do Ceará.  As confraternizações começaram a avançar nas madrugadas em centros boêmios como nos bares do Anísio e o Estoril.

   Além dos artistas já mencionados, outros nomes também se destacavam, como Ricardo Bezerra, Petrúcio Maia, Brandão e Augusto Pontes. Até o Ceará ficou pequeno para todo aquele talento. Após temporada no Centro-Oeste, o Eixo Rio-São Paulo virou uma realidade entre eles, aliás, de todos aqueles que desejavam conquistar algum sucesso.

  O Grupo foi bem sucedido, Rodger Rogério, Teti, Ednardo e Belchior chegaram a ter programa de Televisão, aliás, atração impulsionou o surgimento primeiro disco dos jovens (com exceto Belchior que não participou por questões de gravadoras divergentes) vistos como grupo: Pessoal do Ceará, Meu corpo minha embalagem todo gasto na viagem.

REFERÊNCIAS ETERNAS

   Mesmo tendo seu apogeu nos anos de 1970 1980, nossos cantores seguem desfrutando de prestígio e carinho no coração de inúmeros fãs e admiradores. As gerações passaram mas as músicas seguem imortalizadas pele o tempo e público, sinal, que todo esse trabalho é de uma qualidade incrível. 

 O Pessoal do Ceará, banhados de bossa novarockpopmaracatusamba e tantos outros ritmos que fazem sons maravilhosos, continua sendo referência de como é produzida a boa música e o quão a juventude precisa aguçar a escuta para entender o que precisa ser feito na construção do futuro.

  Repito o que já escrevi muitas vezes, nem tudo está perdido, dentro da nova safra temos Bárbara SenaLigia MariaNayra CostaMarcos Lessa Ludmila Amaral. Temos excelentes vozes e bons compositores, mas tudo isso se reflete dentro da conjugação de ídolos que revelam a diversidade e beleza do Ceará.

  Espero, em breve, voltar a falar destes artistas em seus projetos consolidados, álbuns e livros já em lançamento. Reviver os bons cantores não é rememorar saudosista, e sim saber em qual linha devemos seguir para depois reinventar.

Publicado originalmente em https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/opiniao/colunistas/lua-diogenes/pessoal-do-ceara-nossos-idolos-ainda-sao-os-mesmos-1.3128875

Filme retrata encontro entre contador de histórias africano e comunidades quilombolas

agosto 29, 2021 Por Alexandre Morais 1 comentário

Foto: Paula Vanina

Da Folha de Pernambuco

   O curta-metragem pernambucano “Do Burkina Faso a Terras Quilombolas: um encontro pela oralidade" ganha lançamento neste domingo (29), às 16h, no canal de YouTube da artista Laura Tamiana, uma das idealizadoras do projeto. O filme retrata a realização do projeto homônimo, que promoveu o encontro entre um contador de histórias africano e comunidades quilombolas do Sertão do Pajeú.

   O contador de histórias e ator François Moïse Bamba, natural do Burkina Faso, país da África Ocidental, esteve em Pernambuco no início de 2020. Na época, ele conheceu as comunidades quilombolas Abelha, Travessão do Caroá, Gameleira e Brejo de Dentro, do município de Carnaíba.

   Ao longo de oito dias, Bamba conduziu uma programação que incluía atividades e momentos cotidianos, espaços para o artista e os moradores das quatro comunidades partilharem mutuamente suas heranças e vivências na tradição oral. Com incentivo do Funcultura, o projeto foi concebido e realizado pelas artistas e produtoras Laura Tamiana e Karuna de Paula, residentes em Recife, em parceria com Edna Andrade, liderança quilombola, além da Comissão Quilombola do Caroá. 

   A artista Paula Vanina foi convidada para vivenciar a imersão e fazer o registro audiovisual do encontro. Ela assina as imagens, roteiro e edição do curta. O filme será exibido com legendas em francês, possibilitando também o acesso aos conterrâneos do contador de histórias. 

Publicado originalmente em https://www.folhape.com.br/cultura/filme-retrata-encontro-entre-contador-de-historias-africano-e/195524/

sábado, 28 de agosto de 2021

Arte Brasileira

agosto 28, 2021 Por Alexandre Morais Sem comentários

 


  A história humana não se desenrola apenas nos campos de batalhas e nos gabinetes presidenciais. Ela se desenrola também nos quintais, entre plantas e galinhas, nas ruas de subúrbios, nas casas de jogos, nos prostíbulos, nos colégios, nas usinas, nos namoros de esquinas. Disso eu quis fazer a minha poesia. Dessa matéria humilde e humilhada, dessa vida obscura e injustiçada, porque o canto não pode ser uma traição à vida, e só é justo cantar se o nosso canto arrasta consigo as pessoas e as coisas que não tem voz.

Texto: Ferreira Gullar

Arte: Gildásio Jardim

Fonte: Arte Brasileira