sábado, 26 de novembro de 2022

Após 46 anos, filho pedala 3 mil km para encontrar o pai no sertão nordestino

novembro 26, 2022 Por Alexandre Morais Sem comentários
Agnaldo José de Oliveira, 47, reencontra o pai, Zé do Pífano, com quem tinha estado pela última vez quando tinha 1 ano de idade - Adriano Alves/UOL
Agnaldo José de Oliveira, 47, reencontra o pai, Zé do Pífano, com quem tinha estado pela última vez quando tinha 1 ano de idade Imagem: Adriano Alves/UOL

 Por Adriano Alves / Portal Uol

Colaboração para o TAB, de Lagoa Grande (PE)

   A rotina no lote de seu Zé do Pífano, figura conhecida da Ilha do Pontal, em Lagoa Grande (PE), tem sido mais agitada nos últimos dias. Além das atividades de costume, nos cuidados com a roça e a casa, um visitante especial deixou os dias mais intensos. É churrasco no domingo para reunir toda a família, roda de música nos intervalos de trabalho e bastante falatório, daqueles de quem tem muita história para atualizar.

   A comunidade ribeirinha, situada no meio do Rio São Francisco, foi a última parada de uma longa viagem que Agnaldo José de Oliveira, 47, fez em cima de uma bicicleta. Ele saiu de Joinville (SC) e pedalou por 2.970 km em uma "cargueira" até chegar ao distrito Vermelho, na cidade pernambucana situada a 662 km de Recife. O objetivo era reencontrar o pai, que não via desde que tinha um ano de idade.

   A visita foi uma grande surpresa. Sem ter feito nenhum contato prévio à aventura, Agnaldo só tinha como pista o nome do pai e da comunidade em que ele residiria. Já nas margens do Velho Chico, começou a pedir ajuda. "Me leva pra encontrar meu pai, José Inácio de Oliveira", dizia e ficava sem respostas dos mais desconfiados. Até que um dos moradores abordados retrucou: "Sabe com quem você está falando? Pois, eu sou seu irmão". Era João José da Conceição Oliveira, 27, filho mais novo do patriarca procurado, que trabalha nas barquinhas que fazem travessia para a ilha. O momento foi de muitos abraços e lágrimas.

Ciclista pedala 3 mil km para encontrar o pai - Adriano Alves/UOL - Adriano Alves/UOL
A rústica 'cargueira' usada por Agnaldo para ir de Joinville (SC) à Ilha do Pontal, em Lagoa Grande (PE)
Imagem: Adriano Alves/UOL

Saudade grande demais

   "Eu vou conhecer meu pai", gritava Agnaldo durante o trajeto que, depois do barco até o outro lado da margem, foi concluído na garupa da moto do irmão. A pressa foi tanta que fez a bicicleta ficar na barca mesmo, "porque a saudade já era grande demais". O pai, que estava na roça, sentiu o coração acelerar ao voltar para casa. "Eu tinha certeza que não ia morrer sem ver meu filho", conta emocionado o agricultor de 72 anos.

   Zé do Pífano lembra que quis cuidar do filho, "a intenção era casar com a mãe dele, mas não deu certo", mas a família levou o menino embora. Ele, que era viúvo e tinha sentido a morte de seus dois primeiros filhos ainda crianças, agora sentia falta de mais um que lhe foi tirado. "Quando a gente tem um filho, a gente não esquece", sentencia seu Zé.

   O tempo foi caro para os dois. Agnaldo José lembra que o avô chegou a prometer realizar um encontro, mas faleceu sem conseguir cumprir, em 1994. A próxima notícia do pai chegou apenas em 2012, quando um de seus tios esteve na região para resolver um "problema de terras". Um vídeo que recebeu do pai relatando o sonho de reencontrá-lo foi o combustível que reacendeu em Agnaldo o desejo de voltar à sua terra natal.

   Em 2013, aposentado de seu emprego na construção civil após um acidente de trabalho, ele aproveitou o desconto dado à sua situação para comprar um carro novo na expectativa de fazer a viagem. Entretanto, a até então sua esposa não concordou: "E ela começou a colocar obstáculos". O plano foi adiado por longos anos e só após a separação ele retomou a ideia de cruzar o país em busca de suas raízes.

   Foi na igreja que frequenta que disse ter "recebido um recado de Deus" para fazer a viagem de bicicleta. Dessa vez, não titubeou. A primeira intenção era fazer o trajeto em cima de uma "monareta", que adquiriu como quem realiza um antigo sonho de infância, mas um acidente com ela em setembro deste ano fez o plano ser adiado. "Era pra eu ter trauma de bicicleta, mas nunca desisti", conta. A solução foi pegar a estrada em cima da cargueiro cinza, velha companheira.

Ciclista pedala 3 mil km para encontrar o pai - Adriano Alves/UOL - Adriano Alves/UOL
O viajante guarda registros da viagem: rascunhos de mapas e assinaturas de quem lhe estendeu a mão
Imagem: Adriano Alves/UOL

Estrada longa da vida

   32 dias. Esse foi o tempo em que Agnaldo fez da estrada sua morada. Mesmo sem muita experiência em ciclismo e com 70% de incapacidade do lado direito do tronco — sequela do acidente de trabalho —, cruzou três regiões do país com uma carga de 160 kg, subindo e descendo ladeiras, arriscando-se nos acostamentos das rodovias e acampando em postos de gasolina.

   Os problemas começaram a aparecer ainda no meio do trajeto. Além do cansaço físico, a bicicleta simples não aguentou o tranco — e ele chegou a ficar 24h parado, esperando resolver um problema no pneu dianteiro. Ao seguir viagem, passou por uma estrada de paralelepípedos e, tentando se equilibrar nas duas rodas, não viu o celular cair. Já se passavam 200 km quando notou, pensou em desistir, mas fez o retorno. Encontrou o aparelho estraçalhado e ficou sem comunicação o resto da viagem.

   Em certo trecho, fortes chuvas atrapalharam a jornada. Agnaldo até recebeu propostas de caronas, mas recusou. Para esperar o temporal passar, dormiu dentro de um caminhão baú que transportava colchões.

   Em uma bolsa simples, ele carrega até hoje folhas assinadas por pessoas que conheceu no caminho. São registros afetivos do trajeto, que incluem rascunhos de mapas que iam indicando como seguir em direção a Pernambuco e assinaturas de quem lhe estendeu a mão. Agora, as páginas foram plastificadas — foi a forma que ele encontrou de eternizar os encontros da estrada.

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Entre o irmão João José e o emocionado pai, Zé do Pífano, Agnaldo revê as fotos do reencontro familiar
Imagem: Adriano Alves/UOL

Correndo atrás do prejuízo

   "Yes, my brother", é arranhando um inglês que Agnaldo recebe a reportagem do TAB no quintal da casa de seu pai. De chapéu de couro na cabeça e roupa usada na lida do campo, o ciclista parece já estar bem familiarizado com os costumes da região que acabou de conhecer. "Todo dia eu olho o Rio São Francisco e converso com ele", conta.

   "Painho, maninho, mainha", até o modo de falar sertanejo já está na ponta da língua do filho que a casa torna. Aos poucos tem se inserido na rotina da família, seja correndo com o irmão mais novo, ao qual incentivou a prática de exercícios, ou levando café para o pai na roça, em sua "cabrita" — apelido regional que a bicicleta ganhou.

   No celular, mostra as novas lembranças, fotos com os nove irmãos que não conhecia e com os sobrinhos. "24 horas com ele é só alegria. Depois que ele chegou, é só aventura, ele e o véio", caçoa o irmão aos risos. Nesses dias juntos, o pai tem rodado a comunidade apresentando o filho aos conhecidos. "Todo mundo fala que não precisa de DNA", diz o pai, orgulhoso.

   As semelhanças são claras, ambos calçam o mesmo número, caminham parecidos e gostam de jogar conversa fora. "Até o exame do dedão fomos fazer juntos", brinca Agnaldo, fazendo referência ao temido exame de toque de próstata. Da terra do pai, já lhe foram prometidos 50 pés de manga e uma casa. A ideia é se mudar para a região para aproveitar mais a convivência e, quem sabe, trazer os dois filhos para conhecer o avô.

Ciclista pedala 3 mil km para encontrar o pai - Adriano Alves/UOL - Adriano Alves/UOL
Seu Zé puxa o cavaquinho e a família reunida entoa uma canção: 'Entra na minha casa, entra na minha vida'
Imagem: Adriano Alves/UOL

   Durante a entrevista, o pai chega com uma caixinha de som que toca uma música de pífano, fazendo jus ao seu apelido. É uma gravação de quando ele ainda tinha o instrumento tradicional da cultura popular nordestina. Na sombra dos pés de mangueira, a família se reúne para colocar tantas histórias a limpo e escutar o patriarca e o filho com seus talentos musicais. Seu Zé puxa um cavaquinho e Agnaldo um clarinete. "Entra na minha casa, entra na minha vida", diz um trecho da canção que eles entoam.

   O próximo passo é a troca dos nomes de filiação nos documentos. Agnaldo José foi registrado como filho dos avós maternos, pois a avó não admitia um neto registrado como filho de "mãe solteira". Eles já buscaram orientação jurídica e em breve o desejo será realizado.

   Agnaldo pretende voltar ao Sul nos próximos dias. Quer repetir o feito em cima da cargueira mas, para isso, precisa de equipamentos e quer conseguir um carro de apoio para voltar sem carga e em segurança, além do uniforme adequado para usar nas pistas. "Têm pessoas que olham para si próprio e falam 'eu não consigo'", diz Agnaldo, que é completado pelo pai com "é porque não tem fé".

Copiado de: https://tab.uol.com.br/noticias/redacao/2022/11/25/apos-46-anos-filho-pedala-3-mil-km-para-encontrar-pai-no-sertao-nordestino.htm

segunda-feira, 21 de novembro de 2022

Ademar Rafael - Crônicas de Bem Viver

novembro 21, 2022 Por Alexandre Morais Sem comentários

 NÃO AO DESALENTO


   Neste espaço consideramos um ciclo anual cada conjunto de cinquenta e duas crônicas. Assim sendo, esta é a primeira crônica do ano onze e o tema escolhido destina-se a nos manter motivados para enfrentar e vencer os desafios diários. Entendo que esta motivação precisa estar assentada sobre uma base constituída pela fé, pela força de vontade e pela ação.

   Quando mergulhamos no assunto desemprego encontramos a palavra “desalento” para classificar as pessoas que perderam o ânimo para continuar procurando uma colocação. Os institutos que pesquisam o assunto consideram desalentados “Pessoas que não realizaram busca efetiva por trabalho, mas gostariam de ter um trabalho e estavam disponíveis para trabalhar no período da pesquisa.”

   São diversos os motivos que levam uma pessoa a perder o estímulo e deixar de lutar por dias melhores. O filósofo coreano Byung-Chul Han, no livro “Sociedade do cansaço” dá algumas pistas. Apresenta vários fatores que geram a o “esgotamento”, destacamos a competitividade exacerbada, a cobrança individual e coletiva por desempenho crescente, os excessos na comunicação e o abandono da vida contemplativa. Sem muito esforço podemos detectar outros, precisamos fugir deles e focar no tripé acima citado, tudo dentro dos limites suportáveis por nosso organismo.

   O autor com lucidez atesta que “o hiper capitalismo transforma todas as relações humanas em relações comerciais”, que “enchemos o mundo com objetos e mercadorias com vida útil cada vez menores” e que “o mundo perdeu sua alma e sua fala. O alarido da comunicação sufoca o silêncio.”

   Para sair desse labirinto o poeta Dedé Monteiro, com extrema competência nos apresenta a ação da “esperança” nos dois últimos versos do soneto “As quatro Velas”, após ouvir as mensagens da “paz”, da “fé” e do “amor”, que se auto apagaram:


“Não desiste ninguém, que a vida é bela

E acendeu novamente as outras três”.


Não ao desanimo, sim à ação.

Vídeo-poema O Pajeú de nós 2

novembro 21, 2022 Por Alexandre Morais Sem comentários


Vídeo com a faixa-título do CD O Pajeú de nós 2, gravado em 2013.

Poetas Alexandre Morais e Genildo Santana

quinta-feira, 17 de novembro de 2022

Festival Palavra Cifrada

novembro 17, 2022 Por Alexsandro Acioly Sem comentários

Imagem/Divulgação


 
Imagem/Divulgação

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terça-feira, 15 de novembro de 2022

Acalme a pressa

novembro 15, 2022 Por Alexandre Morais Sem comentários


Poema: Alexandre Morais

Música: Josildo Sá e Leninho de Bodocó. Canta Leninho

Artes: Marcos Pê

sábado, 12 de novembro de 2022

Paulinho da Viola chega aos 80 anos no ritmo sereno com que conduz o leme da vida e da obra

novembro 12, 2022 Por Alexandre Morais Sem comentários
Paulinho da Viola faz 80 anos hoje, 12 de novembro de  2022, com obra calcada nas tradições do samba e do choro, mas com traços modernistas — Foto: Leo Aversa / Divulgação
Foto: Leo Aversa / Divulgação  

Por Mauro Ferreira / G1

PAULINHO DA VIOLA 80 ANOS“O leme da minha vida / Deus é quem faz governar / E quando alguém me pergunta / Como se faz pra nadar / Explico que eu não navego / Quem me navega é o mar”.

Os versos escritos por Hermínio Bello de Carvalho para o samba Timoneiro (1996), composto por Paulinho da Viola, parecem sintetizar – em parte – a filosofia de vida do já octogenário Paulo César Baptista de Faria.

Sim, o cantor, compositor e músico carioca chega hoje aos 80 anos no ritmo sereno com que vem conduzindo o leme da vida e da obra. Basta dizer que Timoneiro é composição apresentada no último álbum de músicas inéditas do artista, Bebadosamba (1996), lançado há já longínquos 26 anos. “Um dia sai”, costuma responder Paulinho quando lhe cobram em entrevistas um novo disco de músicas inéditas.

Preso ao passado das tradições do samba e do choro, ritmos dominantes na obra que vem construindo desde 1964, mas paradoxalmente capaz de arquitetar traços modernistas na criação dessa obra, Paulinho da Viola já alcançou dimensão atemporal na música brasileira.

Nascido em 12 de novembro de 1942, ano marcado na música brasileira pelo surgimento de gênios como Caetano Veloso e Milton Nascimento, Paulinho parece viver um dia de cada vez, sem pressa.

Mesmo quando lançava um ou até dois álbuns com músicas inéditas por ano (como fez em 1971 e em 1976), no período em que editava discos pela gravadora Odeon entre 1968 e 1979, o sambista chorão pareceu viver sem a pressa e a automação cotidianas que tão bem expressou nos versos de Sinal fechado (1969), música em que o compositor adentrou o terreno da vanguarda.

Talvez seja por viver no tempo de um relógio particular que Paulinho da Viola mantém a elegância observada tanto na fina estampa como no trato cotidiano e como na obra lapidar.

Esse cancioneiro é capaz de trilhar até caminhos jazzísticos, como pode ser observado no torto samba-choro Roendo as unhas (1973), música do álbum Nervos de aço (1973). Mas é mesmo na cadência bonita do samba que o compositor quase sempre destila desilusões com refinamento, em doses concentradas de emoção. Doses exatas que jamais entornam o caldo.

Recorrente no cancioneiro de Paulinho da Viola, a interiorização está entranhada na gênese de sambas como Tudo se transformou (1970) e Para um amor no Recife (1971). Ainda assim, Paulinho é capaz de arrastar o povo na avenida com sambas como Foi um rio que passou em minha vida (1969), sucesso do Carnaval de 1970 que atravessou gerações. E, se é para animar a roda de samba, o compositor é craque quando arremessa nessa roda um petardo certeiro como No pagode do Vavá (1972).

Compositor refinado, Paulinho da Viola imprime no canto o mesmo padrão de sofisticação, inclusive quando dá voz às criações alheias. Intérprete original de Acontece (1972), um dos mais belos sambas-canção da obra lírica de Cartola (1908 – 1980), o cantor soube lapidar joias alheias do quilate de Meu mundo é hoje (Eu sou assim) (José Batista e Wilson Batista, 1966) e Nervos de aço (Lupicínio Rodrigues, 1947).

A tristeza é senhora no samba de Paulinho da Viola, mas a melancolia jamais vem embebida em sentimentalismo. É uma tristeza bela. E essas belezas tristes se sucedem no roteiro de cada show e no repertório de cada disco do artista.

Sem jamais procurar impressionar, Paulinho da Viola soa moderno porque já se sabe eterno pela obra imune ao desgaste do tempo. Tempo que parece não passar para o sambista octogenário. Paulinho da Viola faz hoje 80 anos como fez 70 há uma década e 60 há 20 anos.Parece ser levado pela vida, diz quem o navega é o mar. Só que, na condução do leme, o sambista artesão sabe desviar das águas revoltas para jamais perder o ritmo sereno com que ele – o timoneiro que, a bem da verdade, não se deixa navegar pelo mar – leva a vida e a obra. 

Copiado de https://g1.globo.com/pop-arte/musica/blog/mauro-ferreira/post/2022/11/12/paulinho-da-viola-chega-aos-80-anos-no-ritmo-sereno-com-que-conduz-o-leme-da-vida-e-da-obra.ghtml

sexta-feira, 11 de novembro de 2022

ILHA FISCAL - RIO DE JANEIRO/RJ

novembro 11, 2022 Por Alexsandro Acioly Sem comentários

 A Ilha Fiscal

Ilha Fiscal - Rio de Janeiro/Imagem Internet

    A Ilha Fiscal localiza-se no interior da baía de Guanabara, fronteira ao centro histórico da cidade do Rio de Janeiro, no Brasil. A ilha celebrizou-se por ter abrigado o famoso baile da Ilha Fiscal, a última grande festa do Império antes da Proclamação da República, em 15 de Novembro de 1889. Atualmente abriga um museu histórico-cultural, subordinado à Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha.

    Originalmente denominada pelos europeus como Ilha dos Ratos, o seu atual nome provém do fato de ali ter funcionado o posto da Guarda Fiscal, que atendia o porto da capital do Império, no século XIX.

História

Foto aérea da Ilha Fiscal e seu entorno

    No século XIX, o Conselheiro José Antônio Saraiva do Ministério da Fazenda, solicitou construir-se um posto alfandegário para o controle das mercadorias a serem importadas e exportadas pelo porto do Rio de Janeiro, então Capital do Império. A posição daquela ilha era bastante cômoda para os inspetores da Alfândega, devido à proximidade dos pontos de fundeio, sendo que o translado de mercadorias poderia ser executado em embarcações miúdas, sem grandes dificuldades.

    A decisão da construção, assim como a do seu estilo arquitetônico, foram do Imperador D. Pedro II, tendo em conta não conflitar com a paisagem da Serra do Mar. À época, o Imperador teria afirmado: "A ilha é um delicado estojo, digno de uma brilhante joia".

    Optou-se assim por um pequeno "château" em estilo gótico-provençal, inspirado nas concepções do Arquiteto francês Viollet-le-Duc, com projeto de autoria de Adolpho José Del Vecchio - então Engenheiro-Diretor de Obras do Ministério da Fazenda -, onde se destacavam as agulhas e as ameias medievais a adornar a silhueta da edificação.

    O projeto de Del Vecchio foi contemplado com a Medalha de Ouro na exposição da Academia Imperial de Belas Artes, tendo apresentado a seguinte argumentação:

«A construção planejada, tendo de ser levantada isoladamente em uma ilha, projetando-se sobre um fundo formado pela caprichosa Serra dos Órgãos, encimada por vasto horizonte, e de frente para a entrada da baía, devia causar impressão agradável aos que penetrassem no porto, suficientemente elevada para que pudesse facilmente ser vista de qualquer ponto entre a mastreação dos navios, e prestar-se ao mesmo tempo à fiscalização do ancoradouro.»

    Del Vecchio preocupou-se ainda com a ornamentação paisagística, tendo declarado em reunião no Ministério da Fazenda:

«Arrematei, por pouco tempo, na Praça do Mercado, certa quantidade de cocos da Bahia, já com os brotos, e fí-los transportar para a ilha e plantar em torno; os coqueiros virão dentro de breve prazo e não tardarão a dar frutos.»

    Após a decisão do imperador na escolha do projeto para acolher a aduana, os recursos necessários destinados a execução foram liberados em partes e, em 16 de novembro de 1881, foi assente a primeira pedra dando início à sua construção. Após uma série de aterros de modo a aumentar a área de 4 400 m² para 7 000 m², e aplainar as elevações existentes ao preço de 40:5$500 (quarenta contos, cinco mil e quinhentos réis), foi iniciado o castelo.

    A 27 de abril de 1889 foi inaugurado o edifício com a presença do Imperador, acompanhado de Gastão de Orleans, Conde d'Eu e brilhante comitiva; o translado do cais Pharoux foi realizado utilizando-se a famosa galeota de D. João VI.

    Numa certa manhã, já na República, uma lancha passava em frente à Ilha Fiscal tendo a bordo Rui Barbosa, Aristides Lobo, Quintino Bocaiúva, Del Vecchio e outros personagens do regime republicano. Ao observarem o brasão imperial talhado em gnaisse, com absoluto respeito à heráldica e com os dois dragões a apoiá-lo, um dos passageiros da lancha declarou: "Como? Pois o Brasil republicano ainda conserva em um próprio nacional as armas da monarquia! Que se o derrube!" Nesse momento o Engenheiro Del Vecchio interveio e dirigiu-se aos componentes da comitiva argumentando: "Não, senhores. Por Deus! Se mereço alguma coisa da República à qual pretendo servir com a mesma lealdade e o mesmo espírito de sacrifício com que servi ao Império, peço que não toquem naquele emblema. É uma obra prima de cantaria. Fê-la um velho auxiliar do Conde Santa Marinha, um preto septuagenário que é um verdadeiro artista. Hoje, cego e desamparado, acredito que ele sofreria bastante se soubesse que o seu trabalho de tão penosos dias fora cruelmente destruído. Por isso, meus senhores, por favor, imploro a conservação do escudo." Da ocasião que ocorreu esse fato, data a consagração do edifício da Ilha Fiscal como imperecível obra de arte e patrimônio de uma era, devido a ostentar decoração inspirada na monarquia.

    Em 1890 prosseguiram as obras de pavimentação em paralelepípedos, e no extremo leste foi construído outro edifício no estilo do principal a fim de abrigar as máquinas elétricas e os serviços auxiliares. Dois anos depois, estavam totalmente concluídas as obras, ao custo total de 1051:322$584, hum mil e cinquenta e um contos, trezentos e vinte e dois mil, quinhentos e oitenta e quatro réis.

    Em 6 de setembro de 1893, irrompeu no Rio de Janeiro a chamada Revolta da Armada, na qual substancial parcela da esquadra brasileira, comandada pelo Almirante Custódio de Mello, rebelou-se contra o governo do Marechal Floriano Peixoto. Durante mais de seis meses, ficou a Ilha Fiscal em meio ao duelo de artilharia travado entre as Fortalezas leais ao governo, e os navios e fortalezas da Ilha das Cobras e da ilha de Villegagnon na posse dos revoltosos. Múltiplos foram os danos sofridos pela edificação da Ilha Fiscal com as paredes atingidas por projetis, agulhas de ferro derrubadas, avarias sérias nos telhados, fiação, móveis partidos além de estragos nos belíssimos vitrais. Como as despesas de restauração seriam vultosas, esse foi o motivo para que o engenheiro do Ministério da Fazenda Miguel R. Galvão sugerisse a entrega da Ilha Fiscal ao Ministério da Marinha, em troca de algum edifício que melhor se prestasse ao serviço da alfândega. A troca só se efetuaria em 1913, quase vinte anos depois, não por um edifício, mas pelo Vapor Andrada, proposta do Almirante Alexandrino Faria de Alencar, Ministro da Marinha, ao seu colega da Fazenda Dr. Rivadávia Correia. A partir de 1914, a Marinha fez funcionar nesse local, sucessivamente, a Repartição de Faróis, Repartição Hidrográfica, Repartição Central de Meteorologia, Repartição da Carta Marítima, Superintendência de Navegação, Diretoria de Navegação e finalmente a Diretoria de Hidrografia e Navegação.

    Em 1930, a Ilha Fiscal foi ligada à das Cobras por meio de um molhe de concreto transformando-as em duas ilhas geminadas ou, geograficamente, em uma só ilha. Em 1983, a DHN foi transferida para a ponta da Armação, em Niterói. A última organização militar que permaneceu na Ilha Fiscal foi o Grupamento de Navios Hidroceanográficos, até março de 1998. A partir dessa data a Marinha adotou como parte da política de valorização da memória naval abrir ao público esse notável conjunto, e simultaneamente mostrar aos visitantes, a contribuição da Marinha do Brasil no desenvolvimento de áreas fundamentais do país como o social, o científico e o tecnológico.

    O edifício encontra-se tombado pela Prefeitura do Rio de Janeiro desde 1990, tendo passado por diversos trabalhos de restauração desde 2001, coordenados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), quando foram restauradas as pinturas do teto, das paredes e do mosaico do piso de parque do torreão.

    Em 2006, a Marinha organizou um projeto com o propósito de montar uma iluminação de verão para a Ilha Fiscal, e graças à parceria com a BR Distribuidora, a Marinha presenteou a Cidade do Rio de Janeiro com a beleza da construção do engenheiro Del Vecchio em sofisticada iluminação. 

Características

Ilha Fiscal vista de cima

    Alguns parâmetros técnicos nortearam o projeto de Del Vecchio: os pontos cardeais O-E posicionavam as alas do prédio, assim como o sentido N-S mostrava ao navegante a direção do canal a ser seguido para quem demandava ou saía barra a fora. O custo da construção civil foi orçado em 145:828$925 (cento e quarenta e cinco contos, oitocentos e vinte e oito mil e novecentos e vinte e cinco réis). 

    O projeto previa a instalação no torreão de um relógio alemão pela empresa Krussmann e Cia., com as quatro faces iluminadas na parte interna do mostrador para as observações noturnas, e permitia melhor visualização da hora local. A construção ocupou cerca de um terço da ilha medindo sessenta e oito metros de frente, vinte e oito de fundos, e cinquenta e três metros de altura no torreão. Foi considerada uma das mais elegantes construções do Rio de Janeiro, com suas linhas sóbrias e transparecendo no local um ar de catedral medieval. A representação heráldica dos vitrais coloridos a fogo e confeccionados de cristal inglês mostravam o Imperador, ladeado entre os brasões genealógicos da Casa Imperial Brasileira e da Casa de Saxônia, e a Princesa Isabel, ladeada entre os brasões da Casa Imperial Brasileira e a Casa de Orléans. As abóbadas ogivais situadas tanto no primeiro quanto no segundo andar denotavam a filosofia gótica da época. No segundo andar, existe uma sacada com vista para o Sul da baía e com uma bela vista da entrada da barra. Nesse ambiente o imperador apreciava a silhueta da Serra do Mar com o atual Pão de Açúcar e o Corcovado, e deliciava-se abrindo os cocos provenientes da própria ilha para sorver as suas águas.

    A sacada é um apêndice à sala destinada ao chefe da aduana, e possui piso em madeiras de lei brasileiras formando um grande mosaico com o desenho da rosa dos ventos. Foi confeccionado com madeira de quatorze diferentes espécies, algumas extintas como: amendoim, pau-cetim, peroba-do-campo, tremida, raiz de imbuia e roxinho; outras em extinção como: jacarandás da Bahia, do Rio de Janeiro, do Espírito Santo e de Minas Gerais; outras ainda disponíveis como: canela, imbuia, garapa, pau-marfim, peroba-do-campo e sucupira. Esta obra foi executada pela firma Moreira & Carvalho utilizando a técnica de marchetaria.

    A construção em cantaria foi notável sob múltiplos aspectos, principalmente pelo excepcional trabalho executado por Antônio Teixeira Rodrigues, Conde de Santa Marinha, e proprietário da pedreira Saudade na Urca. Todos os materiais utilizados na cantaria provêm do mineral feldspático, xistoso e cristalino denominado gnaisse procedente do morro do Pasmado. As paredes do salão destinado ao chefe da aduana foram cuidadosamente desenhadas e posteriormente pintadas a óleo por Frederico Steckel

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ilha_Fiscal


quinta-feira, 10 de novembro de 2022

Feiras de Leitura e de Poesia acontecem em Afogados da Ingazeira

novembro 10, 2022 Por Alexandre Morais Sem comentários

Susana Morais lança livro na Filco, em Afogados da Ingazeira

    
A Praça Monsenhor Alfredo de Arruda Câmara, no centro de Afogados da Ingazeira, vai ser também o centro da satenções para alunos, educadores e amantes da literatura. 

   Vão ser realizadas no local, de 10 a 13 de novembro, a 13ª Feira Interativa de Leitura e Conhecimento (Filco) e a 2ª Feira da Poesia do Pajeú.

  A Filco é realizada pela Prefeitura de Afogados, com a coordenação da Secretaria Municipal de Educação. A Feira de Poesia é realizada pelo Governo do Estado, com coordenação da Cepe Editora. Também são parceiras do evento a Fundação Gilberto Freire, a Biblioteca Pública Municipal de Afogados da Ingazeira, a Livraria Alfa Livros e a Secretaria de Educação de Tabira.

  “É uma conquista podermos unir dois grandes projetos de disseminação do conhecimento através dessas linguagens tão encantadoras, que são a educação e a literatura. A nossa Filco já está consolidada, sendo realizada já há 13 anos, mas sempre se ampliando e inovando”, comemora o prefeito Sandrinho Palmeira, que também se declara feliz por sediar a Feira de Poesia do Pajeú. “Este é um evento itinerante, disposto a percorrer toda a região. Este ano Afogados convida o Pajeú para prestigiar o nosso momento de sediar a Feira.”

Matheus Abel apresenta o espetáculo Madalena, eu, Madalena

 ​  A programação envolve oficinas, apresentações artísticas, saraus, contações de histórias, lançamentos de livros e cordéis e apresentações de projetos de leitura vivenciados pelas escolas municipais ao longo de 2022. Na estrutura terá palco, tenda interativa, stands para exposição e vendas de livros, espaços de lazer e de alimentação.

​  “A Filco é a culminância do Programa Municipal de Incentivo à Leitura e o momento de interação da nossa rede de ensino. É um grande compartilhamento de produções e aprendizados entre as escolas e delas com toda a comunidade”, explica a secretária de Educação de Afogados, Wiviane Fonseca.

A abertura oficial do evento acontece no dia 10, às 17h30. Mas já a partir das 8h tem atividades. Veja abaixo a programação completa. 

O poeta Alexandre Morais lança três livros

13ª Feira Interativa de Leitura e Conhecimento e 2ª Feira da Poesia do Pajeú 

Programação 

Dias 10 e 11 de novembro – 8h30 às 10h30 – Auditório da Secretaria de Educação – Oficina para Professores da Rede Municipal de Ensino: “A leitura em diversas linguagens: vivências com danças circulares em contextos educacionais”, com o psicólogo Danniel Alves. 

De 10 a 12 de novembro – 16h30 às 20h30 – Atividades permanentes na Praça Monsenhor Arruda Câmara 

Dia 10 de novembro – quinta-feira – 16h Palco – Oficina: Os Três Pilares do Cordel, com Thaynnara Queiroz, do Clube do Cordel. 

17h – Palco – Abertura oficial da 13ª Filco e da 2ª Feira da Poesia do Pajeú

– Homenagem aos Finalistas da Etapa Municipal do Concurso “Ler Bem – 2022”

– Lançamentos: Livros “O fuxico do rabicho”; “10 cordéis em 01 cartonero” e “A peleja do Boto Cor-de-Rosa com a Sereia Iara”, do poeta Alexandre Morais, e “Prova de Fé – Esperança sertaneja”, do poeta José Nildo (Chimba). 

17h30 – Palco – Sarau Estudantil com as escolas municipais José Rodrigues de Brito, José Lourenço de Sena, Santa Joana D’Arc, Nossa Senhora de Lourdes, Levino Cândido, Letícia de Campos Góes, Ana Melo e Professor Geraldo Cipriano dos Santos 

20h30 – Palco – Espetáculo: “Madalena, eu, Madalena”, com Matheus Abel 

Dia 11 de novembro – sexta-feira – 16h – Palco – Oficina:  A Literatura de Cordel como Patrimônio Cultural e Imaterial do Brasil, com Carla Santana, do Clube do Cordel. 

17h – Stand De Exposições – Lançamentos: Coletânea Literária “Nas veredas da Poesia”, da Academia Afogadense de Letras, e Cordéis “Casamento Sustentável” e “Os Tabaqueiros”, da professora e poetisa Elenilda Amaral. 

17h30 – Palco – Sarau Estudantil: Escolas Municipais Evangelina de Siqueira Lima, Maria Genedí Magalhães, Petronila de Siqueira Campos Góes, Padre Carlos Cottart e Domingos Teotônio 

20h30 – Tenda Interativa – SARAU: “Nós Quatro e o Sertão”, com Carla Santana, Francisca Araújo, Nilson Gonçalves e Taynnara Queiroz, do Clube do Cordel. 

Dia 12 de novembro – sábado

16h – Palco – Contação de Histórias: “Varal de Histórias”, com Susana Morais 

17h – STAND DE EXPOSIÇÕES – LANÇAMENTO: “Tchau para tudo que faz mal”, da escritora e cordelista Susana Morais. 

17h30 – Palco – Sarau Estudantil: Escolas Municipais São Sebastião, São João, Dom João José da Mota e Albuquerque, Professora Francisca Lira Leite de Brito e Professora Mª Gizelda Simões Inácio 

20h30 – Palco – Cantoria De Viola: Anísio Queiroz e Heleno da Silveira. 

13 de novembro – Domingo

16h – Palco – Espetáculo: “Uma Festa Na Floresta”, com o Grupo Tapete Voador 

17h – Tenda Interativa – Lançamentos: Livros “Mais um Matulão na Praça”, de Paulo Monteiro, “Respingo de Saudade”, de Aprígio Jerônimo, e “Entre a Feira e o Teatro”, de Cícero Figueira, e Cordel “O Debate de Cristo Cirineu e Benito Messias Mussolini”, de Felipe Amaral. Participação dos autores e apresentação de Marcos Costa. 

19h – Palco – Mesa De Glosas Feminina: Erivoneide Amaral, Thaynnara Queiroz, Francisca Araújo e Elenilda Amaral. Mediação de Carla Driely.