domingo, 6 de dezembro de 2020

Poesia nordestina

dezembro 06, 2020 Por Alexandre Morais Sem comentários

     A poesia nordestina, a poesia sertaneja, a poesia...
     A luz, a sombra, a fotografia...
  Recebi a encomenda de produzir versos a partir de fotografias retiradas por estudantes residentes na zona rural do meu município, Afogados da Ingazeira, Sertão de Pernambuco.
   O projeto inspirador promovido pela secretaria municipal de Educação trazia o sugestivo título de Belezas do Campo. Nem sempre é assim, mas a proposta e as imagens já eram poesia. Botei verso e voz e ficou assim:


 

Crônicas

dezembro 06, 2020 Por Alexandre Morais Sem comentários

    Mais uma vez valho-me da linda arte de Marcos Pê para ilustrar minhas publicações. Hoje trago uma crônica. Coisa nascida do olhar cotidiano. Coisas e pessoas nos inspiram. Claro, a transcrição nem sempre é real. Aqui faço um ajuntado de gentes. Só achei de batizar como Elisa. Todo o meu respeito as Elisas que são elas mesmas.


Elisa

      Elisa nunca levou a sério nada que é sério. Nasceu e cresceu pra flutuar na superfluidade do nada. Do que não cansa, do que não exige, do que não faz pensar.

     Se viveu eu não sei, mas que cresceu, cresceu. Tá bem crescidinha. Cresceu em corpo e idade. Não proporcionalmente, porque fisicamente ela cresceu melhor. Deve ter sido essa tal lei da compensação.

     Não sei porque as vezes se compensa o nada. Mas com Elisa foi assim. Cresceu entendendo muito de nada e de nádegas. E se o nada não a levou a nada, as nádegas a levaram a tudo.

     Logo Elisa que na escola só desfilava. Desfilava vaidades e mancadas. Foi ela que disse a professora de Geografia que não falaria sobre a Chechênia porque a aula não era de corpo humano. Também se negou a fazer uma prova oral porque só sabia o assunto de escrever e não de dizer. Contam que foi ela que disse que Drummond inventou o avião. Essa seria até aceitável pela semelhança fonética se Elisa não já contasse idade de vestibular naquela época.

     Não podia ser diferente. O jornal chegava pesado de notícias e Elisa espalhava todas as páginas em busca do horóscopo. Com anos neste ofício e ainda procurava o horóscopo no caderno de economia. Na edição do domingo ia além. Lia também o resumo das novelas. E tome festa e tome shopping; e roupas e saltos, e sol e salão.

     Não demorou e Elisa virou madame. Casou com um rapaz que de tão ocupado com os negócios não teve tempo de ver o nada de Elisa. Viu as nádegas. Paga por elas até hoje. E tome shopping e roupas e saltos e jóias e carros e viagens e tudo de novo o ano todo.

     E lá está Elisa sem assunto nas rodas sociais. Tem colega madame que não trabalha, mas tem profissão. É advogada, é publicitária, é arquiteta. Tem administradora que uma vez por semana dá expediente na empresa do marido e se diz a peça mais importante daquele negócio. Outra esbanja conhecimentos em artes plásticas e música clássica. Fala em Picasso e Elisa solta um riso de vergonha. Fala em Chopin e Elisa fica pensando o que é que isso tem a ver com cerveja. E ainda aparece uma falando em inglês, francês e espanhol.

     Mas Elisa é Elisa. Não deixa por menos. Faz que entende, inventa, se passa por igual. Sempre dá um jeitinho de parecer ser.

     Que cara lisa a de Elisa.

Autor: Alexandre Morais

quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

Crônica de Maciel Melo, o Caboclo Sonhador

dezembro 02, 2020 Por Alexandre Morais Sem comentários

Maciel Melo na Barragem de Brotas, em Afogados da Ingazeira,
Sertão do Pajeú, Pernambuco. / Foto: Claudio Gomes


Uma estrada estreita e triste

   De repente, tudo nublou. Uma nuvem em forma de rosto, enfurecida, se agiganta e começa a nevoar. O horizonte cinzento, o caminho deserto; nada vejo à minha frente. O espelho retrovisor reflete os coriscos que rasgam os céus distantes que deixei para trás. Estou à deriva, numa estrada estreita e triste, a mercê dos ventos que uivam tenebrosamente, assobiando uma melodia estranha, prenúncio de uma epopeia negra, prestes a ser encenada no palco das ilusões.

    Não dá pra prosseguir, também não posso parar; regressar é impossível, pois o tempo se fecha, a chuva é de pingo grosso.

  Acendo os faróis de neblina, mas o negrume do asfalto embaça-me a visão.

   Paro, penso, oro e rogo a Deus um pouco de misericórdia. Viajar é preciso, viver é imprescindivelmente necessário nesse momento, pois tenho duas criaturas belas à minha espera, e prometi levar dois metros de chita pra fazer dois vestidos, e levá-las para passear nos verdes campos do azul do céu de minha terra.

  Vou esperar desanuviar para seguir. O acostamento da estrada mal dá para estacionar uma bicicleta, pois uma banda do guidom ficaria na pista e a outra, no mato.

   Olho à minha frente, alguma coisa esvoaçante me chama atenção. Chego mais perto, é um pedaço de pano verde-amarelo-azul-e-branco pendurado no galho de uma frondosa árvore, como uma biruta, indicando a direção dos ventos.

   Hen-hem! Em outra dimensão, seria uma flâmula, encheria nosso peito de orgulho, e nos sentiríamos fortes e protegidos sob o seu manto sagrado, aquecendo-nos do frio e aninhando nossas esperanças no berço esplêndido de uma nação sã e salva, livre e inteligente.

   Enquanto o tempo não estia, vou pernoitar por aqui, exilar-me em algum abraço onde exista para-raios e, quem sabe, o amanhã não amanheça tão nublado assim.

Natal todo dia - Um poema de Natal

dezembro 02, 2020 Por Alexandre Morais Sem comentários


   Um poema de Natal. Pensamentos sobre o Natal. Reflexões sobre o Natal. Este vídeo-poema atende a todas as expectativas. E vai além.

     Se em épocas como o Natal nos tornamos mais reflexivos, estas mesmas épocas podem nos impulsionar a ser mais reflexivos em todos os tempos. De repente, uma provocação.

     Este trabalho nasceu poema com Alexandre Morais e virou vídeo em comunhão com a tela de Edgley Brito. Trabalhos semelhantes podem ser vistos no mesmo link em que o vídeo será aberto. Vai lá. Assiste, comenta, compartilha. Vamos ser Natal todo dia.