sábado, 10 de outubro de 2020

Mário Quintana e Falcão

outubro 10, 2020 Por Alexandre Morais 1 comentário

 



Por André Marinho, via facebook

 

O Hotel Majestic mostrou a Mario Quintana o olho da rua, colocou-o para fora.

A miséria chegou absoluta ao universo do poeta. Ele não foi feito para a riqueza, quando muito conquistar uma princesa com seus versos, depois voltar ao pântano.

Uma cidade que expulsa um poeta pode te transformar em estátua de sal.

Mario está só, o Correio do Povo faliu, o passado faliu, as palavras faliram.

Um império sem homens e sem sentimentos. O porteiro aproveita e joga um agasalho que tinha ficado no quarto.

“Toma, velho!”

Mario recita ao porteiro: A poesia não se entrega a quem a define.

Mario estava só.

Cadê os passarinhos?

A sarjeta aguardava o ancião.

O jogador de futebol Paulo Roberto Falcão fora avisado do acontecido.

Quando chega em frente ao hotel, observa aquela cena absurda, triste.

Estaciona e caminha até o poeta com as malas na calçada.

“Sr. Quintana, o que está acontecendo?”

Mario ergue os olhos e enxuga uma lágrima, destas que insistem em povoar os olhos dos poetas.

Quisera não fossem lágrimas, quisera eu não fosse um poeta, quisera ouvisse os conselhos de minha mãe e fosse engenheiro, médico, professor.

Mas ninguém vive de comer poesia.

Mario lhe explica que o dinheiro acabou.

Está desempregado, sem família, sem amigos, sem emprego.

Restaram apenas essas malas nas ruas de Porto Alegre.

Mario observa Falcão colocando suas malas dentro do carro em silencio. Em silencio, Falcão abre a porta para Mario e o convida a sentar.

No silencio de duas almas na tarde fria de Porto Alegre, o carro ruma na direção do arquipélago, na direção do infinito.

Falcão para o carro no Hotel Royal, desce as malas, chama um dos empregados:

“O Sr. Mario agora é meu hóspede!”

“Por quanto tempo, Sr. Falcão?”

Falcão observa o olhar tímido e surpreso do poeta e enquanto o abraça comovido, responde:

“Por toda a eternidade”.

O poeta faleceu em 1994.