quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Novo 007 e filme “O Bem Virá” abrem programação de reinauguração do Cine São José

setembro 29, 2021 Por Alexandre Morais Sem comentários

O Bem Virá, filme de Uilma Queiroz, reabre o Cine São José

Do Blog do Nill Júnior

    O Cine São José, em Afogados da Ingazeira - PE, apresentou a programação de reinauguração sábado, nesta sábado (02/10/21).

  A solenidade começará às 16h, com as presenças de autoridades, de nomes da Fundarpe, Empetur, Pajeú Filmes e Prefeitura de Afogados da Ingazeira.

  Haverá homenagem à Associação Cultural São José.

 Os novos equipamentos de som e projeção digital foram adquiridos a partir de diversas parcerias, entre a Prefeitura de Afogados da Ingazeira, o Deputado Federal Waldemar Borges, Secult/Fundarpe, Secretaria de Turismo do Estado de Pernambuco e a Fundação Cultural Bom Jesus dos Remédios.

  A solenidade no sábado a tarde será apenas para convidados e seguindo todas as normas de convivência previstas em virtude da pandemia de COVID-19. Logo após a solenidade de reinauguração haverá a primeira sessão de retomada do Cine São José, com a exibição do filme “O Bem Virá”, da afogadense Uilma Queiroz.

  É o primeiro longa-metragem dirigido por uma mulher sertaneja, foi gravado em Afogados da Ingazeira, em 2017. Uma produção Vilarejo Filmes, que contou com parte da equipe do sertão do Pajeú e teve incentivo do Funcultura. Uma busca pelas mulheres que, em 1983, em uma seca no sertão do Pajeú pernambucano, lutaram pelo direito à sobrevivência, num contexto em que ser mulher era se limitar à função de administrar a miséria.

  Ainda no dia 02 de outubro, às 20h30, o Cine São José retoma a exibição comercial, com o filme 007 – Sem tempo para morrer. O longa-metragem, que será lançado no dia 30 de setembro, tem Daniel Craig no papel do agente secreto mais famoso do cinema e é uma distribuição Universal Pictures.

 Lembrando que para a sessão seguirão as normas de convivência em virtude da pandemia de COVID-19, como a higienização da sala, obrigatoriedade no uso da máscara e limite de público. O cine vai dar detalhes para venda antecipada.

Cinemas de rua brasileiros são tema de mostra de curtas na TV Pernambuco

setembro 29, 2021 Por Alexandre Morais Sem comentários


    A partir deste domingo (03/09/21), a TV Pernambuco apresenta a 3ª edição da Mostra Cinemas do Brasil, que tem como foco a exibição de curtas e médias-metragens com o protagonismo dos cinemas de rua nacionais. A mostra será exibida todos os domingos, sempre às 17h. 

  Além de filmes que dialogam com personagens frequentadores desses cinemas e com ações cineclubistas, a Mostra Cinemas do Brasil apresenta um panorama de filmes que propõem uma discussão sobre a atual situação desses monumentos arquitetônicos que, em sua maioria, antes mesmo da pandemia, encontravam-se de portas fechadas e sem nenhum tipo de reparo ou manutenção.

  O projeto Mostra Cinemas do Brasil é idealizado e coordenado por Eudaldo Monção Jr., com produção da Memorabilia Filmes. A curadoria é assinada por Eudaldo Monção Jr e Priscila Urpia, curadora integrante do Coletivo #CineRuaPE, Cineclube CineRua e do Conselho Consultivo do Audiovisual de Pernambuco.

Confira a programação:

Domingo (3), às 17h
– “A Gal and A Gun”, de Raquel Gandra (Experimental)
– “8 Quadras” de Oda Rodrigues (Ficção)
– “Uma Invenção Sem Futuro”, de Francisco Miguez  (Documentário)
– “101%”, de Filipe Gama (Documentário)

Dia 10 de outubro, às 17h
– “Salas universitárias de cinema no Brasil”, de Cíntia Langie (Documentário)
– “Cinemas de rua de Aracaju”, de Eudaldo Monção Jr. e Juliana Vila Nova  (Documentário)
– “Cultural”, de Armando Lima (Experimental)
– “Cinema Morto”, de Elivelton Tomaz (Documentário)
– “O Projecionista”, de Vinicio Marzano  (Documentário)
– “Abelardo”, de Ane Siderman (Documentário)

Dia 17 de outubro, às 17h
– “Guarany – Eu sou o menino do Cinema Paradiso”, de Aline Castella (Documentário)
– “A Rosa Púrpura da Fradique”, de Débora Filgueiras (Documentário)
– “Coleção Preciosa”, de Rayssa Coelho e Filipe Gama (Documentário)
– “Cine Aurélio”, de  Kennel Rógis (Documentário)

Dia 24 de outubro, às 17h
– “Cine Vaz Lobo: Média Metragem”, de Luiz Claudio Lima (Documentário)

Dia 31 de outubro, às 17h
– “Entre Andares”, de Aline van der Linden e Marina Moura Maciel (Documentário)
– “Uma Balada para Rock Lane”, de Djalma Galindo (Documentário)
– “Cine São José”, de William Tenório (Documentário)
– “Cineclube Majestik”, de Marlom Meirelles e direção coletiva (Documentário)

Dia 07 de novembro, às 17h
– “Cine Rio Branco”, de Eudaldo Monção Jr. (Documentário)
– “O baú do zuzu”, de Raul Ribeiro (Documentário)
– “O Fantasma de Glauber Rocha”, de L. H. Girarde (Ficção)

domingo, 26 de setembro de 2021

Carpe Diem

setembro 26, 2021 Por Alexandre Morais Sem comentários

Por Veruska Queiroz / Obvious

Carpe Diem é uma expressão em latim que significa "Colha o dia", "Aproveite o momento". Muitos estudiosos dizem que ela tenha surgido provavelmente de uma frase de Horácio, um filósofo e poeta romano: "Carpe diem quam minimum credula postero", que significa: "Aproveita o dia, confia o mínimo no amanhã"

   O presente é um presente. Vida é para ser vivida, sentida, celebrada. Adversidades. Muitas. Quem falou que seria fácil? Não, não é fácil. Mas é plenamente possível. Pode haver inúmeras dores inimagináveis e irremediáveis no mundo, mas nada deve ser tão devastador quanto desistir de si mesmo(a). A vida é o instante presente. "Carpe Diem" é exatamente colher o dia, aproveitar o momento de corpo, alma e coração. Dentro desta perspectiva, podemos concluir que só pode colher quem plantou e nesse sentido, aproveitar o instante é saboreá-lo, é degustá-lo como fruta madura colhida do pé. A vida é já. E sendo assim, tudo na vida depende de como cada pessoa sente e pensa algo, do que decide fazer com o que sente, do que decide fazer com tudo o que lhe acontece, da formação do seu caráter, dos seus valores éticos e morais, do seu ponto de vista, do seu referencial, da importância que se dá ao que tem importância e como se lida com isso e da sua essência pura, da profundidade da sua alma, aquele lugar que ninguém vê e que cada pessoa resguarda para quem escolhe mostrar.
   Tudo na vida depende do "como" e não "do que". Tudo na vida depende do "ser de verdade" e não do "parecer ser" ou "ter" ou ainda "parecer ter". Tudo na vida depende do que cada pessoa é por dentro, da magia de dentro, do que se faz de dentro para fora e nunca o contrário. Tudo na vida depende de escolhas e de atitudes, porque no começo, meio e no fim de tudo, as escolhas e as atitudes são o que cada pessoa é, elas definem cada um e os distinguem inexoravelmente, em tudo o que existe na vida. Por isso, viva e plante boas sementes, faça escolhas das quais você possa se orgulhar como se alguém algum dia pudesse escrever uma biografia completa de sua vida.
   E que não se procure sempre entender a vida, os fatos, os porquês, até porque, na maioria das vezes, ninguém vai entender mesmo, pelo menos a princípio, pois os fatos, acontecimentos e tudo sentido e vivido só se conectarão mais à frente. Sentir - depois de ter feito as devidas buscas de si mesmo(a), os devidos mergulhos, as devidas travessias por dentro de mesmo(a) e as necessárias descobertas e mudanças para pertencer-se a si mesmo(a) - é mais importante que entender. E viver é mais importante e maior do que tudo.

   Tenha atitudes condizentes com suas escolhas, com seus sentimentos, com seus pensamentos de modo a não precisar baixar a cabeça quando alguém lembrar de você e de suas atitudes pela vida, mas principalmente, de modo que você não precise baixar a cabeça para si mesmo(a), para tentar esconder seus tropeços, pois tropeços são erros ou transformam-se em uma maneira do caráter se manifestar. Um ou dois erros não definem caráter nem conduta de ninguém, pois errar é da própria condição humana e perfeitamente passível de reparações, consertos e principalmente o aprimoramento daquele que errou. Mas erros consecutivos, sem reparações e sem consciência dos mesmos, tornam-se deformação de conduta e uma maneira do caráter se manifestar, pois passa a definir quem é a pessoa.
   Viva para conectar-se consigo mesmo(a), para fazer a sua luz brilhar, para poder dizer sobre você com você mesmo(a) com orgulho e alegria sobre onde seus pés estiveram - e se eles podem voltar pelos mesmos caminhos que você trilhou para si e para quem convive ou conviveu com você sem se ferirem pelo que você deixou em sua caminhada, pois, um dia talvez, você mesmo(a) precise voltar pelas mesmas estradas - e qual caminho você escolheu trilhar, porque no fim das contas, as questões e coisas e acontecimentos e tudo na sua vida nunca foi e nunca será entre você e ninguém. Tudo sempre foi, é e sempre será entre você e você mesmo(a).
   Então, viva e pare de perder tempo com coisas que não fazem vibrar seu ser de emoção, de alegria profunda, com coisas que não fazem tremer sua alma de felicidade pura. A vida é para ser vivida. Bem vivida. Amanhã pode ser tarde... E pode não haver nada mais que se possa fazer... Que tal começar hoje, agora, neste exato segundo? O segundo anterior já se foi... já é passado... Hoje, agora, já... é o momento em que você pode fazer tudo o que o seu coração pedir de verdade. Faça, mas faça bonito, pois a feiura não é da alma, é da lama. Aí, a escolha é sua. E faça hoje, agora. Este é o momento, por isso ele chama-se presente. Está esperando o que? Carpe Diem!
Copiado de: http://obviousmag.org/os_caminhos_do_pertencserse/2015/09/carpe-diem.html

sábado, 25 de setembro de 2021

Dedé Monteiro - Lançamento do livro Retalhos do Pajeú, 1984

setembro 25, 2021 Por Alexandre Morais Sem comentários


Vídeo e texto extraídos do Canal Balcão de Bodega - Gilberto Lopes


 DEDÉ MONTEIRO | LIVRO: RETALHOS DO PAJEÚ / 1984

Nesse vídeo, o apologista, poeta e pesquisador Zelito Nunes, registra em fragmentos, imagens do lançamentos do livro "Retalhos do Pajeú" do poeta Tabirense Dedé Monteiro. O evento foi organizado por Zelito Nunes, ocorreu no ano de 1984, na Rua da Roda – Centro – Recife-PE. Edição do vídeo: Zelito Nunes e Gilberto Lopes Arquivo do vídeo: Zelito Nunes e Marcos Passos Imagens do Vídeo: Zelito Nunes

Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=rJWYAPYIZNM

Ronaldo Correia de Brito - O que fala a sombra, o que cala a luz

setembro 25, 2021 Por Alexandre Morais Sem comentários


Naquela idade eu não conseguia imaginar os milhares de pés
Ronaldo Correia de Brito

descalços e os sapatos escuros sob luzes plainando como um céu baixo. As velas acesas ocupam a praça, brilham mais do que os globos opalescentes dos postes. Os fiéis se protegem da parafina quente, escorrendo e queimando suas mãos, improvisam cones de cartolina, que também se incendeiam. “Ave, ave, ave Maria, ave, ave, ave Maria. Viva Nossa Senhora de Fátima Peregrina!” Colados às grades da cadeia, os presos olham a imagem minúscula no andor, as flores dos belos jardins, onde eles nem sonham pisar. “Os três pastorzinhos cercados de luz recebem a visita da mãe de Jesus.” O pai, estatura mediana, se esforça para que o filho assista ao espetáculo luminoso de cima dos seus ombros, escanchado como num cavalo. O menino não curte montarias, prefere a firmeza do chão ou a cabine de um carro em velocidade. Enfia os dedos e se sustém na cabeleira, uma crina escura e lisa, certeza de origem branca da família. Ou indígena? A mãe, pequena e bondosa, se alonga nas pontas dos pés, mas não enxerga além das espáduas à sua frente, homens e mulheres de branco, fitas azuis atravessadas no peito.
  Ao contrário do marido possui fé, se comove com os louvores e vivas, as exortações à piedade e à vida eterna. “Um susto tiveram ao verem a luz, recebem a visita da Mãe de Jesus.” O pai mostra o circo da praça. Olhe, filho! A igreja e o contorno sobrenatural de lâmpadas; as casas dos proprietários de engenho, usadas nos finais de semana para as missas, novenas e festas; o lago cheio de patos, gansos e marrecos; os arcos romanos; os oitizeiros, jatobás e ipês; a cadeia infame, de onde os presos vigiam as pessoas que entram e saem da matriz. “Vivamos sem mancha, cristãos sem labéu, que a Virgem nos guie a todos pro céu.” E numa casa um pouco além e à esquerda da Casa de Deus, sem luzes, apagada no escuro, as paredes infestadas de cupim, presa por leis arquitetônicas à branca alvenaria da matriz, portas e janelas batidas com pregos, a memória dos morféticos e seus pecados. Que sórdida proximidade entre a casa sombria e a luminosa igreja, como se fosse possível celebrar na mesma pedra d’ara a luxúria e a santidade, a concepção virginal e o incesto. Um homem portador da lepra trouxera para a cama de molambos sujos a amante e suas duas filhas, e concebera uma estranha geração. “Ó Virgem Senhora, Mãe da Piedade, livrai-nos das penas da eternidade.” Às claras, para que toda a cidade conhecesse suas fornicações no escuro e as amaldiçoasse, desejando. Não pise a calçada da casa, impunha a mãe. Adentre o pecado, ordenava o pai, os dedos do filho mal segurando a crina oleosa. Grandes e chatos os pés paternos, finos e delicados os maternos. Eles pisam o solo cretáceo da cidade, o que antes fora um oceano há milhões de anos, vez por outra revelado em fósseis que as pessoas arrancam: avencas, peixes, insetos. O que está sob a terra é nada, garante a mãe. Encarar a luz é para os mortais a coisa mais aprazível. Não tema o escuro, rebate o pai. Na sombra se escondem os mistérios. Contemple as luzes acima das cabeças e sonhe escavar embaixo dos pés. Durante séculos, as águas do oceano se tornaram nuvens e camadas de argila se depositaram sobre os seres animais e vegetais. Os poderosos amaram as esposas e as criadas de suas terras, resguardados pelo silêncio. Palavras se depositaram em frases e histórias familiares, como a argila dos fósseis, gerando enredos de ódio, vingança, inveja, incesto, traição e morte: Noite, Bilhar, Força, Magarefe, Mellah, Atlântico, Helicópteros, Perfeição, Sombras, Véu, Amor, Lua. A mesma novela recontada de doze maneiras, mil e uma noites. Um dia, a moça tomou o menino pela mão e levou-o por uma ladeira. Subiram, subiram até imaginarem que chegavam ao céu. Viram as luzes, meninas cantando, vestidos azul claro e rosa, anjos, ciganas, beija-flores, borboletas, pastorinhas, caboclinhos, o céu da infância. Um dia, a moça levou o menino ao porão da cadeia e mostrou-lhe um homem que se enforcara com um arame enferrujado. Roxo, a língua de fora, dobrara os joelhos na cela minúscula e baixa e só dessa maneira alcançara a façanha. O menino ficou muitas noites sem dormir, impressionado com a cena, sem atinar com algum uso futuro para essa memória. “Nem um dia se passa, nem um minuto ou segundo sem um morto. O passado é o que empurra você e eu e todos da mesmíssima maneira, e a noite pertence a você e a mim e a todo mundo, e o que ainda não foi tentado e o que vem depois é pra você pra mim e pra todo mundo”, recitava insistentemente o pai. Escreva, revele o seu amor às sombras. Um dia, quando o menino era grande, e a barba se tornara escassa e grisalha, e as vértebras lombares teimavam em não se dobrar, a mãe, pequena e bondosa perdeu a fala, depois os movimentos, a deglutição, e só respirava através de aparelhos. Por último, inteiramente imobilizada num leito, abria e fechava um único olho. Até que esse olho deixou de se abrir e ela morreu. Quando o pai confessou ao filho que não acreditava no sobrenatural, apenas na matéria, e que ao morrer retornaria ao pó, o homem encurvado assustou-se. O pai recitava um poema sobre a casa suspensa, atrapalhou-se na ordem das estrofes e esqueceu alguns versos. “Minha memória falhou, estou acabado”, disse ao filho. Uma semana depois, morreu.

Sobrou contar essa história.

sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Morre José Xavier Cortez, fundador da Editora Cortez, aos 84 anos

setembro 24, 2021 Por Alexandre Morais Sem comentários

Seu Cortez, como era chamado, entre livros - Foto: Folha UOL

Texto: Isto é/Conteúdo Estadão

    José Xavier Cortez, o sr. Cortez, editor que foi plantador de algodão, marinheiro e lavador de carros até começar a vender livros no estacionamento da PUC, morreu aos 84 anos, em São Paulo, em decorrência de um câncer. Querido no mercado editorial, era conhecido também por sua paixão pelo forró – tanto que era comum, durante as bienais do livro, que as noites terminassem em dança no Restaurante Andrade, em Pinheiros.

   Nascido em Currais Novos, no Rio Grande do Norte, em 18 de novembro de 1936, ele trabalhou na agricultura de subsistência com a família, no sítio em que vivia e que ficava a 25 quilômetros da cidade, e estudou, até a 5ª série, em uma escola rural distante 6 quilômetros de casa – percurso que ele fazia a pé ou a cavalo.

   Aos 18 anos, ele se mudou para Natal, fez bicos, inclusive vendendo frutas, como contou em uma entrevista, e ficou por lá até 1955. Ingressou na Escola de Aprendizes-Marinheiros de Pernambuco, passou um ano no Recife e, em 1956, foi transferido para o Rio de Janeiro, onde serviu em vários navios da Marinha do Brasil. Ali, voltou a estudar.

   Sua vida na Marinha durou até 1964, quando, em plena ditadura militar, ele foi expulso da corporação. O motivo, ele contou, foi ter participado de um movimento organizado pela Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil, que ficou conhecido como Rebelião dos Marinheiros.

   Em janeiro de 1965, sr. Cortez chegou em São Paulo e foi trabalhar como lavador de carros no estacionamento de um parente. Já era um leitor naquela época e, ainda em 1966, entrou no curso de Economia da PUC. Neste momento, sua trajetória começou a mudar.

   A aproximação com o mundo dos livros foi reforçada pela amizade com o gerente de uma editora que publicava obras da sua área e ficava perto de sua casa. Ele começou a vender para os colegas da faculdade os livros que os professores sugeriam. Como tinha desconto na compra desses livros, esse trabalho o ajudou a complementar o pagamento da mensalidade.

   Em 1968, ele foi autorizado a usar um pequeno espaço nos corredores da universidade e ampliou a oferta de livros para outros cursos.

  “Fiquei conhecido entre os professores porque conseguia para eles qualquer livro, mesmo que fosse proibido (pela ditadura). Sabia das bocas”, revelou o editor em uma entrevista ao Estadão em 2010. Entre a sua clientela, ele contou, estavam intelectuais como Florestan Fernandes, Paulo Freire e Maurício Tragtenberg.

   Nessa época, começou a flertar com a edição, trabalho que tocou com um colega de classe até inaugurar, em 1980, a Livraria Cortez e a Cortez Editora. Começou assim: o professor Antônio Joaquim Severino fez uma apostila em mimeógrafo e depois numa pequena gráfica para seus alunos. “Sempre vinha algum aluno me perguntar se eu não vendia aquela apostila”, contou Cortez na mesma entrevista ao Estadão. Foi atrás do professor, que lhe entregou cerca de 20 exemplares – vendidos num piscar de olhos.

Cortez em sua melhor companhia - Foto: Folha de São Paulo

   Cortez, que não sabia nada sobre os processos editoriais, se ofereceu para transformar a apostila em livro. E ela virou Metodologia do Trabalho Científico, primeira obra da Cortez que é um sucesso comercial até hoje.

  A editora publicaria, ao longo de sua história, obras acadêmicas e livros infantis. “Publicar livros para trazer ensinamentos é tão importante quanto plantar o tomate que vai servir de alimento”, disse o editor.

   Sr. Cortez, que foi diretor da Câmara Brasileira do Livro, virou nome de escola e foi homenageado, em 2005, com o título de cidadão, pela Câmara Municipal, teve sua história contada no documentário O Semeador de Livros. Em 2016, a Livraria Cortez, em Perdizes, deixou de comercializar livros de outras editoras e passou a ser apenas um ponto de venda das obras da Cortez.

   Durante a quarentena, em outubro de 2020, ele lançou o livro Tempos de Isolamento, escrito com a jornalista Goimar Dantas.

https://istoe.com.br/morre-jose-xavier-cortez-fundador-da-editora-cortez-aos-84-anos/

quinta-feira, 23 de setembro de 2021

setembro 23, 2021 Por Alexandre Morais Sem comentários

 

Maciel Melo - Crônicas de um cantador

setembro 23, 2021 Por Alexandre Morais Sem comentários

Mariposa branca

Maciel Melo. Foto: Claudio Gomes


Não podia errar nos preâmbulos, a introdução era fundamental para o desfecho daquele concerto apresentado para um público fiel, que o amava e do qual emanava uma energia cósmica em direção ao tablado que penumbrava em finos fios de fumaça e luz. Cada canção tinha um segredo guardado atrás do tema. E foi abrindo os olhos, tirando a vista da batuta invisível que regia seu subconsciente, desembassando a íris, enxergando cada sorriso que se espalhava no quintal da casa da gente.

De repente o seu olhar se estreita, e como um fino fio de laser mira um ponto fixo lá num canto da platéia. Era o vulto esvoaçante de uma linda borboleta. Uma mariposa branca, um olhar azul anil. Diz a lenda que as mariposas brancas são raríssimas e quando aparecem é sinal de paz. Uma sensação inquietante, a partir dali, mudaria o roteiro do espetáculo, que evoluiu de um simples concerto para uma ópera em vários atos, sendo que cada ato começava na deixa do ato anterior. Se agigantou, se fez poema, virou serenata e orquestrou uma sinfonia repleta de acordes dissonantes, maiores e menores, para servir de pano de fundo ao teatro da vida. Era pra ser só o vulto de uma mariposa, apenas um vulto. Uma miragem, um flash, um flerte, um relâmpago qualquer. Era pra ser só um som, um sereno, mas aí nublou, trovejou, choveu, se fez riacho, virou rio, transbordou, entrou num remanso e desaguou num mar de águas cristalinas. Içou as velas, soltou a âncora, e velejou no eco daquela imensidão entoando uma melodia vinda dos oceanos abissais. Marejou, flutuou sobre as ondas sonoras do momento, e foi trazendo em seus sons fragmentos de canções orquestradas pelos deuses, para compor a música da dança das borboletas.

setembro 23, 2021 Por Alexandre Morais Sem comentários


 

Ademar Rafael - Crônicas de Bem Viver

setembro 23, 2021 Por Alexandre Morais Sem comentários

Pouca evolução

Ademar Rafael

   Se fizéssemos uma comparação entre as práticas dos donos do poder e a Teoria da Evolução, defendida por Charles Darwin em “Origem das Espécies” publicado no ano de 1859, observaríamos total incompatibilidade na relação dos estudos do biólogo e naturalista britânico com as práticas brasileiras. Leiam e tirem suas conclusões.

   O escritor Laurentino Gomes, no segundo livro da trilogia “Escravidão”, cita um registro da inglesa Jemima Kindersley, datado de 1764, do qual transcrevemos uma parte. “…É política assente do governo manter o povo na ignorância, já que isso o faz aceitar com mais docilidade as arbitrariedades do poder.”

   Na mesma obra o jornalista paranaense relata com extrema clareza o loteamento das capitanias entre “amigos do rei”, o compadrio e as nomeações de parentes. Considerando que a questão das capitanias é mencionada em nossa história, vamos aqui citar o caso em que o poderoso ministro do rei Dom José I, Sebastião José de Carvalho e Melo – Marquês de Pombal, nomeou seu irmão Francisco Xavier de Mendonça Furtado como Governador do Grão-Pará e Maranhão.

   Os donatários das capitanias ocupam atualmente áreas menores, divididas em estados e municípios e os critérios de indicação para cargos vitalícios e de alta gestão continuam com os vícios do tempo do império.

   Ainda segundo Gomes, no século XVIII várias áreas do país eram infestadas por bandos de salteadores que dominavam o espaço à revelia da lei e da ordem, extorquindo, roubando e matando. Com o tempo os nomes destes foras da lei foram sendo alterados: Cangaceiros, pistoleiros de aluguel, esquadrão da morte, crime organizado, milícias, novo cangaço e outros, as práticas e os objetivos seguem os mesmos. Com as ponderações acima, mesmo sendo variáveis diferentes, podemos afirmar que as espécies evoluíram mais que o jeito brasileiro de ser?

Publicado originalmente no Blog do Finfa

quarta-feira, 22 de setembro de 2021

Jéssica Caetano é Triunfo na Espanha

setembro 22, 2021 Por Alexandre Morais Sem comentários

Imagem: Fabi Velôso

   Jéssica Caitano (Triunfo-PE) e Luana Flores (João Pessoa-PB) apresentam-se em Santiago de Compostela- Espanha, nesta sexta (24) no Festival Maré - músicas e artes atlânticas. 

   "Com uma edição renovada e no auge dos grandes festivais, a maré, a música e as artes atlânticas regressam de 23 a 26 de setembro a Compostela. Serão quatro dias de atividades num programa multidisciplinar que reúne mais de 30 propostas musicais e artísticas de uma dezena de países, que colocam a Galiza no epicentro da vanguarda criativa mundial.

   A maré 21 aposta na criação da mulher e da juventude , na experimentação , nas novas linguagens artísticas e na diversidade cultural, apostando nos territórios com os quais a Galiza partilha laços linguísticos, históricos e outros sentimentais nos dois lados do Atlântico .

  Artistas-ativistas como as brasileiras Bia Ferreira, Jéssica Caitano e Luana Flores , a fusão eletro andina da argentina Nación Ekeko , o calipso do colombiano Elkin Robinson ou a paraguaia de origem guarani Norma Ávila contribuirão com parte do grande poder vingativo presente nas "veias abertas" da América Latina. Sua presença na maré 21 pretende ser uma pequena amostra do que o continente sul-americano está exigindo com a música e outras criações artísticas como veículos de expressão e disseminação de mensagens

Jéssica Caitano (Triunfo-PE) e Luana Flores (João Pessoa-PB) apresentam-se em Santiago de Compostela- Espanha, nesta sexta (24) no Festival Maré - músicas e artes atlânticas. 

"Com uma edição renovada e no auge dos grandes festivais, a maré, a música e as artes atlânticas regressam de 23 a 26 de setembro a Compostela. Serão quatro dias de atividades num programa multidisciplinar que reúne mais de 30 propostas musicais e artísticas de uma dezena de países, que colocam a Galiza no epicentro da vanguarda criativa mundial.

A maré 21 aposta na criação da mulher e da juventude , na experimentação , nas novas linguagens artísticas e na diversidade cultural, apostando nos territórios com os quais a Galiza partilha laços linguísticos, históricos e outros sentimentais nos dois lados do Atlântico .

Artistas-ativistas como as brasileiras Bia Ferreira, Jéssica Caitano e Luana Flores , a fusão eletro andina da argentina Nación Ekeko , o calipso do colombiano Elkin Robinson ou a paraguaia de origem guarani Norma Ávila contribuirão com parte do grande poder vingativo presente nas "veias abertas" da América Latina. Sua presença na maré 21 pretende ser uma pequena amostra do que o continente sul-americano está exigindo com a música e outras criações artísticas como veículos de expressão e disseminação de mensagens.

terça-feira, 21 de setembro de 2021

De volta pro aconchego

setembro 21, 2021 Por Alexandre Morais Sem comentários

 

O compositor Nando Cordel conta pro jornalista Danilo Ribeiro, e pra gente também, a história da música De volta pro aconchego. Clica aí e vê que arretado.

Mesa de Glosas de Tabira

setembro 21, 2021 Por Alexandre Morais Sem comentários

Assistiu a Mesa de Glosas do Pajeú este ano de 2021? Então clica aí e vê tudo.

quinta-feira, 16 de setembro de 2021

Filme de pernambucana é selecionado para 'IV Mostra Sesc de Cinema'

setembro 16, 2021 Por Alexandre Morais Sem comentários


Do G1 Caruaru 

  O Sesc anunciou a lista de filmes selecionados para a IV Mostra de Cinema após receber mais de 1.9 mil obras de cineastas de todas as regiões do Brasil. No total, 31 produções, sendo 8 longas e 23 curtas, serão exibidas na mostra nacional on-line, que será realizada em novembro. “O bem virá”, da pernambucana Uilma Queiroz, vai integrar a programação nacional do projeto.

   Nascida em Carnaíba e moradora de Afogados da Ingazeira, no Sertão de Pernambuco, ela foi a única selecionada no estado na grade da IV Mostra de Cinema, que vai acontecer de forma online em novembro. O filme dela, que é professora, pesquisadora, produtora cultural e realizadora audiovisual, também vai compor a programação do recorte estadual do projeto, que vai acontecer no mesmo mês com exibições presenciais em unidades do Sesc, juntamente com mais 20 obras locais.

  “É uma oportunidade de exibir levar para as telas de vários estados brasileiros as desigualdades territoriais. Eu fico muito feliz de saber que alguém vai poder ouvir o que as protagonistas têm a dizer e trazer reflexões”, comenta a produtora.

   No filme, que tem duração de 79 minutos e classificação etária livre, ela resgata a história da seca no sertão de Pajeú, na década de 1980, a partir da conversa com trezes mulheres que lutaram pelo direito à sobrevivência, em um contexto em que ser mulher era se limitar à função de administrar a miséria.


   Elas chegaram a Uilma por meio de uma fotografia de 1983 em que elas aparecem grávidas. Desta imagem para a tela, a construção do filme aconteceu em conversa com todas elas, tendo como pauta a vida.

Secretaria da Mulher abre inscrições para selecionar artesãs para a 21ª Fenearte

setembro 16, 2021 Por Alexandre Morais Sem comentários


   A Secretaria da Mulher de Pernambuco (SecMulher-PE) está com inscrições abertas para mulheres artesãs que tenham interesse em participar da maior feira de artesanato da América Latina – 21ª Feira Nacional de Negócios do Artesanato (Fenearte), que acontece de 10 a 19 de dezembro de 2021. O período de inscrições vai de 15 de setembro a 4 de outubro pelo site: secmulher.pe.gov.br. Podem concorrer ao edital que selecionará 20 grupos de artesãs para expor seus produtos no Estande Institucional SecMulher-PE, associações, cooperativas, redes de produção e comercialização e grupos produtivos de artesanatos formais ou informais, que residam em Pernambuco.

Outra atração da feira é o Desfile da Passarela Fenearte. Quem participar da concorrência também terá a oportunidade de ser selecionada entre dois grupos que participarão do desfile. O edital com todas as informações e instruções, bem como o formulário de inscrição, está disponibilizado no site: secmulher.pe.gov.br.

  Em caso de dificuldade para realizar a inscrição pela internet, uma representante do grupo ou a gestora do Organismo Municipal de Políticas para as Mulheres poderá dirigir-se à Coordenadoria de Trabalho e Renda na sede da SecMulher-PE. O atendimento será realizado, dentro do período da inscrição, no horário das 9h às 14h, de segunda à sexta-feira, na Rua Cais do Apolo, 222, 4º andar, Bairro do Recife – Recife/PE, sob agendamento através dos telefones (81) 3183.2960 ou 3183.2973.

  A coordenadora de Trabalho e Renda da SecMulher-PE, Lúcia Costa, lembra que é importante que as interessadas leiam com atenção o edital, antes de começar a preencher o formulário, para estarem cientes dos procedimentos para o certame e a dinâmica do estande e sua logística durante os 10 dias de feira. Após o término das inscrições, será realizada nos dias 13 a 14/10/21, a seleção dos produtos através de equipe de curadoria especializada. A divulgação dos grupos selecionados acontecerá em 18/10/2021, através do site e demais mídias da SecMulher-PE. Mais informações: (81) 99656-6948 (Lúcia Costa – Coordenadora de Trabalho e Renda da SecMulher-PE).

Fonte: SecultPE

Missa do Poeta sem apoio da prefeitura de Tabira - É a primeira vez em 31 anos

setembro 16, 2021 Por Alexandre Morais Sem comentários



Por Júnior Alves/Rádio Cidade

Setembro chegou e como manda a tradição vem aí mais uma Missa do Poeta que lembra Zé Marcolino e esse ano, em sua 34ª edição, homenageia o padre e poeta Luizinho, grande incentivador da cultura no Pajeú. Em Tabira essa será a 31ª edição do evento. As outras três aconteceram em Serra Talhada, onde tudo começou.

Observando todos os protocolos de segurança relacionados à pandemia, este ano a Mesa de Glosas acontecerá novamente com a presença de público na sexta-feira, dia 17. Para isso, estão sendo disponibilizadas 200 senhas para as pessoas que queiram se fazer presentes no auditório da Escola Arnaldo Alves. Mesmo assim a transmissão será feita também pelo canal da APPTA no YouTube. Além dos poetas glosadores, o evento contará com a abertura do cantor Neto Sales.

Para o sábado, dia 18, a celebração poética acontecerá às 19h na Igreja Matriz Nossa Senhora dos Remédios e após a missa uma homenagem vai acontecer para o Padre Luizinho na calçada da igreja. Mais uma vez não haverá shows como tradicionalmente acontece.

Falando ao Programa Cidade Alerta, da Rádio Cidade FM, a presidente da APPTA – Associação dos Poetas e Prosadores de Tabira – Neide Nascimento, relatou as dificuldades financeiras que a entidade sempre encontrou ao longo dos anos com as gestões municipais. 

Somente este ano, cinco ofícios foram enviados ao governo municipal cobrando a subvenção, porém, nem uma simples resposta aos ofícios obtiveram.

Diante das negativas, a presidente disse que não procurou a gestão para falar sobre a Missa do Poeta já antevendo que não teriam sucesso no apoio. 

“É triste essa constatação que a Missa do Poeta é olhada com olhos tão pouco afetivos pelas gestões. É uma pena porque é uma festa tão bonita”, lamentou Mônica Mirtes, tesoureira da APPTA.

Em 31 anos de Missa do Poeta em Tabira esta será a primeira vez que o evento irá acontecer sem o apoio da prefeitura. “Enquanto as gestões não entenderem a importância que a cultura tem, muita coisa não será mudada”, destacou Neide Nascimento

quarta-feira, 15 de setembro de 2021

Caio Fernando Abreu - Ontem chorei

setembro 15, 2021 Por Alexandre Morais Sem comentários



Ontem chorei.

Por tudo que fomos.

Por tudo o que não conseguimos ser.

Por tudo que se perdeu.

Por termos nos perdido.

Pelo que queríamos que fosse 

e não foi.

Pela renúncia.

Por valores não dados. 

Por erros cometidos. Acertos não comemorados. 

Palavras  dissipadas. Versos brancos.

Chorei pela guerra cotidiana. Pelas tentativas de sobrevivência.

Pelos apelos de paz não atendidos.

Pelo amor derramado. Pelo amor ofendido e aprisionado. Pelo amor perdido. Pelo respeito empoeirado em cima da estante.

Pelo carinho esquecido junto das cartas envelhecidas no guarda-roupa.

Pelos sonhos desafinados, estremecidos e adiados.

Pela culpa. Toda a culpa. Minha. Sua. Nossa culpa.

Por tudo que foi e voou. E não volta mais, pois que hoje já é outro dia.

 Caio Fernando Abreu

terça-feira, 14 de setembro de 2021

Ronaldo Correia de Brito - O equívoco de Ariano Suassuna

setembro 14, 2021 Por Alexandre Morais Sem comentários

Ronaldo Correia de Brito

   Quando conheci Ariano Suassuna (foto abaixo), frequentando o Departamento de Extensão Cultural da UFPE, do qual ele era diretor, Ariano achava que a cultura norte-americana levaria a cultura brasileira ao colapso. Vivíamos o período mais sombrio da ditadura militar, as patrulhas esquerdistas censuravam até quem bebia Coca-Cola. Mesmo sendo de esquerda, eu não escondia meu gosto pelo blues e jazz, cinema e literatura dos Estados Unidos. Alguém já abrira meus ouvidos e eu identificava a matriz comum da música negra americana com o samba e o ritmo caribenho. Por cima, eu amava Caetano e Gil, o tropicalismo e a antropofagia, movimentos que Ariano nunca aceitou. Fiel ao canibalismo eu supunha que o colonizado terminava por assimilar o melhor da cultura dominante, transformando-a e dando a ela uma identidade própria. Não atinava por que Ariano defendia nossa formação ibérica e recusava qualquer expressão made in USA. Mal sabia ele que o “Inimigo” se gestava entre muros, crescia como um Golem.

   Já na década de 1970, eu ia aos candomblés do Recife, por curiosidade e porque gostava dos toques e do ambiente religioso. Tinha vários pacientes e amigos de trabalho que frequentavam os terreiros, até acompanhei a pesquisa de dois antropólogos. Tornei-me assíduo ao candomblé e observei o número cada vez menor de praticantes da religião, enquanto cresciam os cultos evangélicos. Nos hospitais, onde identificava filhos e filhas de santo, eles se tornavam raros, ou porque trocavam de culto ou porque tinham medo e vergonha de confessar que eram xangozeiros, como os designavam com preconceito. Passei a escrever minhas observações. A crônica “Sob camadas de esquecimento” relata uma ocorrência de enfermaria, a história da mulher negra, idosa, filha de Nanã Buruku, que pressente a morte próxima e canta um ponto, apelando à orixá que venha buscá-la. Eu escuto e reconheço. Chego perto, finjo não saber de nada, peço que me revele que canção dolorosa é aquela. Ela insiste tratar-se de um hino evangélico. Percebo o medo e a vergonha. Volto a essa história no romance Dora sem véu, tanto me impressionou.

   O mesmo fenômeno aconteceu nas brincadeiras populares, caboclinho, maracatu de baque solto e virado, la ursa, boi, uma deserção alarmante. Perguntava por um brincante e respondiam que não brincava mais, entrara para a “lei de crente”. Temi pelo nosso futuro. Até que uma geração mais nova reagiu, assumiu-se como negro e afrodescendente, sentiu orgulho da cultura ancestral e já é visível o resultado aqui em Pernambuco e em todo o Brasil. Os brincantes crescem em número, mas os evangélicos crescem mais, em escala geométrica. Preocupa-me a interpretação que fazem da Bíblia, um caminho que não se abre a novas experiências, nem na literatura, nem no cinema, nem na música. Me pergunto se o gospel e os hinos por eles entoados irão alcançar a expressão da música negra americana. O processo de evangelização foi diferente nos dois países, ainda não é possível avaliar o que os evangélicos brasileiros almejam, além da ascensão social.

   Só existe um livro para eles: a Bíblia. Assemelha-se à ortodoxia judaica com a Torá, e ao islamismo com o Alcorão. Pregando em todos os lugares, sem nunca cansarem, os evangélicos demonizaram a cultura brasileira com a tirania do pecado, a ameaça do Inimigo e do fogo da Geena. Os mais atacados por eles são os candomblés, de maioria negra, afrodescendentes que não escondem sua origem, não se disfarçam em brancos. Os templos evangélicos também são frequentados por fieis de ascendência negra, mas que negam a cultura de matriz africana e a demonizam.

   Porém, o que me preocupa mais é a escalada dos evangélicos na política, a ponto de constituírem blocos na câmara federal, em assembleias estaduais e câmaras municipais. Há bons políticos e pastores entre eles, mas a maioria se alinha com discursos homofóbicos, conservadores, a favor da censura de livros e repressão militar, tendendo à direita extrema.

  Nesse cenário, a literatura sofre e se fragiliza. Temos uma população de analfabetos funcionais, que não leem, e uma população crescente de leitores que reconhecem um único livro, recusa o legado da poesia, do romance, de contos, novelas e peças teatrais. A Bíblia é lida como verdade absoluta, dogma, Palavra de Deus, e não como um livro de narrativas, escrito por diversos autores, conforme sempre imaginei e defende o professor Robert Alter, no seu livro A arte da narrativa bíblica.

   Torna-se difícil ou quase impossível chegar aos potenciais leitores, cerca de um terço da população do Brasil, tentando conquistá-los para a literatura e as artes em geral. Nesse ano e meio de governo “evangélico” conservador, houve investidas para desmontar o que foi construído na educação e na cultura, censura e obscurantismo semelhantes aos dos regimes totalitários da Alemanha nazista, Rússia comunista, China maoísta e países islâmicos radicais.


Publicado originalmente em https://www.ronaldocorreiadebrito.com.br/site2/2021/09/o-equivoco-de-ariano-suassuna/

Forró e Poesia pajeuzeiras na tela da TV

setembro 14, 2021 Por Alexandre Morais Sem comentários

   Mais uma vez o Pajeú desaguou em João Pessoa - PB. E de novo foi no Programa Cantos & Contos, da TV Correio/Rede Record.

  No palco do programa, que é o mesmo do Bar e Restaurante Bessa Grill, brilharam Genailson do Acordeon, Nego Adelmo, Valmir Zabumbada e Marquinhos da Serrinha. Foi forró e poesia do tanto que o Pajeú sabe fazer.

   É só clicar aí abaixo e assistir o programa inteirinho. Acunha!

domingo, 12 de setembro de 2021

José Lins do Rego

setembro 12, 2021 Por Alexandre Morais Sem comentários



   Em 12 de Setembro de 1957 Morre o escritor José Lins do Rego

   Considerado um dos inventores do novo romance moderno brasileiro, o escritor José Lins do Rego Cavalcanti morria em um dia como hoje, no ano de 1957, no Rio de Janeiro. Nascido em Pilar, na Paraíba, em 3 de junho de 1901, seu romance de estreia foi Menino de Engenho (1932), obra  elogiada pela crítica. 

 Seus livros consistem em um marco à literatura regionalista por retratar o declínio do ciclo da cana-de-açúcar no nordeste brasileiro. Para isso, na visão de alguns críticos, o escritor empregou uma forma inovadora de contar histórias pelo uso de "um ritmo oral".

  Em 1926, ele se mudou para Maceió, onde se reunia com Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz e Aurélio Buarque de Holanda. Depois, em 1935, já no Rio de Janeiro, escreveu para os Diários Associados e O Globo.

 Seus romances publicados são: Menino de engenho (1932), Doidinho (1933), Bangüê (1934), O Moleque Ricardo (1935), Usina (1936), Pureza (1937), Pedra bonita (1938), Riacho doce (1939), Água-mãe (1941), Fogo morto (1943), Eurídice (1947), Cangaceiros (1953), Histórias da velha Totonha (1936) e Meus Verdes Anos, de memórias (1956).

Fonte: History

Colaboração: Jair Som

quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Maciel Melo - Crônicas de um Cantador

setembro 09, 2021 Por Alexandre Morais Sem comentários

 


O regresso de uma juventude equivocada


      Quando as velhas formas de destruição renascem, é porque o chão da esperança está ficando cansado. É preciso renovar o solo, amolar o arado, preparar a terra, e rejuvenescer a força da liberdade para poder retomar o direito à vida, a paz, a igualdade, a cidadania, ao direito de ir e vir, de falar, de pensar, enfim... ao verdadeiro sentido da palavra amor.

      Quando me deparo com o semblante de uma juventude, envelhecido, me dá pena, e pena não é um sentimento bom. Não falo envelhecido no sentido de idade, mas de pensamento, de ideias, de futuro, de coletividade, de um por todos e todos por um. 

      Um dia, também me vesti de verde e amarelo; pendurei uma bandeira no braço do violão, e saí “Caminhando, cantando, e seguindo a canção...” Muitos anos de espera até o momento de libertar meu canto e poder escolher o mote para a próxima canção; de poder dizer “sim e não a reis e rainhas”, e “de peito aberto” gritar a minha liberdade, podendo escolher o chefe da nação onde eu nasci.

O Brasil é o chão que eu piso, e eu preciso dele plano, pleno, firme e forte, para que eu possa continuar minha jornada, “sem medo de ser feliz”. Já cheguei quase perto, já fui muito longe, andei léguas além. Sempre houve pedras no meio do caminho; tirei todas, e vou tirar tantas quanto preciso for. As mais leves, eu chutava; as mais pesadas, eu esperava chegar um camarada e pedia ajuda. Às vezes, pegávamos uma vara de marmeleiro para facilitar a remoção; ela se quebrava; pegávamos duas; elas quebravam-se, pegávamos três; elas envergavam, pegávamos quatro, formávamos um feixe, e fazíamos a força. Mais adiante, no mesmo caminho, outra pedra, dessa vez ainda maior. Aí, já não estava só, éramos dois; esperávamos mais alguém que viesse em nossa trilha, e somávamos três, e depois quatro, e depois cinco... e não deixávamos que as pedras criassem limos no meio do caminho. Já éramos multidão.

      Semeei amores, germinei afetos, escoei a chuva para não ser tempestade. Nunca tive tanto, mas o pouco que tive  dividia para ser muito mais. Talvez seja por isso que nunca me iludi com a ganância do vil metal.