quinta-feira, 23 de maio de 2019
terça-feira, 21 de maio de 2019
Fazendo arte
Poeta Gislândio Araújo, Brejinho -PE |
Crônica de Ademar Rafael
Publicada no Blog do Finfa
Os poetas Dedé Monteiro, Alexandre Morais, Vinicius Gregório e
Ayrton Queiróz e a poetisa Izabela Ferreira não exageraram ao comentar
e prefaciar, no caso de Vinicius, o livro “Fazendo Arte”, do jovem
poeta Gislândio Araújo.
Dedé destaca a sensibilidade e a leveza da alma do poeta de
Brejinho; Alexandre dar relevo ao surgimento de novos e bons poetas em
nossa região; Ayrton e Izabela focam seus comentários na precocidade
de Gislândio na produção de poesias e Vinícius com extrema
maestria aborda o fenômeno do ídolo virar fã, cita o que ocorreu com
Dedé em relação a ele e dele em relação ao autor de “Fazendo Arte”. Isto
é, o ídolo do jovem poeta passa a ser fã.
Quando mergulhamos nas poesias inseridas no livro descobrimos
muita coisa boa. Para este cronista o maior destaque fica por conta da
rica produção conter o jeito e o cheiro das poesias do nosso Pajeú.
Para não antecipar o conteúdo do livro irei citar pontos relevantes
sob meu olhar de admirador da poesia. Para apreciação, do poema “Cego
de Alma”, transcrevo a seguinte quadra: “De dose em dose ele ia,/Por
conta
própria tomava./Quando não tinha, pedia/E tendo, continuava…” Amigos e amigas, arranjos como estes, mesmo reconhecendo minhas limitações, só identifico em poesias geradas nas margens do Pajeú.
própria tomava./Quando não tinha, pedia/E tendo, continuava…” Amigos e amigas, arranjos como estes, mesmo reconhecendo minhas limitações, só identifico em poesias geradas nas margens do Pajeú.
O livro fala de amor, roedeira, problemas sociais, natureza e muito
mais, os estilos são diversos. O registro de estrofes produzidas em
“Mesa de Glosa” merece um comentário especial. Considero o modelo como
o maior laboratório para testar a capacidade de improviso de um poeta.
Ali sem a viola o poeta apresenta seu potencial, sua munição e despeja
sua cachoeira de rimas sobre a platéia e os oponentes. Obrigado
Gislândio, por contribuir com a missão de eternizarmos o sertão do
Pajeú, nossa rica poesia tem passado, presente e futuro.
domingo, 19 de maio de 2019
Menino paulista realiza sonho de construir uma 'cordelteca'
Quando um pequeno morador do interior paulista começou a se
interessar por expressões artísticas que remetem aos rincões
brasileiros, as frases ainda eram pueris. "Aos três anos, já gostava
muito de sertanejo de raiz; com cinco anos assisti ao filme 'Lampião - o
Rei do Cangaço', me apaixonei. Depois, descobri o cordel e assim foi
fluindo naturalmente", conta Pedro Popoff, que hoje está com 13 anos.
O amor pela literatura nordestina o fez adotar informalmente o
sobrenome "Cordel" e disseminar para outras crianças o conhecimento que
acumulou ao longo da pouca idade. O projeto educativo em escolas
apresenta o livreto de poesias que carrega a tradição do interior
brasileiro em versos e prosas.
A iniciativa ganhou projeção nacional e o menino descendente de
russos e apaixonado pelo Nordeste sentiu que estava na hora de dar um
passo maior: fundar uma cordelteca na cidade onde mora, Bauru,
localizada no interior de São Paulo. "Há uns dois anos, eu já vinha
pedindo por um espaço na loja da minha mãe, em uma salinha que estava
isolada. Ela cedeu a sala, depois viu que era muito pequena e me deu o
escritório, que tá também no mesmo terreno", conta Pedro do Cordel.
União de poetas
Para o sonho ganhar formas concretas, alguns entraves tiveram que ser
vencidos. O teto carecia de reparos contra a chuva e o ambiente
precisava de móveis. A saída encontrada pela família foi iniciar uma
vaquinha online para arrecadar R$ 6,3 mil, mas só pouco mais de 40% da
meta foi alcançada.
"A gente teve que lutar muito para conseguir renda, não tivemos apoio
de políticas públicas. Mas conseguimos, graças a Deus", diz Pedro. O
dinheiro para a reforma saiu das reservas financeiras dos próprios pais,
Marcelo e Carla.
Se o auxílio financeiro teve pouca adesão, o cultural se avolumou e
materializou-se em centenas de exemplares de cordel. "A Academia
Brasileira de Literatura de Cordel nos enviou 800 títulos", comemora
Pedro. Poetas de diversos lugares também atenderam ao chamado do pequeno
entusiasta. "Recebemos da Isabel Nascimento, Academia Alagoana de
Cordel, Cleusa Santos, Joab Nascimento, Ednaldo Alves de Oliveira,
Francisco de Assis, Tião Simpatia, Kydelmir Dantas, Pedro Queiroz e do
Chico Vaqueiro, que inclusive mandou um gibão do acervo pessoal", cita, a
mãe, alguns nomes que estampavam as entregas dos Correios. Atualmente, a
quantidade de folhetos no acervo já ultrapassou duas mil obras.
Homenagem a cearense
Inaugurada no fim do mês passado, a cordelteca recebeu o nome de
Gonçalo Ferreira da Silva, poeta nascido no município de Ipu, no Ceará,
atual presidente e um dos fundadores da Academia Brasileira de
Literatura de Cordel (ABLC).
A homenagem foi indicação do cantor Moraes Moreira, ocupante da
cadeira 38 da ABLC. "Fui a um show dele e minha mãe conseguiu que a
gente entrasse no camarim. Mostramos pra ele tudo; o meu trabalho e
falamos da cordelteca. Daí ele deu a ideia de colocarmos o nome do
Gonçalo Ferreira", detalha o garoto.
No dia da abertura do espaço ao público, o notável cearense foi um
dos convidados presentes e discursou sobre o momento especial. "Uma
iniciativa espetacular do Pedrinho, que já não é fora de tempo. Na
verdade, ele tem se dedicado de corpo e alma à difusão da literatura de
cordel por onde anda e deixa um rastro de luz na história da cultura
nacional", reconheceu o presidente da ABLC.
O poeta cearense Klevisson Viana festeja a pertinência da
implantação. "É uma prova da vitalidade e vigor dessa nossa literatura
de cordel, que hoje deixou de ser um fenômeno genuinamente regional,
passou a ser nacional e muitas vezes até internacional", pontua.
Andanças pelo Nordeste
No ano passado, Pedro do Cordel esteve no Ceará para aprofundar o
conhecimento na cultura nordestina. Ele veio a convite do seminário
Cariri Cangaço, evento com 10 anos de existência que se debruça sobre a
historiografia cangaceira da região. O encontro já reuniu mais de 700
pesquisadores e 50 mil pessoas somadas todas as edições.
"Pedro esteve conosco em duas edições, uma em Exu, em Pernambuco, e
outra aqui em Fortaleza. Pedro encantou a todos pelo profundo amor à
cultura do sertão e pelo pleno conhecimento, apesar de bem jovem",
recorda Manoel Severo, organizador do seminário.
Ele aponta ainda a relevância da cordelteca como memória para os
imigrantes nordestinos. "É importante a criação de um equipamento como
esse para Bauru, no estado de São Paulo. A própria capital paulista foi
construída e é mantida, em boa parte, pela força de trabalho do
nordestino, e uma iniciativa ousada e inédita de um garoto perpetua a
força dessa cultura. Nada mais forte do que representar a cultura do
Nordeste com o cordel".
Intercâmbio de cultura
Da vivência, Pedro guarda com afeto. "Aprendi bastante coisa sobre
literatura de cordel e voltei com um pouquinho mais de bagagem na mala.
Conheci muitas pessoas", conta ele, que encantou-se também por
Fortaleza. "É uma cidade muito grande e linda, me diverti bastante. Foi
um marco na minha vida. Nunca esquecerei esses dias que vivi".
Anteriormente, ele já havia viajado a Juazeiro do Norte, Nova Olinda,
onde conheceu o mestre Espedito Seleiro e a Fundação Casa Grande, e ao
Crato.
Foi nessa última cidade que visitou o Museu de Luiz Gonzaga, fundado
por Pedro Lucas, 14 anos. O cratense elogia a ação do xará, com quem
soma saberes desde 2016 e já se encontrou algumas vezes. "O Nordeste por
muito tempo foi tão sofrido por causa do preconceito. Ele, assim como
eu, começou a gostar muito novo e um sulista, como a gente dizia
antigamente, ser tão interessado por uma cultura tão linda como a
nordestina é imensamente importante. Então, isso só vem a melhorar,
expandir e divulgar a cultura nordestina".
As experiências acumuladas ajudam a basilar um sonho grandioso de
Pedro Popoff para o futuro. "Quero continuar com a questão do cordel e
um dia me tornar presidente do Brasil. E não é brincadeira isso", diz
com seriedade e emenda sobre quais temas seriam prioridade para ser
bem-sucedido no Palácio do Planalto. "Iria valorizar primeiro a cultura e
a educação".
.
Matéria e fotos copiadas de: https://diariodonordeste.verdesmares.com.br
Colaboração: Elaine Rodrigues
sábado, 18 de maio de 2019
Menino, vá estudar
Menino, vá estudar
Juízo na seca seca
Veja na biblioteca
O que tem a lhe esperar
Leia José de Alencar
Em sua obra completa
Leia sem fazer dieta
Um Cassimiro de Abreu
Leia Augusto em seu “EU”
Mas conheça o meu poeta
Um Lobato, que fez belo
Leia, releia e cite-o
E se embrenhe pelo Sítio
Do Pica Pau Amarelo
Veja o recado singelo
Duma Cecília, a discreta
Leia sem definir meta
Sem contar a quantidade
Devore Drummond de Andrade
Mas conheça o meu poeta
Castro Alves e Amado
Os gênios da terra mansa
Carregue em sua lembrança
Como um tesouro guardado
Dum Neruda em separado
Faça leitura seleta
Leia numa tarde quieta
Um Fred Garcia Lorca
Ariano e sua porca
Mas conheça o meu poeta
Leia Bilac e Raquel
Bandeira como se manda
E dos Buarque de Holanda
Tudo que foi pro papel
Pessoa, a pena fiel
Guimarães, pena arquiteta
Machado que ninguém veta
Saramago e mais uns cem
Leia lá nem sei mais quem
Mas conheça o meu poeta
Meu poeta, igual aos tais
Mas sem saber científico
Sem qualquer título honorífico
Produz obras geniais
Sem contestar os demais
Atrai olhares pra si
Afina a viola em mi
Canta o local e o estrangeiro
Se cantar o mundo inteiro
Meu poeta é esse aí
Sem mídia, dinheiro ou fama
Sem certeza do amanhã
Da natureza é um fã
E a própria arte ama
A noite é a sua dama
Seu guia, o colibri
Que não aceita jequi
E nem se dá com gaiola
Se faz da vida uma escola
Meu poeta é esse aí
Meu poeta é andarilho
Um tangedor, almocreve
Que seu próprio livro escreve
Sob a lua com seu brilho
Seja pai ou seja filho
Faz do lar qualquer ali
Igualmente ao jabuti
Junto ao corpo leva casa
Se com nada se atrasa
Meu poeta é esse aí
< Alexandre Morais >
Atirem-me um lápis
Atirem-me um lápis.
Disparem em mim, façam qualquer gesto que seja digno de minha morte.
Espoletem palavras de ordem, de progresso, de educação e de vida.
A nossa pólvora é feita do grafite que acende a sabedoria do povo brasileiro. Uma nação sã não foge à luta. Somos escaldados, mas não temos medo de água fria, muito menos de cara feia.
Quando o educador Paulo Freire engatilhava as espirais, partindo de um ponto cego, na intenção de unificar as margens das páginas da educação no Brasil, sem distinção de cor, raça, sexo, religião e nível social, lhe alvejaram na calada da noite, e rasgaram o único método da língua portuguesa direcionado aos fracos e oprimidos.
Atirem-me, pois, um lápis. Metralhem-me com rajadas de verbos, de sílabas, exclamações, reticências... e aí, morrerei, sangrando a essência do povo de minha terra. Terra de Zumbis, de Gracilianos, de Gregórios Bezerras, de Vitorinos e Lourivais. Terra dos Joões Paraibanos, Ivanildos, Pedrosas, dos Sertões, dos Carrascais. Terra Ariânica, de Manoel Bandeira, Leandro Gomes de Barros, Patativa, Josué de Castro, Chico Sciencie e muito mais.
Atirem-me, já, um lápis.
A nossa pólvora é feita do grafite que acende a sabedoria do povo brasileiro. Uma nação sã não foge à luta. Somos escaldados, mas não temos medo de água fria, muito menos de cara feia.
Quando o educador Paulo Freire engatilhava as espirais, partindo de um ponto cego, na intenção de unificar as margens das páginas da educação no Brasil, sem distinção de cor, raça, sexo, religião e nível social, lhe alvejaram na calada da noite, e rasgaram o único método da língua portuguesa direcionado aos fracos e oprimidos.
Atirem-me, pois, um lápis. Metralhem-me com rajadas de verbos, de sílabas, exclamações, reticências... e aí, morrerei, sangrando a essência do povo de minha terra. Terra de Zumbis, de Gracilianos, de Gregórios Bezerras, de Vitorinos e Lourivais. Terra dos Joões Paraibanos, Ivanildos, Pedrosas, dos Sertões, dos Carrascais. Terra Ariânica, de Manoel Bandeira, Leandro Gomes de Barros, Patativa, Josué de Castro, Chico Sciencie e muito mais.
Atirem-me, já, um lápis.
< Maciel Melo >