Mais uma vez valho-me da linda arte de Marcos Pê para ilustrar minhas publicações. Hoje trago uma crônica. Coisa nascida do olhar cotidiano. Coisas e pessoas nos inspiram. Claro, a transcrição nem sempre é real. Aqui faço um ajuntado de gentes. Só achei de batizar como Elisa. Todo o meu respeito as Elisas que são elas mesmas.
Elisa
Se viveu eu não sei, mas
que cresceu, cresceu. Tá bem crescidinha. Cresceu em corpo e idade. Não
proporcionalmente, porque fisicamente ela cresceu melhor. Deve ter sido essa
tal lei da compensação.
Não sei porque as vezes se
compensa o nada. Mas com Elisa foi assim. Cresceu entendendo muito de nada e de
nádegas. E se o nada não a levou a nada, as nádegas a levaram a tudo.
Logo Elisa que na escola
só desfilava. Desfilava vaidades e mancadas. Foi ela que disse a professora de
Geografia que não falaria sobre a Chechênia porque a aula não era de corpo
humano. Também se negou a fazer uma prova oral porque só sabia o assunto de
escrever e não de dizer. Contam que foi ela que disse que Drummond inventou o
avião. Essa seria até aceitável pela semelhança fonética se Elisa não já
contasse idade de vestibular naquela época.
Não podia ser diferente. O
jornal chegava pesado de notícias e Elisa espalhava todas as páginas em busca
do horóscopo. Com anos neste ofício e ainda procurava o horóscopo no caderno de
economia. Na edição do domingo ia além. Lia também o resumo das novelas. E tome
festa e tome shopping; e roupas e saltos, e sol e salão.
Não demorou e Elisa virou
madame. Casou com um rapaz que de tão ocupado com os negócios não teve tempo de
ver o nada de Elisa. Viu as nádegas. Paga por elas até hoje. E tome shopping e
roupas e saltos e jóias e carros e viagens e tudo de novo o ano todo.
E lá está Elisa sem
assunto nas rodas sociais. Tem colega madame que não trabalha, mas tem
profissão. É advogada, é publicitária, é arquiteta. Tem administradora que uma
vez por semana dá expediente na empresa do marido e se diz a peça mais
importante daquele negócio. Outra esbanja conhecimentos em artes plásticas e
música clássica. Fala em Picasso e Elisa solta um riso de vergonha. Fala em
Chopin e Elisa fica pensando o que é que isso tem a ver com cerveja. E ainda
aparece uma falando em inglês, francês e espanhol.
Mas Elisa é Elisa. Não
deixa por menos. Faz que entende, inventa, se passa por igual. Sempre dá um
jeitinho de parecer ser.
Que cara lisa a de Elisa.
Autor: Alexandre Morais
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