Tá chegando o dia das crianças e a mídia já deu a largada desenfreada da corrida do consumismo. Mas com poeta é diferente. Poeta provoca a crítica, chama pra reflexão e dana os dois pés no freio da alienação. Lê Diniz Vitorino e compara com o que vai sair na televisão. Depois tu me diz.
Criancinhas andarilhas
Anjos em cães transformados
Fetos da pobreza, filhas
De loucos desajustados
Oriundos das entranhas
De mães sem almas, estranhas
Nunca vistas na cidade
Que em recantos escuros
Pecam gerando os frutos
Germes da sociedade
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Filhos do morro e do mangue
Intrusos desde meninos
Por terem no corpo o sangue
Dos ancestrais peregrinos
Que na miséria viveram
Desiludidos encheram
De revolta o peito aflito
Morreram como indigentes
Deixando pros descendentes
Seu infortúnio maldito
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São frutos de pais nefandos
Células da carne odierna
Subalternos dos desmandos
De quem a pátria governa
De nós mesmo que não temos
Compostura e elegemos
Governos irresponsáveis
Que sem pena de ninguém
Fazem dos homens de bem
Loucos irrecuperáveis
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Alvo das negras repulsas
Dos seres sem competência
Rosas sem seivas, expulsas
Dos jardins da inocência
Companheiras da penúria
Machucadas pela fúria
Do vendaval criminoso
Bonecas vestindo trapos
Rasgadas pelos sopapos
Do destino impiedoso
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Jovens que tem como escolas
Palavrões do banditismo
Por alimento, as esmolas
Do sujo capitalismo
Por morada, a noite escura
Por leito, a calçada dura
Por conselheiro, ninguém
E por carrasco, o imprevisto
Por defensor, Jesus Cristo
Porque foi mártir também
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Ovelhinhas desgarradas
Dos apriscos sociais
Até serem metralhadas
No covil dos marginais
Depois de mortas no chão
Nem flores murchas terão
Cobrindo as carnes geladas
Mas terão pousadas novas
Como inquilino das covas
Darão descanso às calçadas
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