quinta-feira, 5 de maio de 2011

Fiz estes versos esta semana no caminho de Serra Talhada

maio 05, 2011 Por Alexandre Morais 2 comentários


É bem comum no sertão,
Numa casa campesina,
Repetir-se a triste sina
Da cruel apartação.
Faz o homem a divisão
Sem perguntar de podia
E a vaca sem sua cria,
Nem sequer reclama o erro,
Vai dormir sem seu bezerro
Quando a noite silencia.

Também dá-se nos caprinos
Os mesmos tristes conflitos,
Pois se tira dos cabritos
Para alimentar meninos.
São costumes ruralinos
Repetidos dia a dia,
Mas tudo que se desvia
A natureza recobra
E a cabra produz com sobra
Quando a noite silencia.

Nos frechais do armazém
O movimento é freqüente.
Debaixo da telha quente
Os que dormem se dão bem.
Rato e morcego, porém,
Fazem dali rodovia
O rato o que surrupia
Leva pra comer de graça
E o morcego sai pra caça
Quando a noite silencia.

Na copa dum oitizeiro,
Entre as folhas, camuflados,
Pardais dormem encostados,
Preenchendo um galho inteiro.
Um corujão carniceiro
Rodeia feito um vigia,
Mas o pássaro desconfia,
Dorme com um olho aberto,
Que coruja é bicho esperto
Quando a noite silencia.

Na torre duma capela,
Onde só ventos ecoam,
Muitos pombos se amontoam,
Revezando um sentinela.
Quando o risco se revela
O penoso se arrepia,
Até no sino se enfia
Temendo a rasga mortalha,
Que é bicho que não se empalha
Quando a noite silencia.

Um riacho corre manso
Embalado pela serra,
Veia do corpo da terra,
Que se move sem descanso.
Na curva faz um remanso,
Nas pedras faz sinfonia,
Sua doce melodia
Começa em baixo volume,
Mas um alto tom assume
Quando a noite silencia.

No recanto dum terreiro
Galhos baixos são degraus
Galhos altos são giraus,
A cama do galinheiro.
A do mais baixo poleiro,
Vendo o medo anuncia
Entendendo, o pinto pia,
Alertando, o galo canta,
Porque raposa só janta
Quando a noite silencia.

Passa o dia a dormir
Um cansado cão de guarda,
Esperando o que lhe aguarda
Quando o sol se despedir.
Até mesmo seu latir
É mais brando pelo dia,
Porem mostra valentia
Quando o breu apaga o claro,
Pois se aguça mais seu faro
Quando a noite silencia.

2 comentários:

  1. QUANTA INSPIRAÇÃO ESSE CAMINHO PROVOCA!
    MAIS UMA OBRA PARA O DELEITE DOS SEUS SEGUIDORES.
    E MEU TAMBÉM.PARABÉNS POETA.
    Tia Lídia

    ResponderExcluir