domingo, 1 de maio de 2011

Ver e ouvir

maio 01, 2011 Por Alexandre Morais Sem comentários
Por Aristeu Bezerra


Após conhecer o trabalho maravilhoso realizado pela Associação Cultural e Assistencial dos Artistas de Pernambuco (ACAAC) - os assistidos são surdos, cegos, cadeirantes e crianças carente -  fiquei impressionado. Quando cheguei em casa, fiquei pensando como poderia alguém que não tem a visão ter a mesma sensibilidade poética dos que veem perfeitamente. Então, lembrei-me do Cego Aderaldo, um dos maiores repentistas do estado do Ceará, que viveu no início do século e tem seu nome registrado como um dos ícones do maravilhoso mundo do repente.
Ele tinha adotado várias crianças e era solteiro. Um pessoa fez uma pergunta indiscreta ao Cego Aderaldo: "O senhor é tão caridoso, adota tantas crianças porque não casou? O nosso poeta respondeu em forma de verso e eu reproduzo a sua resposta na última estrofe do poema que fiz em homenagem a essa instituição na qual farei uma palestra sobre ' O Maravilhoso Mundo do Repente':

OS POETA E OS CEGOS
ENXERGAM HORIZONTES
ENTRE PALAVRA E OUTRA
ELES NÃO FICAM DISTANTES
E DA BELEZA DA POESIA
SÃO OS MELHORES AMANTES

HOJE SE FAZ TRANSPLANTES
MAS SEM A CAPACIDADE
DE TROCANDO O CORAÇÃO
O HOMEM TER A SENSIBILIDADE
AO OUVIR O TOM DA VOZ
SENTIR ALEGRIA OU SAUDADE

DESDE A MAIS TENRA IDADE
TEMOS O DOM DA POESIA
NÃO É PRECISO SER CULTO
NEM MESTRE EM FILOSOFIA
PATATIVA ONDE OLHAVA
UM VERSO DESCOBRIA

CEGO ADERALDO TINHA MANIA
DOS SEUS BENS: O DESAPEGO
O PORQUÊ DE NÃO CASAR
DIZIA:"NÃO ME ENTREGO
QUEM TEM VISTA LEVA PONTA
IMAGINE EU SENDO CEGO".


Este poema veio qu ase, imediatamente, e de forma completa sem precisar de nenhum ajuste tanto nas metáforas quanto na métrica  porque a inspiração estava no ar. A minha contribuição foi só passar para o papel. Espero que a minha palestra aumenta a autoestima dos assistidos por uma ONG séria, e cumpra o objetivo de atingir essas pessoas que estão necessitando da poesia para ver um mundo mais fraterno, mais alegre e aprender com  a sabedoria inata dos poetas populares sobre a beleza de viver.

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