segunda-feira, 13 de junho de 2011

O Despacho

junho 13, 2011 Por Alexandre Morais 1 comentário


Por Efigênio Moura 
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- O pobrema Zé Tubiba, é aresolvê o probrema.
- Apôi vamo.
- Vamo Cuma? Já tentemo de tudo e nada de aresolvê o pobrema Zé, ô meu Deus!!!
- Carma Bastin. Tenha carma Bastin, se alembre da istóra do frí e do cobertô...
- Qui fri ? Um calô da gota serena...
Estavam nervosos e buscavam uma saída para um problema que começou a afligi-los desde o começo do dia. Primeiro Zé Tubiba, o mais ansioso e depois o sempre ponderado Bastin. O problema era devolver intacto o Cd novo de Irah Caldeira que tinham pedido emprestado para reproduzirem num tal MP3, e que por infelicidade, Tubiba Junior havia arranhado e esfregado o danado no chão...
- Logo na musga de Xico Bizerra? Minino rin da gota! Puxô a quem, digue Zé, digue?
- Homi, digo de jeito nenhum.
- Do jeito qui Uóshiton é ciumento cás coisa dele... Inté a sanfona quem limpa é ele, nem a mulé dele trisca.
E qual a solução?
- Siguinte Bastin. Premeiro me adisculpe de num ter pidido pra óví premeiro e pegá sem tu vê o cd, adispois ô sô muito macho pra dizê quê’rrêi.
- Homi seje macho pra pagá tômbem, oxe. Assim é bom de mais.
- Vamo arresolvê a situação. Vamo intregá o bendito e fazê cum qui  Uóshiton num recrame...
- E vai desarranhá é?
- Vô não, vô fazê cum qui ele nem ache rin...
Isso intrigou Bastin, logo Washington, um dos melhores sanfoneiros da pátria do Cariri, zeloso com suas coisas, não perceber o disco novo de Irah Caldeira arranhado? E mais na musica Vou deixar não, de Xico? Era quase impossível.
Zé Tubiba levantou-se e disse:
- Meia noite, no beco do meicado. Teje lá fartano uns 3 minuto.
Em Monteiro, por trás do Mercado, tem um beco que logo a frete vira encruzilhada, é quando a Travessa Expedito Romão de Melo corta a Rua  Joaquim Romão de Melo.
Por volta as 23:50, vem se esgueirando Zé Tubiba, com uma galinha nas mãos e um pacote na outra.
- Oxe!
Exclamou Zé:
- Pronto cumpade, daqui a pouco se arresolve:
Espantado, Bastin não tinha ação e apenas olhava o amigo, já acocorado e abrindo o saco preto, tirou de dentro dele s uma vela de sete dias, um cigarro continental sem filtro e amassado, um vidro de xarope contendo cachaça, uma flâmula do Campinense...
- Oxe, e vai tê jogo é?
- Eita me inganei, essa é pra ôta. É pra Séri Cê.
E saíram dois dados viciados, um copo de liquidificador de plástico, uma rã de mentira, um cd de Cristina Amaral, um de Rangel Junior, um de Flávio Leandro, outro de Josildo Sá e o de Irah caldeira, motivo da empreitada.
- Esse minino arranhô isso tudin ? É um sirial quiler. É um lampião dos discos.
- Calaboca homi, ajude eu cá galinha.
- Zé tu vai fazê um dispacho é ?
- E apôi? Vamo amansá logo o homi, depois nós intrega o cd.
- Zéééé, dispacho cum galinha branca, de granja ? Da certo ?
- Dá não ?
- Dá não homi.
- Dá tempo arranjá  ôta não.
- Apôi num vai valê de nada e essa vela vai queimá sete noite ?
- O vento apaga e os minino carrega amanhã...
- Certo. Már a galinha num tem jeito não.
Ficaram em silencio. Aderaldo cochichou...
- O danado é que num tem nada preto na bichinha.
Os olhos de Zé se acenderam.
- Quaiqué coisa selve ?
- Deve selví né ?
Pronto. Zé disparou, foi em casa e meia hora depois, já com o serviço feito, se despediu.
No outro dia, Dudu, filho de Reginaldo e Fátima encontrou um despacho com um cigarro amassado, um copo engana bebo meio cheio de cachaça e uma galinha branca, morta com as unhas pintadas de preto.
- Oxe, macumba malamaiada da gota!
Ainda de manhã, o sono ainda ‘remelano’ os sonhos, Zé ouviu bem longe, sua filha mais velha indagando a mãe.
- Ô mainha, tu viu meu pincel de pintar os olhos?
- Vi não.
Bastin ficou quieto. E dormiu o resto da metade do dia.

Um comentário:

  1. Muito engraçada essa história, adorei.
    Sou de Alagoinha e gosto muito de ler a coluna do culturaecoisaetal.blogspot.com, que tem na revista da AMUPE, nela é feito um verdadeiro resgate das raízes nordestinas, em especial de nosso amado Pernambuco.

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