Sábado passado (27/07/12) tive outra noite das boas,
embora de muito aperto. Integrei um time de 08 poetas numa mesa de glosas, em
São José do Egito, em homenagem ao centenário do pássaro-poeta Cancão. Veja o
tamanho da responsabilidade! E se eu disser que na plateia tinha uns
malassombros feito Dedé Monteiro, Chico Pedrosa, Genildo Santana, Antonio
Marinho, Antonio de Catarina e mais um eito, além de Marcos Passos apresentando
e Jorge Filó, que chegou pra vê o fim.
Quem tava do meu lado? Dudu Morais, Zé Adalberto,
Maciel Correia, Caio Menezes, Clécio Rimas, João Filho e Aldo Neves. Pense num
arrocho! Mas é como se diz, tirando as falhas, acho que prestou. Vê um resumo:
O primeiro mote foi “Quem crê na Virgem Maria / Nunca tem medo de nada”.
Havia duas crianças na primeira fila e eu fiz:
São José eu te
saúdo
Em nome dessas
crianças,
Onde ponho as
esperanças
D’um mundo com
conteúdo.
A poesia é meu
tudo,
A fé é minha
morada
E uma à outra
casada
São meu rumo,
são meu guia,
Quem crê na
Virgem Maria
Nunca tem medo
de nada.
Ninho roubado e Sonho de Sabiá são poemas do poeta
Cancão. Estão entre os maiores, se é que há algum de menor estirpe. Surgiu este
lindo mote evocando o poeta: Eu vi um ninho roubado / No sonho do sabiá, e eu
disse:
Eu já vi muito
Cancão
Num toco
acuando cobra,
No piado dando
dobra
Sem compor uma
canção.
Mas com o
poeta, não,
Muita
diferença há!
Ouvindo Cancão
quem já,
Não viu um
filme encantado?
Eu vi um ninho
roubado
No sonho dum
sabiá.
Saiu esse mote afetivo
e muitos evocaram suas amadas companheiras: Ninguém consegue aquecer / Do jeito
que ela me aquece. Eu mirei minha filha, que, por ter um ano e meio, não quis
parar para ouvir o pai um só minuto:
Mariá, minha
filhinha,
Que ainda não
parou quieta,
É quem me faz
ser poeta...
É toda
inspiração minha.
Ela é
pequenininha,
Mas bem
gigante parece
Porque só ela
conhece
O que faz me
esmorecer
Ninguém
consegue aquecer
Do jeito que
ela me aquece.
Meca Moreno é poeta grande e tava lá engrandecendo a
plateia. O gracejo é uma das correntes poéticas e Meca, sabendo que arrancaria
boas risadas do público, lançou o mote: Vou tomar meu azulzinho / Pra poder
cantar de galo. Estava falando do Viagra, claro, então eu joguei a
responsabilidade toda pra ele, usando do artifício da inversão do sentido,
dizendo:
Meca Moreno,
rapaz,
Eu estou
admirado
Por você está
cansado
E se dizer
incapaz!
Me dizer como
se faz!
Aí mexeu no meu calo...
Aí mexeu no meu calo...
Mas se um dia
eu imitá-lo
Tomo é cana do
moinho,
Não tomo seu
azulzinho
Pra poder
cantar de galo.
Outro mote emotivo
veio como Minha alma é uma represa / Meus olhos são a sangria. Eu sangrei
assim:
O meu peito
rosetado
Da espora da
saudade
Só bate por
caridade
Se não já
tinha parado.
Tive um amor no
passado
Que foi pleno
de magia
Mas se transformou
um dia
Em minha
eterna tristeza
Minha alma é
uma represa
Meus olhos são
a sangria.
O último mote ofertado foi proposto por Welington de
Melo, quem, eu não sabia, é um noveleiro danado. Vê só o mote: Pergunte para
Carminha / Quem botou ponta em Tufão. Eu tive que perguntar a Caio Menezes, que
tava do meu lado, o que era isso. Diante da informação de que se tratava da
novela global, eu glosei às avessas:
Eu sou cavalo
de sela,
Não nasci para
cangalha,
E acho uma
grande falha
Assistir
telenovela.
Para mim a
arte bela
É ouvir um bom
baião.
História de
traição
Nunca foi da
conta minha,
Pergunte para
Carminha
Quem botou
ponta em Tufão.
Ao final, como de costume, foi pedido que fizéssemos
a glosa final com o estilo “Adeus, até outro dia”, próprio para as despedidas.
Eu enalteci São José do Egito, dizendo:
Eu vou dizer
amanhã,
Fazendo uma
analogia,
Que no campo
da poesia
Joguei no
Maracanã.
E minha rima
tão vã
Se não foi
como eu queria
Foi de jeito
que podia
Fazer um
sempre aprendiz
Vou embora,
vou feliz,
Adeus, até
outro dia.
Peço perdão à mesa, ao público e a
Antonio de Catarina por não ter glosado bem o bonito mote sugerido por este
poeta: Ninguém é dono de nada / Nem sequer da própria vida. A glosa foi tão ruim
que eu fiz questão de esquecer. O mesmo aconteceu no mote Isso é cagado e
cuspido / Paisagem de interior, que embora pareça fácil, na hora foi difícil que só a mulesta.
É isso aí! Viva Cancão! Viva a poesia!
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