Carta
Aberta a Sebastião Dias e ao povo de Tabira
Por Ruy Sarinho, Jornalista
Brotou poesia das urnas de Tabira. A
eleição, pela primeira vez no Brasil, de um repentista cantador de viola e
mestre na sua arte, Sebastião Dias, de uma tacada só, derrubou preconceitos e a
prepotência dos políticos doutores entre aspas desta Cidade do Sertão do Pajeú
pernambucano, que respira cultura viva e vocação poética por todos os seus
recantos e pelo meio do mato e até no canto dos passarinhos.
Foi um grito violado de uma
população sempre tratada com arrogância e olhar superior por aqueles que se
acham donos da consciência do povo. Aquela gente política que se impõe pelo
poder econômico, tratando-se mutuamente por doutores, que nem de longe são de
sabedoria, para perpetuar essas elites no comando político.
Sebastião Dias foi eleito prefeito
sem o apoio de caciques locais, mas embalado pelos acordes de sua viola que
tentaram ridicularizar, pois queriam destruir a réplica de uma grande viola
montada em praça pública, após a derrota do candidato-cantador.
Não conseguiram quebrar a viola.
Quebraram foi a cara!
Pinto do Monteiro, lá do alto das
estrelas que iluminam no firmamento a sua verve poética, está festejando em
suas rimas geniais a vitória da sabedoria popular que botou na Prefeitura de
Tabira um menestrel violeiro.
Graças a Deus, não sou doutor; muito
menos, gosto dos que se impõem doutores.
Com certeza, dois cearenses os que
mais admiro também estão aplaudindo lá de cima a vitória de Sebastião Dias: Dom
Helder Câmara e Miguel Arraes de Alencar, que carregavam dentro de si a alma do
povo.
Uma vitória que está inundando de
felicidade a gente simples de Tabira.
Aqui, da minha Olinda, vibro com a
inteligência dos eleitores tabirenses que romperam a mordaça que os calava e se
libertaram pelos versos e com os versos do poeta Sebastião Dias.
Meu amigo Sebastião Dias, minha
ligação com a cultura popular vem de sempre, da beira do mar e do vai-e-vem das
ondas de Olinda do Largo de Nossa Senhora da Santa Cruz dos Milagres, na
entrada da Cidade, onde morei desde o nascimento até a idade adulta. Das
histórias contadas pelos mais velhos da lendária Troça Carnavalesca Donzelinhos
dos Milagres. Vem do maracatu rudimentar que descia do Guadalupe, trazido na
folia por sua rainha, a vigorosa guerreira Celina, antiga lavadeira que
prestava seu dedicado serviço na casa dos meus pais, e que se orgulhava e
encantava o carnaval com sua calunga negra na mão, numa coreografia pura
nascida do próprio povo.
Da minha amizade com Bajado – Um
Artista de Olinda, ao convívio, até hoje, com o italiano mais olindense que
conheci, Giusepe Bacaro, também seu amigo, que realizava os inesquecíveis e
imbatíveis Torneios de Repentistas de Olinda e as Caravanas da Poesia Popular,
País afora, e que participei de uma das caravanas, pelo Nordeste, ao seu lado..
Como
estudante de jornalismo fui o autor de um projeto na formatura de minha turma,
concluinte de 1983, que defendia e denunciava a falta de projetos culturais pelos
governos para a cultura raiz do nosso povo, bem como a penúria em que viviam
nossos artistas geniais. Contrariando o modelo antigo, e viciado, de escolher para
patrono da turma um rico empresário da comunicação para bancar a festa, que
seria Paes Mendonça, apresentei a ideia que encantou toda a turma, de ter como
patrono nosso cantador maior: Pinto do Monteiro. Outros homenageados foram o
pintor Bajado, que pintou num grande quadro em folha de compensado, como placa
de formatura que está no auditório da Unicap; um santeiro de barro desconhecido
de Goiana e o poeta Delarme Monteiro, que escreveu o convite-cordel da
formatura, aqui ilustrado pela estrofe abaixo:
“A turma
do Padre Mosca
Para manter seu cartaz
Terá como
paraninfo
A dona
Vera Ferraz,
E patrono
o violeiro
Que é
Pinto do Monteiro
Um
repentista capaz.”
Sem o
tradicional baile de formatura, a grande festa foi o encerramento do VIII
Torneio de Repentistas de Olinda, no dia 22 de janeiro de 1984, seguido por um
encontro informal entre os novos jornalistas, convidados e os gênios da
cantoria e da poesia, como você, Louro do Pajeú, João Furiba, Patativa do
Assaré, Ivanildo Vilanova, Oliveira de Panelas, João Paraibano, Guriatã do
Norte, Sinésio Pereira, Antônio Lisboa, Edmilson Ferreira, Cachimbinho e tantos
outros que fazem e faziam da poesia do improviso a arte do bem viver, todos
reunidos no anfiteatro da Casa das Crianças de Olinda, dirigida por Bacaro.
Daí, minha felicidade por poder
cumprimentá-lo como o novo prefeito de Tabira, a partir de primeiro de janeiro
de 2013.
Como não sou poeta, encerro minha
homenagem com mais uma estrofe do para sempre Delarme Monteiro, desejando que
você seja na Prefeitura de Tabira quase tão genial como é na beleza dos seus
versos e na força da sua indomável viola:
“Porque
de fato um poema
Como
faz o menestrél
Cantando ao som da viola
Tem a
doçura do mel
Poesia
doce e pura
Extraída da cultura
Que
chamamos de cordel.”
Um grande
abraço, meu Poeta-Prefeito, Sebastião Dias.
Olinda, 23 de outubro de 2012.
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