sexta-feira, 22 de março de 2013

O poeta da roça, Patativa do Assaré

março 22, 2013 Por Alexandre Morais 13 comentários


    Monitorando a disciplina Literatura de Cordel, dentro do Programa Mais Educação, na Escola Padre Frederico Bezerra Maciel, no Distrito de Itã, Carnaíba-PE, trabalhei esta semana linguagem formal e linguagem coloquial. E aí nada melhor do que apresentar aos alunos o mestre Patativa do Assaré. E nada mais adequado do que o poema O poeta do roça.
    A meninada correspondeu e fecho a semana confiante que dei um bom passo na transmissão desta arte. Obrigado, poeta Patativa. Obrigado Deus e deuses da poesia.
    O conteúdo da atividade foi este aí abaixo. Um pouco da vida do mestre de Assaré e um de seus poemas. Depois, leitura interpretativa, indentificação dos usos da linguagem coloquial e transformação dos termos em lingugem formal.
 
Patativa do Assaré era o nome artístico de Antônio Gonçalves da Silva. Nasceu em 5 de março de 1909, na cidade de Assaré - CE. Foi um dos mais importantes representantes da cultura popular nordestina.
Com uma linguagem simples, porém poética, destacou-se como compositor, improvisador e poeta. Produziu também literatura de cordel, porém nunca se considerou um cordelista. Sua vida na infância foi marcada por momentos difíceis. Nasceu numa família de agricultores pobres e perdeu a visão de um olho. O pai morreu quando tinha 8 anos de idade, a partir de quando começou a trabalhar na roça para ajudar no sustento da família.
Passou poucos meses na escola e neste período começou a escrever seus próprios versos e pequenos textos. Aos 16 anos ganhou da mãe uma pequena viola. Muito feliz, passou a escrever e cantar repentes e se apresentar em pequenas festas da cidade.
Ganhou o apelido de Patativa, uma alusão ao pássaro de lindo canto, quando tinha 20 anos. Nesta época, começou a viajar pelo Nordeste para se apresentar como violeiro.
Patativa do Assaré faleceu no dia 8 de julho de 2002 em sua cidade natal.

O poeta da roça
 
Sou fio das mata, cantô da mão grossa,
Trabáio na roça, de inverno e de estio.
A minha chupana é tapada de barro,
Só fumo cigarro de páia de mío

Sou poeta das brenha, não faço o papé
De argum menestré, ou errante cantô
Que veve vagando, com sua viola,
Cantando, pachola, à percura de amô.

Não tenho sabença, pois nunca estudei,
Apenas eu sei o meu nome assiná.
Meu pai, coitadinho! vivia sem cobre,
E o fio do pobre não pode estudá.

Meu verso rastêro, singelo e sem graça,
Não entra na praça, no rico salão,
Meu verso só entra no campo e na roça
Nas pobre paioça, da serra ao sertão.

Só canto o buliço da vida apertada,
Da lida pesada, das roça e dos eito.
E às vez, recordando a feliz mocidade,
Canto uma sodade que mora em meu peito.

Eu canto o cabôco com suas caçada,
Nas noite assombrada que tudo apavora,
Por dentro da mata, com tanta corage
Topando as visage chamada caipora.

Eu canto o vaquêro vestido de côro,
Brigando com o tôro no mato fechado,
Que pega na ponta do brabo novio,
Ganhando lugio do dono do gado.

Eu canto o mendigo de sujo farrapo,
Coberto de trapo e mochila na mão,
Que chora pedindo o socorro dos home,
E tomba de fome, sem casa e sem pão.

E assim, sem cobiça dos cofre luzente,
Eu vivo contente e feliz com a sorte,
Morando no campo, sem vê a cidade,
Cantando as verdade das coisa do Norte.

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