A mãe de
Bastim batizou ele de Sebastião. Normal. Mas só por ter passado uns dias em São
Paulo, só chamava o menino de Sebastiãozinho, chiando nos esses e no zê. Aí,
sabe como é, né? Os outros chamavam de Bastiãozim, sem chiado e sem frescura. E
por ser sem frescura virou logo Bastim. Pronto, pegou e ficou até hoje.
Mas isso é o
de menos. Com isso Bastim nunca fez confusão. Até porque nunca se deu ao
trabalho de aprender a ler e escrever. Era um sabido formado na escola da
astúcia.
Essa semana lá
ia Bastim no caminho da feira junto com Mané Pio e João de Zé Preto. Só deu
tempo passar na cruz do finado Luiz Pequeno, que Bastim começou:
- O governo
agora vai acabar com todo mundo. Botou uma lei que num vai escapar ninguém.
E Mané Pio
dando corda:
- Ôche! Que
lei é essa, Bastim?
- Quem tiver
água, nem que seja numa cuia, vai ter que pagar imposto.
- Conversa é
essa, home? Perguntou João depois de tirar o pacaia da boca e cuspir no aceiro
da estrada.
- É desse
jeito, vocês se prepare, que a coisa é feia: açude, barreiro, cisterna, poço,
pote, caco de passarim, onde ajuntar água o governo vai medir e cobrar pelo pé.
Foi dois
minutos de silêncio e Mané Pio assuntou:
- Danou-se! E
como é que vai ficar?
Bastim apontou
o caminho pra estrada do fim do mundo ficar mais cumprida:
- Enquanto tu
pensava em perguntar eu já tava com a escapatória pronta. Quando o governo
chegar nós diz: as água num é do senhor? E apois! Se o senhor quiser levar tudo,
pode levar. Agora, se num tiver como levar, deixe que nós cuida. Então nós nem
cobra pelo serviço nem o senhor cobra esse tal de imposto. Porque imposto aqui
só anda quem tem carro, que é pra botar gasolina...
Aí deu uma
risada alta e inteirou:
- Deixa ele
vim, deixe ele vim!!!
- Ele quem,
Bastim? Perguntaram junto Mané e João.
- O governo,
esse fi da peste. O governo...
< Alexandre Morais >
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