sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Gente que a gente precisa saber que foi gente

agosto 02, 2013 Por Alexandre Morais Sem comentários
Quintino Cunha (l875-1943)

      Tido como rival, na verve e no anedotário, de Emílio de Menezes e Paula Ney, José Quintino da Cunha era orador fluente, ficcionista, poeta, ficando conhecido também pelas suas tiradas de bom humor, que o levaram a fazer parte de um anedotário brasileiro. Ele nasceu na atual cidade de Itapajé, antiga vila de São Francisco de Uruburetama, no dia 24 de julho de 1875.
    A educação básica de Quintino Cunha foi feita praticamente na Escola Militar do Ceará, pois tinha veleidades de dedicar-se à vida da caserna. Extinta tal entidade, o poeta, que já versejava desde os quinze anos de idade e já mostrava seus dons oratórias, embarca para a Amazônia. Ali, recebeu "provisão" para advogar, antes mesmo de se formar em Direito, o que fará de volta à terra natal, em 1909.
    Torna-se, desde então, no Ceará, orador consagrado, repentista, poeta boêmio, "não dando maior valia aos próprios méritos". Casando-se várias vezes, viveu em constante penúria financeira. O livro de versos mais famoso de Quintino Cunha, Pelo Solimões, segundo Raimundo de Menezes, foi publicado em Paris (1907) quando de uma viagem do poeta à Europa, isso antes de se formar em Direito de volta ao Ceará.
      Para não fugir à estética de sua época, imposição do meio literário e dos contemporâneos, a poesia de Quintino Cunha presta tributo ao Romantismo e ao soneto decassílabo de inspiração parnasiana, mas com um destaque especial: o poeta usa expressões e locuções populares, o coloquialismo, o que teria levado João Quintino, seu irmão, e Mamede Cirino, a musicarem alguns de seus poemas.

Quintino Cunha ainda passa pela Assembléia Legislativa do Estado, como deputado (1913/1914), tendo morrido em Fortaleza, o "poeta de lúcida inspiração", no dia 1 de junho de 1943.

Encontro das Águas

Vê bem, Maria aqui se cruzam: este
É o Rio Negro, aquele é o Solimões.
Vê bem como este contra aquele investe,
como as saudades com as recordações.

Vê como se separam duas águas,
Que se querem reunir, mas visualmente;
É um coração que quer reunir as mágoas
De um passado, às venturas de um presente.

É um simulacro só, que as águas donas
D'esta região não seguem o curso adverso,
Todas convergem para o Amazonas,
O real rei dos rios do Universo;

Para o velho Amazonas, Soberano
Que, no solo brasílio, tem o Paço;
Para o Amazonas, que nasceu humano,
Porque afinal é filho de um abraço!

Olha esta água, que é negra como tinta.
Posta nas mãos, é alva que faz gosto;
Dá por visto o nanquim com que se pinta,
Nos olhos, a paisagem de um desgosto.

Aquela outra parece amarelaça,
Muito, no entanto é também limpa, engana:
É direito a virtude quando passa
Pela flexível porta da choupana.

Que profundeza extraordinária, imensa,
Que profundeza, mais que desconforme!
Este navio é uma estrela, suspensa
Neste céu d'água, brutalmente enorme.

Se estes dois rios fôssemos, Maria,
Todas as vezes que nos encontramos,
Que Amazonas de amor não sairia
De mim, de ti, de nós que nos amamos!...

  • Copiado de http://www.revista.agulha.nom.br
  • Imagem: http://acordacordel.blogspot.com.br
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