Cante as noites que passei
Em claro pensando nela.
Descreva a boquinha dela,
Que por ventura beijei.
Cante as frases que deixei
Infindas ao gaguejar...
Só você sabe rimar
meu pecado e meu instinto.
Poeta, cante o que sinto,
Que sinto eu não sei cantar.
Cante as dores que padeço
Sem dividir com ninguém;
Cante a dor de querer bem
A quem não me tem apreço;
Cante pra ver se'u esqueço,
De quem só vivo a lembrar;
Cante qu'eu só sei chorar
E quando choro não minto.
Poeta cante o que eu sinto,
Que sinto e não sei cantar.
Descreva meu coração
Nas muitas dores que sofre
Sendo atualmente um cofre
De armazenar solidão...
Cante sua frustração
E seu eterno penar:
Com muito amor para dar,
Porém de amor faminto.
Poeta, cante o que sinto,
Que sinto e não sei cantar.
Poeta, estou me sentindo
Como um peixe fora d'água,
Cheio de angústia e mágoa
Com essa dor me oprimindo...
Vejo a vida se exaurindo
E s'isso continuar,
Posso me considerar
Um animal quase extinto.
Poeta, cante o que sinto,
Que sinto e não sei cantar.
Cante de modo ordenado
Minhas muitas desventuras.
As eternas amarguras
Pelas quais tenho passado...
De modo simplificado,
Cante, em verso, o meu penar.
Cante num tom singular,
Sutil, pacato e distinto...
Poeta, cante o que sinto,
Que sinto e não sei cantar.
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