quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Sempre uma boa provocação de Aderaldo Luciano.Olha esta

fevereiro 06, 2014 Por Alexandre Morais Sem comentários
 Estou trabalhando numa coisa chamada provisoriamente de Cordel Para Filósofos

Primeira Tese 

1. Quero parodiar Wang Chong:

“O cordel deve ser fácil de compreender e difícil de escrever e não difícil de compreender e fácil de escrever.”

2. Parodio, também, Jean Paulhan:

”O cordel também é uma linguagem e (embora nem sempre seja visível) uma festa para todo mundo, para a qual todo o mundo é convidado.”

3. Finalizo parodiando Marcel Arland:

“Imagino facilmente o cordel como uma Ordem.”

Segunda Tese

1. Inicio outra rodada de paródias com Georges Mathieu, em entrevista a Vintila Horia:— É evidente que o poeta de cordel se prepara para escrever. O problema está em saber ou prever se o fará de forma sábia ou demencial.

2. Thomas Heggen a Budd Schulberg: Leandro Gomes de Barros (o criador do cordel) foi sábio o bastante para logo perceber que a carreira de um escritor não é uma escada rolante, nem uma palmeira para que suba por ela, como macaco, se apoiando nas mãos. Um escritor, quando continua escrevendo é uma cordilheira… sou uma cordilheira, desço, subo, tenho chapadas, deslizes e até quedas.

 3. Vicente Huidobro: esses quase-poetas contemporâneos são muito interessantes, mas seu interesse não me interessa. 

Terceira Tese 

Observando o que as elites têm falado sobre o cordel e os cordelistas, identificando-os com trabalhadores pouco qualificados no trato com a poesia e com a literatura por extensão, adapto o que diz Afrânio Coutinho sobre os autores de nossa literatura oficial:

1. Inicio, repito, adaptando essas citações ao mundo do cordel:

Divorciado de uma tradição, o poeta de cordel sente-se separado de seus predecessores, que ignora, da sociedade, que o desconhece, ou de seus pares, a que não presta atenção…

2. Continuando:

É marca indelével de nossa vida intelectual a completa desatenção do escritor ao trabalho de outros escritores passados ou contemporâneos. Resultam o isolamento e o marginalismo em vida, e o esquecimento rápido com a morte, como se construísse sobre a areia. E resulta a impressão de que as obras são feitas de espuma, desaparecendo com o tempo.

3. Ainda parodiando Afrânio:

A fé no espontâneo, na arte natural, na inspiração telúrica, faz com que (o poeta de cordel) despreze o estudo e a formação técnica. Constitui motivo de jactância ou endeusamento, e critério de aferição de valores, o pouco ou nenhum estudo, a virgindade de alma, a incultura… refletidos na rapidez e abundância da produção, no descuido e desinteresse pelo aperfeiçoamento.

Tese Final 

1. Citando João Antonio:

Em se tratando de literatura brasileira, o sujeito que achar que sabe alguma coisa, ou que acreditar na glória literária, é um puro e simples idiota, é um otário, como diriam os meus personagens, absolutamente desavisado. A realidade brasileira é muito superior ao que a arte brasileira já fez; nós ainda não temos uma literatura à altura da multiplicidade de realidades brasileiras e da grandiosidade dessas realidades. Por exemplo: nós não temos uma boa literatura sobre futebol, nós não temos uma boa literatura sobre favela, nós não temos uma boa literatura sobre samba, nós não temos uma boa literatura sobre êxodo rural; nós não temos obras tópicas, por exemplo, as coisas de Graciliano Ramos, Lima Barreto, e outros exemplos bons.

2. Citando Salim Miguel 

Eu disse, no começo desta nossa conversa, que os temas com que o escritor trabalha são relativamente os mesmos desde o início dos tempos. Agora, no meu caso, não tenho personagens nem temas. Temas ou personagens é que me procuram. Para alguns digo: ‘tudo bem, vamos trabalhar’; para outros: ‘procure outro escritor porque não consigo chegar aonde tu queres’.

Cai o pano. Xeque.
Estou trabalhando numa coisa chamada provisoriamente de Cordel Para Filósofos

Primeira Tese

1. Quero parodiar Wang Chong:

“O cordel deve ser fácil de compreender e difícil de escrever e não difícil de compreender e fácil de escrever.”


2. Parodio, também, Jean Paulhan:

”O cordel também é uma linguagem e (embora nem sempre seja visível) uma festa para todo mundo, para a qual todo o mundo é convidado.”

 

3. Finalizo parodiando Marcel Arland:
“Imagino facilmente o cordel como uma Ordem.”


Segunda Tese

1. Inicio outra rodada de paródias com Georges Mathieu, em entrevista a Vintila Horia:— É evidente que o poeta de cordel se prepara para escrever. O problema está em saber ou prever se o fará de forma sábia ou demencial.

 

2. Thomas Heggen a Budd Schulberg: Leandro Gomes de Barros (o criador do cordel) foi sábio o bastante para logo perceber que a carreira de um escritor não é uma escada rolante, nem uma palmeira para que suba por ela, como macaco, se apoiando nas mãos. Um escritor, quando continua escrevendo é uma cordilheira… sou uma cordilheira, desço, subo, tenho chapadas, deslizes e até quedas.
 

3. Vicente Huidobro: esses quase-poetas contemporâneos são muito interessantes, mas seu interesse não me interessa.
 

Terceira Tese
Observando o que as elites têm falado sobre o cordel e os cordelistas, identificando-os com trabalhadores pouco qualificados no trato com a poesia e com a literatura por extensão, adapto o que diz Afrânio Coutinho sobre os autores de nossa literatura oficial:

 

1. Inicio, repito, adaptando essas citações ao mundo do cordel:
Divorciado de uma tradição, o poeta de cordel sente-se separado de seus predecessores, que ignora, da sociedade, que o desconhece, ou de seus pares, a que não presta atenção…

 

2. Continuando:
É marca indelével de nossa vida intelectual a completa desatenção do escritor ao trabalho de outros escritores passados ou contemporâneos. Resultam o isolamento e o marginalismo em vida, e o esquecimento rápido com a morte, como se construísse sobre a areia. E resulta a impressão de que as obras são feitas de espuma, desaparecendo com o tempo.

 

3. Ainda parodiando Afrânio:
A fé no espontâneo, na arte natural, na inspiração telúrica, faz com que (o poeta de cordel) despreze o estudo e a formação técnica. Constitui motivo de jactância ou endeusamento, e critério de aferição de valores, o pouco ou nenhum estudo, a virgindade de alma, a incultura… refletidos na rapidez e abundância da produção, no descuido e desinteresse pelo aperfeiçoamento.

 

Tese Final
1. Citando João Antonio:

Em se tratando de literatura brasileira, o sujeito que achar que sabe alguma coisa, ou que acreditar na glória literária, é um puro e simples idiota, é um otário, como diriam os meus personagens, absolutamente desavisado. A realidade brasileira é muito superior ao que a arte brasileira já fez; nós ainda não temos uma literatura à altura da multiplicidade de realidades brasileiras e da grandiosidade dessas realidades. Por exemplo: nós não temos uma boa literatura sobre futebol, nós não temos uma boa literatura sobre favela, nós não temos uma boa literatura sobre samba, nós não temos uma boa literatura sobre êxodo rural; nós não temos obras tópicas, por exemplo, as coisas de Graciliano Ramos, Lima Barreto, e outros exemplos bons.

 

2. Citando Salim Miguel
Eu disse, no começo desta nossa conversa, que os temas com que o escritor trabalha são relativamente os mesmos desde o início dos tempos. Agora, no meu caso, não tenho personagens nem temas. Temas ou personagens é que me procuram. Para alguns digo: ‘tudo bem, vamos trabalhar’; para outros: ‘procure outro escritor porque não consigo chegar aonde tu queres’.

 

Cai o pano. Xeque.

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