segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Crônicas

novembro 03, 2014 Por Alexandre Morais Sem comentários


                                        Amélia
 
    Não sei se Amélia é mulher de verdade. Verdade só se conhece de perto. E Amélia só passa longe. Como ela passa longe, mesmo quando perto. Não olha, não faz que olha e faz que não sabe que tá sendo olhada.
    Mas mulher eu sei que é. Porque é muito mulher. Como ela é mulher! Em passos, em gestos, em corpo, em cabelo, em cheiro (cheiro se sente de longe, né?), em roupas... 
     Ah, em roupas ela é muito mulher. Talvez as roupas são o que a fazem tão mulher. Tenho quase certeza que são as roupas.
     É que são roupas, tipo, segunda pele. Ou, tipo, melhor pele. Porque as roupas de Amélia desenham ela melhor que sua própria pele. Desenham, sim. Nunca vi Amélia em pele, mas sei que a roupa lhe faz melhor. Roupa de mulher é assim.
       E se são aquelas roupas de academia! Aí é que o desenho vai além do real.
     Pois é assim que Amélia passa sempre. Sempre mesmo. Porque ela passa e fica. Fica em passos, em gestos, em corpo, em cabelo, em cheiro... principalmente em cheiro. Mas principalmente em roupas. Porque as roupas é que despertam todas as outras sensações.
  Amélia é assim. Tem jeito de sempre. Amélia é a representante das moças das academias de toda a cidade. E como tem academia na cidade por esses tempos, já percebeu? E como tem clientes para tantas academias. Fico me perguntando: será que todas vão mesmo às academias? Acho que não.
    Tiro isso por Amélia. Não que ela não vá. Ela vai, eu sei. Mas Amélia faz uma hora de academia e passa o resto do dia desfilando pelas ruas.
     Amélia não vai à academia mais perto de casa. Nem à mais barata. Nem à mais equipada e acompanhada pelos melhores profissionais. Ela vai à mais distante de casa porque só assim ela pode atravessar toda a cidade, indo e voltando, indo e voltando... assim, sempre indo e sempre voltando. Sempre Amélia.
    A cidade fica cheia de Amélias. De todas as idades. De todos os corpos. De todas as roupas... Mas Amélia não é mulher de verdade. Agora eu sei. Amélia não pode ser mulher de verdade.
      Amélia tem muita vaidade.

Foto: L. Felipe Ferreira Desenhos
Copiado de: http://luizfferreiradesenhos.blogspot.com.br/2012/12/rosto-de-mulher.html

0 comentários:

Postar um comentário