Vital
Foto copiada de www.ventosdepaz.blogspot.com. Sem crédito |
Vital não é homem de
meios termos. Entre café e uísque, ele prefere um de cada vez. Entre ler e
ouvir rádio, ele prefere os dois ao mesmo tempo. Entre o ontem e o hoje, ele
prefere o amanhã. Diz que o amanhã tem mistério. E entre o ócio e o trabalho,
claro, ele fica com o primeiro porque aprendeu com Ferreira que ninguém é de
ferro. E de ferro Ferreira entende.
Pois sim. Vital é
assim. Enquanto os homens da cidade se fecham em golas e punhos, Vital abre a
camisa no peito. Para e observa quando ninguém para nem observa nada. Todo
mundo vai veloz. Todo mundo vai levado por alguma coisa que chamam de falta de
tempo.
Cadê o bom dia? O como
vai a família? Que livro você tá lendo? E poesia? E música? Política, futebol...
pelo menos política e futebol, gente! Fica Vital se perguntando por que as
pessoas não se perguntam. E porque as pessoas não se respostam.
Em vão. Os carros
passam velozes. As motos passam atropelantes. E as pessoas? Pelo menos as
pessoas podiam passar devagar. Mas não. Também não. Todos vão e vão e vão...
sempre vão, nunca vem ao encontro delas mesmas.
Vital, sim. Vital se
encontra o tempo todo. Na cadeira de balanço. Na rede. Na calçada. Na praça. No
café. Numa roda de conversa (é, ainda existem algumas). No bar. Ah, no bar é
onde Vital se encontra mais. Porque ali algumas pessoas acabam parando. E
parando se encontram. Porque deixam de ir e ir e ir. Ali elas ficam. Elas são
elas mesmas por um pouco. Nem que seja por um pouco, afinal precisam correr
porque o dia seguinte é dia de... correr.
Como essa tal de falta
de tempo tem deixado o tempo desumano. Todo mundo vai e só Vital é que vem.
Quem será que tá na contramão?
Sei, não. Acho que para
este nosso tempo é vital ser Vital.
Alexandre Morais
0 comentários:
Postar um comentário