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Gastão
O comercial da TV nem
terminou e Gastão já tava destravando o celular. Memorizou o número da pseudo
promoção e, não deu outra, efetuou mais uma compra de um produto que não lhe
faria falta alguma se não existisse.
Atitude corriqueira, a de Gastão. Era assim sempre,
há anos. Era roupa, era tênis, eram eletrônicos e eram bugigangas de todas as
espécies e origens.
Gastão é a cara do homem moderno consumista. Não
perde pra ninguém em exibicionismo de bens. O carro? É um esportivo do ano. Aliás,
tem moto também. E tem um jipe trilheiro também. O relógio? São os relógios,
todos com selos aparentes de grandes marcas. Os perfumes? Também são muitos,
tipo um pra cada ocasião. E o celular de Gastão? Nunca passou quatro meses com
um. É sempre trocando e alisando o dedo na tela até chegar-lhe a certeza que
todos já perceberam a nova aquisição.
Mas Gastão é a cara do homem moderno consumista. O
carro não passa mais de um mês com seguro porque ele não paga a fartura e o
serviço é cancelado. Tem conta em todos os postos de combustível da cidade.
Todas altas e atrasadas. Os cartões de crédito também não o suportam mais. Nas
lojas ele já compra em nome de outras pessoas porque seu crédito já passou do
teto há muito. As contas bancárias parecem um sinal de trânsito quebrado na cor
de pare.
Só que Gastão é a cara do homem moderno consumista.
Ele não perde a banca. E tem sempre um jeitinho para se dar bem. Ao modo dele,
é claro.
E lá vai Gastão, comprando a comprando e comprando.
E não pagando, não pagando, não pagando. Ninguém mais lhe conhece pelo nome,
pela família ou pelo trabalho, como é comum em cidades do interior. Conhecem
como o cara boa pinta, mas sem confiança. Perdeu todos os créditos morais e
financeiros.
Mas não tá nem aí. Ele quer é mais. Como gasta e se
desgasta, esse Gastão.
< Alexandre Morais >
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