Imagem copiada de: https://dedindeproza.wordpress.com/2012/05/28/as-mulheres-de-30/ |
Não sei se Amélia é
mulher de verdade. Verdade só se conhece de perto. E Amélia só passa longe. Como
ela passa longe, mesmo quando perto. Não olha, não faz que olha e faz que não
sabe que tá sendo olhada.
Mas mulher eu sei que
é. Porque é muito mulher. Com ela é mulher! Em passos, em gestos, em corpo, em
cabelo, em cheiro (cheiro se sente de longe, né?), em roupas... Ah, em roupas
ela é muito mulher. Talvez as roupas são o que a fazem tão mulher. Tenho quase certeza
que são as roupas.
É que são roupas, tipo,
segunda pele. Ou tipo, melhor pele. Porque as roupas de Amélia desenham ela
melhor que sua própria pele. Desenham, sim. Nunca vi Amélia em pele, mas sei
que a roupa lhe faz melhor. Roupa de mulher não é assim?
E se são aquelas
roupas de academia? Aí é que o desenho vai além do real. Pois é assim que
Amélia passa sempre. Sempre mesmo. Porque ela passa e fica. Fica em passos, em
gestos, em corpo, em cabelo, em cheiro... principalmente em cheiro. Mas
principalmente em roupas. Porque as roupas é que despertam todas as outras
sensações.
Amélia é assim. Tem
jeito de sempre. Amélia é a representante das moças das academias de toda a
cidade. E como tem academia na cidade por esses tempos, já percebeu? E como tem
clientes para tantas academias. Fico me perguntando: será que todas vão mesmo
às academias? Acho que não.
Tiro isso por Amélia.
Não que ela não vá. Ela vai, eu sei. Mas Amélia faz uma hora de academia e
passa o resto do dia desfilando pelas ruas. Amélia não vai à academia mais
perto de casa. Nem à mais barata. Nem à mais equipada e acompanhada pelos
melhores profissionais. Ela vai à mais distante de casa porque só assim ela
pode atravessar toda a cidade, indo e voltando, indo e voltando... assim,
sempre indo e voltando. Sempre Amélia.
A cidade fica cheia de
Amélias. De todas as idades. De todos os corpos. De todas as roupas... Mas
Amélia não é mulher de verdade. Agora eu sei. Amélia tem muita vaidade.
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