terça-feira, 24 de abril de 2018

A Casa da Janela Azul

abril 24, 2018 Por Alexsandro Acioly Sem comentários
Foto: Leca Acioly


   O batente, invernizado pelo debruçar do olhar viçoso, emoldurava o rosto da dona da casa da janela azul. Na fachada, lá em cima, em alto relevo, um brasão indicava a altura da cumeeira. Talhado pelas mãos caprichosas do pedreiro mais requisitado, mostrava que ali habitava a mais bela face daquele rincão. 
   Se fez de binóculo, montou uma tenda, acampou no oitão daquele tudo azul. Cobriu-se de sombras, pintou o momento e deitou nos braços de uma utopia. 
   Era sagrado: todo entardecer, esperava esfriar o mormaço, pra se dourar de sol, deitar os seios no batente e se banhar de luz. A porta em duas bandas se dividia, e quando entreaberta, quem de longe via, era ver uma tela, uma fotografia, ou então um poema de Carlos Drummond. 
    Por trás das lentes daquele binóculo, só existia um mundo, e ele era todo azul.


                                                                     < Maciel Melo >


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