Foto: Leca Acioly |
O
batente, invernizado pelo debruçar do olhar viçoso, emoldurava o rosto da dona
da casa da janela azul. Na fachada, lá em cima, em alto relevo, um brasão
indicava a altura da cumeeira. Talhado pelas mãos caprichosas do pedreiro mais
requisitado, mostrava que ali habitava a mais bela face daquele rincão.
Se fez de binóculo, montou uma tenda, acampou no oitão daquele tudo azul.
Cobriu-se de sombras, pintou o momento e deitou nos braços de uma utopia.
Era sagrado: todo entardecer, esperava esfriar o mormaço, pra se dourar de sol,
deitar os seios no batente e se banhar de luz. A porta em duas bandas se
dividia, e quando entreaberta, quem de longe via, era ver uma tela, uma
fotografia, ou então um poema de Carlos Drummond.
Por trás das lentes daquele binóculo, só existia um mundo, e ele era todo azul.
< Maciel Melo >
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