Foto: Leca Acioly |
A
essência do sândalo, que ficou na lâmina do machado que também feriu a baraúna
assanha a ira de meus pulmões, me enchendo de revolta em ver tal crueldade.
Madeeeeira! Ecoa em meus tímpanos aquele grito sórdido e desumano deixando
banguela a boca da mata virgem, que está diante dos meus olhos. Paro o carro ao
me indignar com tanta frieza.
Penso em ir até lá e defender aquela pobre árvore
anciã, que aos poucos vai sendo derrubada sobre as mais jovens, esmagando
brotos de mandacarus que, perplexos, assistem sua sentença de morte sem dó e
sem piedade. Ligo o alerta, ninguém mais além de mim. Tudo deserto. Aquele ôco
na mata transformar-se-há em chaminés de mais uma fábrica que vai tingir de
cinza o azul do meu céu. Pego a reta. A estrada fria e pálida vai rasgando o
sertão da Chapada Diamantina. A Bahia é imensa, a magia de sua cor hipnotiza,
transcende, reluz, me acende a alma.
Segure a onda, meu rei! A preguiça paira
no ar, coloco uma música de Dorival Caymmi e piso o acelerador pra me afastar o
mais rápido possível daquela cena triste.
O som das pancadas do machado vão se
misturando com o ronco do motor e aquela essência fúnebre agora cheira a
diesel. À esquerda, uma placa avisa: Lençóis a 20 km. Uma das belezas raras que
a natureza fincou no meio desse sertão tão seco, como se quisesse compensar o
sofrimento desse povo árido, desnutrido, sem chão, sem pão, sem voz, sem vez e
sem perspectiva.
Aos poucos, em câmara lenta, vai se diluindo aquela cena vista
há quilômetros atrás. Pego um atalho no pensamento e de repente: um fogo fátuo
fumaçando forte, me fazendo ficar febril o coração. Hora de mudar o rumo dos
delírios da viagem. Feira de Santana à vista. Vou comer um bode e tomar uma bem
gelada.
(Maciel Melo)
0 comments:
Postar um comentário