quarta-feira, 9 de maio de 2018

A Ira do Machado...

maio 09, 2018 Por Alexsandro Acioly Sem comentários
Foto: Leca Acioly



       A essência do sândalo, que ficou na lâmina do machado que também feriu a baraúna assanha a ira de meus pulmões, me enchendo de revolta em ver tal crueldade. Madeeeeira! Ecoa em meus tímpanos aquele grito sórdido e desumano deixando banguela a boca da mata virgem, que está diante dos meus olhos. Paro o carro ao me indignar com tanta frieza. 
     Penso em ir até lá e defender aquela pobre árvore anciã, que aos poucos vai sendo derrubada sobre as mais jovens, esmagando brotos de mandacarus que, perplexos, assistem sua sentença de morte sem dó e sem piedade. Ligo o alerta, ninguém mais além de mim. Tudo deserto. Aquele ôco na mata transformar-se-há em chaminés de mais uma fábrica que vai tingir de cinza o azul do meu céu. Pego a reta. A estrada fria e pálida vai rasgando o sertão da Chapada Diamantina. A Bahia é imensa, a magia de sua cor hipnotiza, transcende, reluz, me acende a alma. 
    Segure a onda, meu rei! A preguiça paira no ar, coloco uma música de Dorival Caymmi e piso o acelerador pra me afastar o mais rápido possível daquela cena triste. 
O som das pancadas do machado vão se misturando com o ronco do motor e aquela essência fúnebre agora cheira a diesel. À esquerda, uma placa avisa: Lençóis a 20 km. Uma das belezas raras que a natureza fincou no meio desse sertão tão seco, como se quisesse compensar o sofrimento desse povo árido, desnutrido, sem chão, sem pão, sem voz, sem vez e sem perspectiva. 
     Aos poucos, em câmara lenta, vai se diluindo aquela cena vista há quilômetros atrás. Pego um atalho no pensamento e de repente: um fogo fátuo fumaçando forte, me fazendo ficar febril o coração. Hora de mudar o rumo dos delírios da viagem. Feira de Santana à vista. Vou comer um bode e tomar uma bem gelada.


(Maciel Melo)

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