Foto: Leca Acioly |
Hoje
eu tive uma conversa de pé-de-urêa com Deus. Cochichamos um bom tempo e
colocamos os pingos no is. Tenho cá minhas reticências em relação a seu jeito
de ditar ordens nesse meu jeito de ser. Sou teimoso, malovido, desatento, e ao
mesmo tempo obediente à sua divindade. Aprendi a espalhar o pelo sinal no
rosto, fazendo um pedido em cada ponto tocado com o polegar. Antigamente, pedia
um carrinho de brinquedo, uma bicicleta, um pião novo com ponteira e tudo, e às
vezes uma roupa nova pra passar a festa de janeiro, a única que tínhamos na
cidade naquela época, a Festa de São Sebastião. Isso acontecia em um cantinho
sagrado, lá na casa de mãe. Havia um oratório, e dentro dele as imagens de
Nossa Senhora, Jesus Crucificado e outro santo que não lembro qual era. Éramos
treze pessoas, eu, meus dez irmãos, minha mãe e meu pai, mestre Heleno. Que
saudades, meu velho!...
Pois bem, todas as noites, à mesma hora, nos reuníamos, e tenho a impressão que
mãe rezava aquele terço diário além da fé, também para contar os filhos, saber
se estávamos todos lá ao redor de sua saia, pois pra contar todos, só ali, ou
quando estávamos dormindo. Dona Maria de Lourdes, sempre atenta a tudo e a
todos!
Eu cresci, me tornei homem e ela ainda hoje acha que eu não sei rezar. E tem
razão, nunca consegui decorar uma oração inteira, por isso aprendi a compor pra
poder cantar minhas próprias ladainhas e fazer duetos com o Divino Espírito
Santo.
Obrigado, Senhor, por tudo que sou hoje, por tudo que tenho e pelo que
não tenho, por meus amigos de fé e por aqueles que ainda virão.
Boa tarde a todos e um bom São João para todos os artistas que, assim como eu,
vivem da arte.
< Maciel Melo >
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