segunda-feira, 28 de maio de 2018

Crônicas

maio 28, 2018 Por Alexandre Morais Sem comentários
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   Elisa

  Elisa nunca levou a sério nada que é sério. Nasceu e cresceu pra flutuar na superfluidade do nada. Do que não cansa, do que não exige, do que não faz pensar.
  Se viveu eu não sei, mas que cresceu, cresceu. Tá bem crescidinha. Cresceu em corpo e idade. Não proporcionalmente, porque fisicamente ela cresceu melhor. Deve ter sido essa tal lei da compensação.
   Não sei porque as vezes se compensa o nada. Mas com Elisa foi assim. Cresceu entendendo muito de nada e de nádegas. E se o nada não a levou a nada, as nádegas a levaram a tudo.
   Logo Elisa que na escola só desfilava. Desfilava vaidades e mancadas. Foi ela que disse a professora de Geografia que não falaria sobre a Chechênia porque a aula não era de corpo humano. Também se negou a fazer uma prova oral porque só sabia o assunto de escrever e não de dizer. Contam que foi ela que disse que Drummond inventou o avião. Essa seria até aceitável pela semelhança fonética se Elisa não já contasse idade de vestibular naquela época.
  Não podia ser diferente. O jornal chegava pesado de notícias e Elisa espalhava todas as páginas em busca do horóscopo. Com anos neste ofício e ainda procurava o horóscopo no caderno de economia. Na edição do domingo ia além. Lia também o resumo das novelas. E tome festa e tome shopping; e roupas e saltos, e sol e salão.
    Não demorou e Elisa virou madame. Casou com um rapaz que de tão ocupado com os negócios não teve tempo de ver o nada de Elisa. Viu as nádegas. Paga por elas até hoje. E tome shopping e roupas e saltos e jóias e carros e viagens e tudo de novo o ano todo.
    E lá está Elisa sem assunto nas rodas sociais. Tem colega madame que não trabalha, mas tem profissão. É advogada, é publicitária, é arquiteta. Tem administradora que uma vez por semana dá expediente na empresa do marido e se diz a peça mais importante daquele negócio. Outra esbanja conhecimentos em artes plásticas e música clássica. Fala em Picasso e Elisa solta um riso de vergonha. Fala em Chopin e Elisa fica pensando o que é que isso tem a ver com cerveja. E ainda aparece uma falando em inglês, francês e espanhol.
    Mas Elisa é Elisa. Não deixa por menos. Faz que entende, inventa, se passa por igual. Sempre dá um jeitinho de parecer ser.
     Que cara lisa a de Elisa.

< Alexandre Morais >

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