Elisa nunca levou a sério
nada que é sério. Nasceu e cresceu pra flutuar na superfluidade do nada. Do que
não cansa, do que não exige, do que não faz pensar.
Se viveu eu não sei, mas
que cresceu, cresceu. Tá bem crescidinha. Cresceu em corpo e idade. Não
proporcionalmente, porque fisicamente ela cresceu melhor. Deve ter sido essa
tal lei da compensação.
Não sei porque as vezes se
compensa o nada. Mas com Elisa foi assim. Cresceu entendendo muito de nada e de
nádegas. E se o nada não a levou a nada, as nádegas a levaram a tudo.
Logo Elisa que na escola
só desfilava. Desfilava vaidades e mancadas. Foi ela que disse a professora de
Geografia que não falaria sobre a Chechênia porque a aula não era de corpo
humano. Também se negou a fazer uma prova oral porque só sabia o assunto de
escrever e não de dizer. Contam que foi ela que disse que Drummond inventou o
avião. Essa seria até aceitável pela semelhança fonética se Elisa não já
contasse idade de vestibular naquela época.
Não podia ser diferente. O
jornal chegava pesado de notícias e Elisa espalhava todas as páginas em busca
do horóscopo. Com anos neste ofício e ainda procurava o horóscopo no caderno de
economia. Na edição do domingo ia além. Lia também o resumo das novelas. E tome
festa e tome shopping; e roupas e saltos, e sol e salão.
Não demorou e Elisa virou
madame. Casou com um rapaz que de tão ocupado com os negócios não teve tempo de
ver o nada de Elisa. Viu as nádegas. Paga por elas até hoje. E tome shopping e
roupas e saltos e joias e carros e viagens e tudo de novo o ano todo.
E lá está Elisa sem
assunto nas rodas sociais. Tem colega madame que não trabalha, mas tem
profissão. É advogada, é publicitária, é arquiteta. Tem administradora que uma
vez por semana dá expediente na empresa do marido e se diz a peça mais
importante daquele negócio. Outra esbanja conhecimentos em artes plásticas e
música clássica. Fala em Picasso e Elisa solta um riso de vergonha. Fala em
Chopin e Elisa fica pensando o que é que isso tem a ver com cerveja. E ainda
aparece uma falando em inglês, francês e espanhol.
Mas Elisa é Elisa. Não
deixa por menos. Faz que entende, inventa, se passa por igual. Sempre dá um
jeitinho de parecer ser.
Que cara lisa a de Elisa.
< Alexandre Morais >
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