quinta-feira, 14 de junho de 2018

Clássicos relançados pela CEPE

junho 14, 2018 Por Alexandre Morais Sem comentários




























   Existem palavras que entram em desuso tal qual seus significados. Arruar quer dizer passear pela rua. Na contemporaneidade, a maioria das pessoas não utiliza o verbo; o hábito de caminhar devagar, contemplando a própria cidade, também ficou de lado. Em 1948 era publicada pela primeira vez a obra Arruar: história pitoresca do Recife Antigo, do jornalista e escritor recifense Mário Sette (1886-1950). Setenta anos depois, a Cepe Editora reedita a obra esgotada, ao lado de outro clássico de 1976, Bacamarte, Pólvora e Povo, de Olimpio Bonald Neto, também esgotado e, por isso, reeditado. Os títulos integram a Coleção Acervo Pernambuco e serão lançados no dia 18 de junho, a partir das 19h, na Academia Pernambucana de Letras (APL).
   Nas 472 páginas em que Mário Sette se debruçou, um retrato do Recife que se fez cidade desde os tempos maurícios até o século 20. Nessa fotografia em forma de prosa poética, uma oportunidade de conhecer, sentir o cheiro, as cores e os sons, a narrativa da formação da cidade e, dessa maneira, compreendê-la no tempo presente e no futuro. A importância da publicação se faz notar no bilhete do poeta recifense Manuel Bandeira dirigido ao autor, que é reproduzido no livro. “Aprendi muita coisa no seu livro sobre minha querida cidade natal”, diz trecho de Bandeira.
   Arruar… Andar na rua no Recife do século 19 não era um hábito das pessoas ‘de bem’. Mas quem se permitia ao menos olhar para a rua, estava sentado em berço esplêndido no camarim da vida. Pessoas, costumes, vestuários e vocabulários mudam para dar passagem ao crescimento urbanístico, que alarga ruas e destrói sobrados, arcos e até igrejas. Ao mesmo tempo em que o ‘progresso’ traz seguras pontes de ferro em lugar das de madeira para passar sobre os rios. Diante deles nasceram ruas marcantes. “Rua da Aurora, o mais belo balcão da cidade, beirando as águas, com seu cais primitivo de pilastras conjugadas por correntes de ferro, sem dúvida numa evocação popular das naus criadoras do país.”
   Bacamarte – Fruto de uma pesquisa realizada em 1963 para o Instituto Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, hoje Fundação Joaquim Nabuco, Bacamarte, Pólvora e Povo, do historiador, acadêmico e escritor Olimpio Bonald Neto, ganha nova edição pela Cepe Editora 42 anos depois da primeira impressão comercial (Edições Arquimedes).
   Apesar do hiato temporal é considerado o mais completo estudo na área da antropologia cultural a se debruçar sobre o universo dos bacamarteiros, tendo ainda o mérito de ser importante indutor para a preservação do folguedo, estimulando a criação de diversos grupos de atiradores no Agreste e na Zona da Mata de Pernambuco e da Paraíba. “Esta pesquisa vem influenciando grupos e instituições públicas, dirimindo equívocos de interpretação, como o da apreensão de bacamartes logo após o penúltimo golpe, o de 1964, quando em Caruaru agentes da 'inteligência revolucionária' alegavam se tratar, os bacamarteiros, de milícias dos guerrilheiros camponeses de Miguel Arraes”, destaca em seu prefácio Ivan Marinho, presidente da Sociedade dos Bacamarteiros do Cabo, Patrimônio Vivo de Pernambuco, fundada por ex-camponeses egressos do Agreste e do Sertão um ano depois do lançamento do título.
   Em 148 páginas, resgata a matriz histórica dos bacamarteiros - ligada à Guerra do Paraguai (1864-1870), o maior conflito armado da América Latina no século 19 -, a dinâmica sociocultural que envolveu a manifestação cultural ao longo das décadas, seu simbolismo místico, a história dos muitos batalhões, entre tantos outros aspectos daqueles exércitos de tiros e festejos formados por homens do campo, pequenos comerciantes e operários e que até hoje se configura como uma das expressivas representações do folclore nordestino.

Da Assessoria de Imprensa/CEPE

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