Existem
palavras que entram em desuso tal qual seus significados. Arruar quer
dizer passear pela rua. Na contemporaneidade, a maioria das pessoas
não utiliza o verbo; o hábito de caminhar devagar, contemplando a
própria cidade, também ficou de lado. Em 1948 era publicada pela
primeira vez a obra Arruar: história pitoresca do Recife Antigo,
do jornalista e escritor recifense Mário Sette (1886-1950). Setenta
anos depois, a Cepe Editora reedita a obra esgotada, ao lado de outro
clássico de 1976, Bacamarte, Pólvora e Povo, de Olimpio
Bonald Neto, também esgotado e, por isso, reeditado. Os títulos
integram a Coleção Acervo Pernambuco e serão lançados no dia 18
de junho, a partir das 19h, na Academia Pernambucana de Letras (APL).
Nas
472 páginas em que Mário Sette se debruçou, um retrato do Recife
que se fez cidade desde os tempos maurícios até o século 20. Nessa
fotografia em forma de prosa poética, uma oportunidade de conhecer,
sentir o cheiro, as cores e os sons, a narrativa da formação da
cidade e, dessa maneira, compreendê-la no tempo presente e no
futuro. A importância da publicação se faz notar no bilhete do
poeta recifense Manuel Bandeira dirigido ao autor, que é reproduzido
no livro. “Aprendi muita coisa no seu livro sobre minha querida
cidade natal”, diz trecho de Bandeira.
Arruar…
Andar na rua no Recife do século 19 não era um hábito das pessoas
‘de bem’. Mas quem se permitia ao menos olhar para a rua, estava
sentado em berço esplêndido no camarim da vida. Pessoas, costumes,
vestuários e vocabulários mudam para dar passagem ao crescimento
urbanístico, que alarga ruas e destrói sobrados, arcos e até
igrejas. Ao mesmo tempo em que o ‘progresso’ traz seguras pontes
de ferro em lugar das de madeira para passar sobre os rios. Diante
deles nasceram ruas marcantes. “Rua da Aurora, o mais belo balcão
da cidade, beirando as águas, com seu cais primitivo de pilastras
conjugadas por correntes de ferro, sem dúvida numa evocação
popular das naus criadoras do país.”
Bacamarte
– Fruto de uma pesquisa realizada em 1963 para o Instituto
Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, hoje Fundação Joaquim Nabuco,
Bacamarte, Pólvora e Povo, do
historiador, acadêmico e escritor Olimpio Bonald Neto, ganha nova
edição pela Cepe Editora 42 anos depois da primeira impressão
comercial (Edições Arquimedes).
Apesar
do hiato temporal é considerado o mais completo estudo na área da
antropologia cultural a se debruçar sobre o universo dos
bacamarteiros, tendo ainda o mérito de ser importante indutor para
a preservação do folguedo, estimulando
a
criação de diversos
grupos de atiradores no
Agreste e na
Zona
da Mata
de Pernambuco e da Paraíba. “Esta
pesquisa vem influenciando grupos e instituições públicas,
dirimindo
equívocos de interpretação, como o da apreensão de bacamartes
logo após o penúltimo golpe, o de 1964, quando em Caruaru agentes
da 'inteligência revolucionária' alegavam se tratar, os
bacamarteiros, de milícias dos guerrilheiros camponeses de Miguel
Arraes”, destaca em seu prefácio Ivan Marinho, presidente da
Sociedade dos Bacamarteiros do Cabo, Patrimônio
Vivo de Pernambuco, fundada por ex-camponeses egressos do Agreste e
do Sertão um ano depois do lançamento do título.
Em
148 páginas, resgata a matriz histórica dos bacamarteiros - ligada
à Guerra do Paraguai (1864-1870), o maior conflito armado da
América Latina no século 19 -, a dinâmica sociocultural que
envolveu a manifestação cultural ao longo das décadas, seu
simbolismo místico, a história dos muitos batalhões, entre tantos
outros aspectos daqueles exércitos de tiros e festejos formados
por homens do campo, pequenos comerciantes e operários e que até
hoje se configura como uma das expressivas representações do
folclore nordestino.
Da Assessoria de Imprensa/CEPE
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