quarta-feira, 18 de julho de 2018

A Rainha das Palavras

julho 18, 2018 Por Alexsandro Acioly Sem comentários
Imagem/divulgação

   Não sou escravo da escrita. Escrevo, às vezes escracho, às vezes me encaixo nas fendas do imaginário e saio cascavilhando idéias obscuras pelas locas do pensamento, e me dano a imaginar assuntos soltos, jogados ao vento. Sou escrachado, não uso crachá, sou um malabarista pendurado
na crista de um acróstico. 
   A qualquer momento, posso cair no crivo crônico de uma crítica escravocrata, encravada na crosta de uma academia de letras garrafais, onde os rótulos cravam os critérios de quem escreve ou pensa em escrever. Não estendo panos manchados com tintas de canetas alheias. Em meu varal só penduro camisas com bolsos borrados com o nanquim que recarrega minha própria pena. 
   Quem tem telhado de vidro não joga pedra nos óculos dos outros. Acredito no poema escrito. Por isso, quando escrevo a palavra escravo, descrevo o cravo que crê que o mundo gira em torno da rosa. Acredito no poder da oralidade, me seduz acreditar no fluxo do amor, oral, pois minha língua lambuza a libido, lambendo o sumo salgado, suado, que sai dos poros de uma palavra clitoriosa, dita por uma musa grega sugada pela imaginação de um poeta louco, que colocou a poesia nos seios de uma metáfora e achou que a vida era uma mamadeira. 
   A palavra escrita pode sair da página, se tornar física e acelerar a química entre dois corpos. Uma palavra bem dita pode fazer o invisível aparecer. Uma palavra mal dita pode exterminar o frenesi de um texto que poderia ser um romance escrito com a tinta azul de uma caneta Bic, daquelas que falham, e que a gente sacode, esfrega na palma das mãos, mas que no final entregamos a prova pronta para o professor, não importando se o resultado será a nota máxima ou não. Palavras são palavras, mesmo ditas em silêncio. 
   Reverencio aqui, a rainha das palavras: AMOR.
(Maciel Melo)

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