Lia-se “Cantinho do Vovô” ao invés de “ordem e progresso” na bandeira
pintada no portão. Era o portal para a comunidade dos Novos Baianos
entre 1971 e 1975, um sítio em Jacarepaguá, zona oeste do Rio de
Janeiro. Em plena ditadura militar, os músicos de Acabou Chorare e Preta
Pretinha viviam lá seu “neo-socialismo”.
Na casa armavam-se cabanas, as moradias próprias de cada um. Já era assim no apartamento, em Copacabana, onde não tinham tanta liberdade e natureza, além de terem sido despejados por falta de pagamento. Viviam juntos os Novos Baianos Moraes Moreira, Luiz Galvão, Baby Consuelo hoje Baby do Brasil, Paulinho Boca de Cantor e Pepeu Gomes, mais a banda A Cor do Som. Sem contar motorista, empresário, esposas, as crianças e agregados, como um argentino de dupla personalidade e um índio boliviano que conheceram na Bahia.
Na casa armavam-se cabanas, as moradias próprias de cada um. Já era assim no apartamento, em Copacabana, onde não tinham tanta liberdade e natureza, além de terem sido despejados por falta de pagamento. Viviam juntos os Novos Baianos Moraes Moreira, Luiz Galvão, Baby Consuelo hoje Baby do Brasil, Paulinho Boca de Cantor e Pepeu Gomes, mais a banda A Cor do Som. Sem contar motorista, empresário, esposas, as crianças e agregados, como um argentino de dupla personalidade e um índio boliviano que conheceram na Bahia.
A ideia, segundo Galvão, autor de Anos 70: Novos e Baianos (34,
1997), era “manter as pessoas juntas, sem que elas se sentissem
agredidas por normas, proibições e ordens”. Havia os administradores dos
assuntos gerais: cozinha e lavanderia. Uma dupla se responsabilizava
pelos instrumentos, outros cuidavam dos gastos com futebol, e assim por
diante. Na porta da cozinha ficava o “mocó”, um saco com o dinheiro que
tinham, de uso comunitário. “Somos crianças brincando de casinha”, dizia
Baby, que depois viraria do Brasil.
Caetano Veloso, Gilberto Gil e Tom Zé eram visitas constantes, além
de curiosos em geral. Certa vez apareceu um ex-presidiário, que, saindo
da prisão, não tinha para onde ir. Foi recebido. Excursões escolares
chegaram a visitar o sítio para conhecer o sistema.
Vira e mexe os moradores do sítio tinham problemas com a polícia. Ou
por porte de drogas, das quais eram adeptos para “se livrar das ideias
opressoras”, ou, simplesmente, por serem cabeludos.
Todos picando quiabos, uma enorme panela na fogueira e crianças
tomando banho no quintal eram cenas comuns no sítio. Os dias corriam com
rodas de música, ensaios, composições e peladas (ou babas, na gíria
baiana), muitas vezes levadas à sério em torneios. O principal
adversário era o time de Ipanema, com Evandro Mesquita e Vinícius
Cantuária no meio-de-campo. O pessoal do Cantinho do Vovô achava que o
futebol não merecia ser coisa de “alienado”, como pensava a juventude de
esquerda na época. Criaram o Novos Baianos Futebol Clube. O nome virou
também título do terceiro álbum deles, de 1973.
A alegria era uma arma contra os anos de chumbo. Galvão avalia que “o
grupo enfrentou o tempo Médici como numa partida de futebol, dando
sangue, suor, inteligência, calma, juventude, alma e todas as virtudes
para vencer e, na pior das hipóteses, empatar”. Acabou Chorare, elepê de
1972 que condensa o espírito da turma, é constante nas listas dos
melhores discos da música brasileira.
Copiado de: www.almanaquebrasil.com.br
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