terça-feira, 10 de julho de 2018

Os Brutos Também Amam

julho 10, 2018 Por Alexsandro Acioly Sem comentários
Imagem/Divulgação

    Era necessário reacender seu plano de luz. Se penumbrou, se sublinhou, reticenciou o assunto e encerrou o monólogo. Entendeu por fim que nada será como antes. "No princípio era o verbo". Agora, subjetivando-se entre os vertebrados, entre pássaros, folhas, flores e frutos, passa a perceber que "Os brutos também amam". Diz uma velha canção, que se faz recordar. Cada cabeça é um mundo, cada mundo tem suas tribos. A sua é de Já, de agora e sempre. O eterno é uma incógnita, o amor é livre, está a milhões de anos luz do seu umbigo. Em seu entorno, seres invisíveis, incomensuravelmente superiores à sua significância, se fazem presentes em cada molécula do ar que respira. 
  A noite foi longa, a luz do seu olhar iluminava na melancolia daquela música que hipnotizava a platéia ali presente. Era imprescindível uma concentração mais abstrata, pois o desejo lhe rasgava a carne, à medida em que as lembranças aceleravam o ritmo da última canção, que fizera protagonizando a mais cruel de suas tentações. Cânticos e louvores a Eros soavam pela madrugada.             
 Era o último ato. As luzes que azulavam o tablado, aos poucos se amiudavam, fazendo desaparecer a imagem que serviu de mote para uma fábula ferida, cheia de reticências, parágrafos e interrogações. Deu o último acorde, pôs o instrumento no pedestal, guardou a batuta e se curvou perante o público, reverenciando a todos, que o aplaudiam de pé, e assim foram todos os concertos de uma opereta que termina agora, entre a nudez da alma e o sobre-tudo da razão. A sinfonia da vida faz uma pausa, para dar inicio a uma nova composição. 
 Um novo mote surge entre o virtual e a fantasia, a orquestra lhe espera, e mais um bolero se fará fundo musical para o atavismo de sua poesia.
< Maciel Melo >

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