segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Arrumando as Gavetas

agosto 27, 2018 Por Alexsandro Acioly Sem comentários
Foto: Divulgação
     Hoje eu cismei de contar quantas gavetas tem o armário da vida. Gavetas que guardam coisas que eu nem lembrava, mas estão ali, como se fossem relicários. Pedaços de papel de embrulhar pão com rabiscos de músicas, papéis com cheiro de mofo, escritos à mão; papéis em branco, como se alguém fosse escrever algo e o assunto tivesse escapolido. Fotografias desfocadas, lembranças desfolhadas, manchas de passado, pedaços de momentos em pergaminhos amarelados pelo tempo; outros ainda intactos, esquecidos numa gaveta emperrada.
     A vida é como uma gaveta: a toda hora a gente abre e fecha, mesmo sem ter nada para guardar. Se não tiver puxador, é porque não tem nada lá dentro, está vazia, lá fora ninguém lhe abre, lá dentro a alma é vadia. Tem gavetas que guardam mentiras, tem gavetas que escondem verdades, tem gavetas vazias que guardam os vazios dos momentos fúteis, nos devaneios da estrada. Gavetas cheias de sonhos, gavetas secas de tudo, gavetas cheias de nada, gavetas cheias de gente, gente boa, camaradas, gavetas que guardam a gente, gavetas escancaradas.
(Maciel Melo)




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