segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Uma Crônica a Quatro Mãos. Só Querendo o Ser...

agosto 06, 2018 Por Alexsandro Acioly Sem comentários
Foto: Divulgação


Maviael – Pensou em escrever sobre o nada naquela noite fria, o frio era uma constância naquelas bandas. Como era para falar do nada e do nada falar, a tarefa não ficou nada fácil. Primeiro, imaginou-se no meio de um grande deserto onde nada tivesse, a não ser a sua vontade de relatar aquela inquietação sobre o nada. Nesse deserto e em seus quadrantes, pela observação literal, via escorrer por entre seus pensamentos duas diferentes rotas de encaminhar suas palavras. Assim, resolveu por onde ir e como prosseguir naquela noite insone e lenta.

Maciel – Já não havia mais nada a dizer. Dissera tudo e nada. O vazio preenchera-se de silêncio, deixando a palavra entalada na garganta. Mesmo que dissesse, de nada adiantaria. Estava exausto. Depois do cansaço da labuta do dia-a-dia, pendurou tudo que tinha para dizer nos punhos de uma rede. Começou a balançar, se impulsionando com os pés na parede. Renc, renc, renc... era o único ruído que ecoava na varanda. Ogrilo Sivirino se enrabichou por uma grila e há dias não dava o ar de sua graça. A perereca Zefinha e o sapo Ceverol também sumiram, apenas o galo preguiçoso do vizinho, vez em quando gaguejava um cocoricó. Aquele silêncio proposital, o qual se propusera a escutar, era necessário para buscar o que nunca perdeu. Na verdade, tudo estava dentro de sua consciência, e só a solidão iria trazer de volta o tudo ou o nada que cada um tem dentro de si.

Maviael e Maciel – Abriu uma cerveja, mas não bebeu; acendeu um cigarro e não fumou. Doíam-lhe as costas, pesavam em sua mente coisas que não fizera, promessas que não cumprira, saudades raras, sentenças sem vereditos, verdades não muito claras. Ruminava afetos, deletava mágoas, rasgava as anáguas do pensamento. Estava aprendendo a só ser. Estava navegando no nada, estava só querendo o ser.
(Maviael Melo/Maciel Melo)


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