sábado, 22 de dezembro de 2018

Sou o tal homem cordial que o Sérgio Buarque de Holanda falou…

dezembro 22, 2018 Por Alexandre Morais Sem comentários


Zeca Baleiro
Entrevista copiada de www.almanaquebrasil.com.br (2013)
Foto copiada de www.curtamais.com.br
Você se considera um otimista em relação ao futuro do País?
O que mais me indigna é uma certa torcida contra o Brasil, especialmente da classe média, média alta pra cima. Gente que queria ter nascido nova-iorquino e não nasceu. Você tem que amar o seu destino, como alguém disse. O Brasil começa a fazer isso. É uma reviravolta histórica. É evidente que a torcida contra vai continuar. Ela existe e é bom mesmo que exista, senão vira um jogo de um time só.

O que considera que o Brasil tem de melhor a oferecer para o mundo?
A cordialidade, conceituada pelo Sérgio Buarque de Holanda, e o jeitinho brasileiro. Os dois são sempre vistos e postos como coisas ruins. Mas eu acho que temos também que celebrá-los. É legal ser cordial. Os gringos que vêm pra cá ficam encantados com isso. Entram num boteco carioca e em dois minutos já criaram cumplicidade com alguém. Vão no mercado de Porto Alegre e logo estão dividindo um chimarrão ou uma cachaça. Isso não existe em lugar nenhum. No Maranhão é assim. O sujeito acabou de chegar e já arranjou amigos de infância. Sei que essa afetividade, essa cordialidade também têm um lado ruim, que é a imobilidade, a falta de debate. Mas o lado positivo deve ser valorizado.
E o jeitinho brasileiro, o que trouxe de bom?
Só se usa o termo para falar de corrupção, de suborno, de passar por cima das leis e das regras. Mas o jeitinho também gerou coisas maravilhosas. O samba só existe porque existe o jeitinho. O choro só existe porque existe o jeitinho. A favela é um milagre do jeitinho. A capacidade de improvisar é um grande patrimônio brasileiro, talvez o maior. Temos que usar essas coisas a nosso favor, como fizemos magistralmente no futebol. Por isso somos os únicos pentacampeões do mundo. A cordialidade, o jeitinho e a capacidade de improvisação, como diria Noel Rosa, são coisas nossas. É isso que nos faz tão especiais aos olhos do mundo.

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