domingo, 10 de novembro de 2019

Mancha negra

novembro 10, 2019 Por Alexandre Morais Sem comentários

Por Maciel Melo
 

    Eu preciso dizer algo sobre tudo que mata, sobre tudo que maltrata a vida e alimenta a morte.
    Eu preciso dizer qualquer coisa que desengasgue o meu repúdio e tire de mim a repugnância do vil-metal.
    Mas quando abri os olhos, hoje, um poeta, parceiro, e amigo já havia dito; e preferi fazer minhas a suas palavras.
    Então leiam o que o poeta Virgílio Siqueira disse:
 

NÓDOAS AO MAR

Manchas que se esgueiram pelo mar
Sem se anunciarem de onde vêm
De quem são; pra onde iriam
Regurgitadas; se alastram e vêm pelas águas
Em compostos de estranha matéria
De pervertidas entranhas
Falso canto de sereia
Envasados em tonéis de engodo
Que, em contato com a vida, mata ou definha
Essa nódoa é do que vem do âmago da Terra
O que seria pra mover os sonhos
Vira mancha e os ferra
Com fórmulas químicas letais
Espalham nódulos na fímbria da praia
Depois do sufocamento das algas e dos corais
As manchas são o que vem do âmago da Terra
É o que abjeta os desejos dos homens
(É o combustível das guerras)
Cerne dos martírios do mundo
O que enriquece uns tais e mata vários
Bendito e maldito magma; morte dos aquários
Desde o fundo mar, puindo a malha das ondas
Até aqui, onde o quebra-mar estronda
Contra a ignomínia dos boçais
Quem chorará sobre o óleo derramado
A matéria-prima do que move o mundo
E gira a infâmia desse vil mercado?
De onde vem o óleo
Que alimenta o ódio
Substrato insidioso e desejado?

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