D. Sebastião e a Pedra Bonita
A Pedra do Reino - Imagem/Internet |
No termo de Pajeú, em Pernambuco, os últimos rebentos das formações graníticas da costa se alteiam, em formas caprichosas, na Serra Talhada, dominando, majestoso, toda a região em torno e convergindo em largo anfiteatro acessível apenas por estreita garganta, entre muralhas a pique. No âmbito daquele, como púlpito gigantesco, ergue-se um bloco solitário - A Pedra Bonita.
( Os Sertões )
Num acampamento em pleno sertão pernambucano, 17 homens, de repente,
sacaram seus facões. Com eles, executaram mulheres, velhos e crianças.
Outros, num estado de descontrole, seguiram o exemplo. Assassinaram seus
próprios pais, filhos e esposas. Usaram o sangue para lambuzar duas
torres de pedra, marcos do acampamento. As mesmas pedras serviram para
quebrar o crânio de crianças. Mais de 200 pessoas foram mortas.
Era
14 de maio de 1838. Os homens em questão, tanto os assassinos quanto os
mortos, eram seguidores de uma seita conhecida como Pedra do Reino ou
Pedra Bonita. O episódio, o mais trágico e sangrento dos movimentos
sebastianistas brasileiros, inspirou grandes romances de José Lins do
Rego, Pedra Bonita, e de Ariano Suassuna, A Pedra do Reino – este,
aliás, ganhou os palcos de São Paulo numa montagem teatral. Apesar
disso, permanece desconhecido.
O sebastianismo é um movimento
místico português iniciado no século 16, que pregava que o rei
Sebastião, morto numa batalha, voltaria para ocupar o trono. No Brasil,
esses ideais foram incorporados no sertão nordestino – inspiraram até
Antônio Conselheiro em Canudos.
A
história da Pedra do Reino começou dois anos antes da carnificina, em
Villa Bella, comarca de Serra Talhada. Um dia, um rapaz de nome João
Antônio Vieira dos Santos afirmou que dom Sebastião habitava um reino
encantado perto de um local conhecido como Pedra Bonita.
Em suas
pregações, angariou dinheiro dos seguidores e montou um acampamento no
tal lugar mítico. Conhecido como Primeiro Reinado da Pedra Bonita, foi
marcado por discursos fanáticos e idéias contra o poder e a propriedade
privada. As autoridades não gostaram e expulsaram João Antônio de lá.
Dois
anos depois, outro homem, João Ferreira, que dizia ter visões de dom
Sebastião, assumiu o lugar de João Antônio e continuou a arregimentar
pessoas para seu acampamento. O Segundo Reinado da Pedra Bonita teve
mais de 300 moradores. A vida nele era um tanto bizarra. Os habitantes
passavam o dia embriagados e fumavam uma erva alucinógena para “entrar”
no reino de dom Sebastião. A matança aconteceu pouco após João Ferreira
anunciar que, numa visão de dom Sebastião, este afirmava que o sangue
dos seguidores o traria de volta.
A polícia soube do ocorrido e mandou
60 homens a Pedra Bonita. Houve um enfrentamento entre eles e os
seguidores – e mais 22 mortes. O criador da seita, João Antônio, acabou
morto.
Fonte: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/acervo/seita-pedra-bonita-sebastianismo-brasileira-434944.phtml
"Os Sertões" - Euclides da Cunha
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