Foto: Alexsandro Acioly |
SERTANIDADE
Lição de Sertanidade.
É com essa simples descrição que inicio esse texto sobre a bela obra do caboclo
sonhador Maciel Melo; o neguinho de Heleno, como ele mesmo se intitula no seu
livro, A Poeira e a Estrada.
Com um linguajar
fácil e de boa compreensão, Maciel nos faz viajar no tempo e nas coisas do
nosso sertão. Para quarentões, como eu, basta fechar os olhos depois de cada
estrofe lida que a viagem no tempo é certa e garantida, através de cada
palavra, ou frase, escrita por ele.
O neguinho de Heleno
relembra a sua infância na roça, nas olarias raspando tijolos, nas brincadeiras
de moleque e até o rugido das rodas dos carros de boi reavivam a sua memória,
como também a de nós, leitores, que, de uma forma ou de outra, vivenciamos
isso.
Maciel Melo dá uma
lição de sertanidade a alguns matutos que não conhecem a fundo, ou não querem
reconhecer, a natureza, a cultura, a religiosidade e tantos outros aspectos e
costumes do nosso torrão.
Ler esta obra foi
como debulhar um rosário, e sair correndo entre mistérios e Ave Marias
procurando a minha identidade. Através dessa procura é que encontro cada doido
que lembro na minha infância – São Anas, Zefas, Zabés, Mijões, Quincas, Pei
Peis, e tantos outros que, às vezes, a memória nos trai. É, através dessa leitura,
que também encontro bodegas – como a de seu João Santana e Enoque. Reencontro
barbeiros, engraxates, vendedores de meio de feira, o homem da Cobra e várias
outras figuras que compartilhavam suas vidas com as nossas.
E a primeira
bicicleta, como esquecer? Eu, como nunca tive a primeira, não tenho como
lembrar; mas, o neguinho de Heleno me levou à primeira televisão, que foi
repassada pela minha avó materna. Era uma televisão, se não me falhe a memória,
da marca TELEFUNKEN, preto e branca, sem falar que era de velas e demorava um
bocado de tempo para aparecer a imagem – enquanto a gente de casa e a
vizinhança, aguardávamos sentados no chão para assistir à novela e ao jornal.
Dias depois, painho comprou uma tela, daquelas vendidas na feira, que eram colocadas
em frente à tela da tv para a imagem ficar colorida... aí sim a coisa começou a
ficar melhor.
Figuras ilustres,
hoje esquecidas por alguns, nos são lembradas. Como seu conterrâneo Diógenes de
Arruda Câmara, nascido lá no Riacho do Mel, distrito de Iguaraci, que teve uma
grandiosa importância política e estudantil na Bahia para a construção do
Brasil. Não é à toa que Diógenes é homenageado em uma das obras de Jorge Amado,
intitulada “Os subterrâneos da Liberdade” – obra que ainda não li, mas irei ler
em breve.
O neguinho de Heleno
não é uma Regina Duarte, que cita o circo como talvez uma das suas influências
para o despertar da vida artística. O neguinho, não. Ele realmente viveu o circo
nos “Tempos de Menino” e, até hoje, carrega na boleia do destino esse
aprendizado de infância.
Por fim, Maciel Melo
deixa, nas últimas páginas do seu livro, um glossário de palavras usadas no
cotidiano do povo sertanejo que serve de guia para nós leitores.
Pois bem, com orelhas
abrindo as cancelas para a obra assinada pelo poeta e escritor Jessier Quirino,
e prefácio do escritor e redator Paulo Rocha, abrimos os olhos para a leitura
e, no final, os fechamos para viajarmos de carona nas histórias do ‘cabôco’
sonhador, do neguinho de Heleno, do pajeuzeiro de Iguaraci: Maciel Melo.
(Alexsandro Acioly)
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