quarta-feira, 27 de maio de 2020

maio 27, 2020 Por Alexsandro Acioly Sem comentários
Foto: Alexsandro Acioly


SERTANIDADE


Lição de Sertanidade. É com essa simples descrição que inicio esse texto sobre a bela obra do caboclo sonhador Maciel Melo; o neguinho de Heleno, como ele mesmo se intitula no seu livro, A Poeira e a Estrada.
Com um linguajar fácil e de boa compreensão, Maciel nos faz viajar no tempo e nas coisas do nosso sertão. Para quarentões, como eu, basta fechar os olhos depois de cada estrofe lida que a viagem no tempo é certa e garantida, através de cada palavra, ou frase, escrita por ele.
O neguinho de Heleno relembra a sua infância na roça, nas olarias raspando tijolos, nas brincadeiras de moleque e até o rugido das rodas dos carros de boi reavivam a sua memória, como também a de nós, leitores, que, de uma forma ou de outra, vivenciamos isso.
Maciel Melo dá uma lição de sertanidade a alguns matutos que não conhecem a fundo, ou não querem reconhecer, a natureza, a cultura, a religiosidade e tantos outros aspectos e costumes do nosso torrão.
Ler esta obra foi como debulhar um rosário, e sair correndo entre mistérios e Ave Marias procurando a minha identidade. Através dessa procura é que encontro cada doido que lembro na minha infância – São Anas, Zefas, Zabés, Mijões, Quincas, Pei Peis, e tantos outros que, às vezes, a memória nos trai. É, através dessa leitura, que também encontro bodegas – como a de seu João Santana e Enoque. Reencontro barbeiros, engraxates, vendedores de meio de feira, o homem da Cobra e várias outras figuras que compartilhavam suas vidas com as nossas.
E a primeira bicicleta, como esquecer? Eu, como nunca tive a primeira, não tenho como lembrar; mas, o neguinho de Heleno me levou à primeira televisão, que foi repassada pela minha avó materna. Era uma televisão, se não me falhe a memória, da marca TELEFUNKEN, preto e branca, sem falar que era de velas e demorava um bocado de tempo para aparecer a imagem – enquanto a gente de casa e a vizinhança, aguardávamos sentados no chão para assistir à novela e ao jornal. Dias depois, painho comprou uma tela, daquelas vendidas na feira, que eram colocadas em frente à tela da tv para a imagem ficar colorida... aí sim a coisa começou a ficar melhor.
Figuras ilustres, hoje esquecidas por alguns, nos são lembradas. Como seu conterrâneo Diógenes de Arruda Câmara, nascido lá no Riacho do Mel, distrito de Iguaraci, que teve uma grandiosa importância política e estudantil na Bahia para a construção do Brasil. Não é à toa que Diógenes é homenageado em uma das obras de Jorge Amado, intitulada “Os subterrâneos da Liberdade” – obra que ainda não li, mas irei ler em breve.
O neguinho de Heleno não é uma Regina Duarte, que cita o circo como talvez uma das suas influências para o despertar da vida artística. O neguinho, não. Ele realmente viveu o circo nos “Tempos de Menino” e, até hoje, carrega na boleia do destino esse aprendizado de infância.
Por fim, Maciel Melo deixa, nas últimas páginas do seu livro, um glossário de palavras usadas no cotidiano do povo sertanejo que serve de guia para nós leitores.
Pois bem, com orelhas abrindo as cancelas para a obra assinada pelo poeta e escritor Jessier Quirino, e prefácio do escritor e redator Paulo Rocha, abrimos os olhos para a leitura e, no final, os fechamos para viajarmos de carona nas histórias do ‘cabôco’ sonhador, do neguinho de Heleno, do pajeuzeiro de Iguaraci: Maciel Melo.

(Alexsandro Acioly)


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