Por André Marinho,
via facebook
O Hotel Majestic mostrou a Mario Quintana o olho da
rua, colocou-o para fora.
A miséria chegou absoluta ao universo do poeta. Ele
não foi feito para a riqueza, quando muito conquistar uma princesa com seus
versos, depois voltar ao pântano.
Uma cidade que expulsa um poeta pode te transformar
em estátua de sal.
Mario está só, o Correio do Povo faliu, o passado
faliu, as palavras faliram.
Um império sem homens e sem sentimentos. O porteiro
aproveita e joga um agasalho que tinha ficado no quarto.
“Toma, velho!”
Mario recita ao porteiro: A poesia não se entrega a
quem a define.
Mario estava só.
Cadê os passarinhos?
A sarjeta aguardava o ancião.
O jogador de futebol Paulo Roberto Falcão fora
avisado do acontecido.
Quando chega em frente ao hotel, observa aquela
cena absurda, triste.
Estaciona e caminha até o poeta com as malas na
calçada.
“Sr. Quintana, o que está acontecendo?”
Mario ergue os olhos e enxuga uma lágrima, destas
que insistem em povoar os olhos dos poetas.
Quisera não fossem lágrimas, quisera eu não fosse
um poeta, quisera ouvisse os conselhos de minha mãe e fosse engenheiro, médico,
professor.
Mas ninguém vive de comer poesia.
Mario lhe explica que o dinheiro acabou.
Está desempregado, sem família, sem amigos, sem
emprego.
Restaram apenas essas malas nas ruas de Porto
Alegre.
Mario observa Falcão colocando suas malas dentro do
carro em silencio. Em silencio, Falcão abre a porta para Mario e o convida a
sentar.
No silencio de duas almas na tarde fria de Porto
Alegre, o carro ruma na direção do arquipélago, na direção do infinito.
Falcão para o carro no Hotel Royal, desce as malas,
chama um dos empregados:
“O Sr. Mario agora é meu hóspede!”
“Por quanto tempo, Sr. Falcão?”
Falcão observa o olhar tímido e surpreso do poeta e
enquanto o abraça comovido, responde:
“Por toda a eternidade”.
O poeta faleceu em 1994.
Que Deus, todo poderoso, algum dia , retribua ao "Rei de Roma" esse gesto de maravilhoso por toda a eternidade!
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