Revendo os arquivos e as estatísticas de acesso, esta publicação, de março de 2013, surge como a mais acessada. Entendi por republicar.
...Patativa do Assaré
Monitorando a disciplina Literatura de Cordel, dentro do Programa Mais Educação, na Escola Padre Frederico Bezerra Maciel, no Distrito de Itã, Carnaíba-PE, trabalhei esta semana linguagem formal e linguagem coloquial. E aí nada melhor do que apresentar aos alunos o mestre Patativa do Assaré. E nada mais adequado do que o poema O poeta do roça.
A meninada correspondeu e fecho a semana confiante que dei um bom passo na transmissão desta arte. Obrigado, poeta Patativa. Obrigado Deus e deuses da poesia.
O conteúdo da atividade foi este aí abaixo. Um pouco da vida do mestre de Assaré e um de seus poemas. Depois, leitura interpretativa, identificação dos usos da linguagem coloquial e transformação dos termos em linguagem formal.
Patativa do Assaré era o nome artístico de Antônio Gonçalves da Silva. Nasceu em 5 de março de 1909, na cidade de Assaré - CE. Foi um dos mais importantes representantes da cultura popular nordestina.
Com uma linguagem simples, porém poética, destacou-se como compositor, improvisador e poeta. Produziu também literatura de cordel, porém nunca se considerou um cordelista. Sua vida na infância foi marcada por momentos difíceis. Nasceu numa família de agricultores pobres e perdeu a visão de um olho. O pai morreu quando tinha 8 anos de idade, a partir de quando começou a trabalhar na roça para ajudar no sustento da família.
Passou poucos meses na escola e neste período começou a escrever seus próprios versos e pequenos textos. Aos 16 anos ganhou da mãe uma pequena viola. Muito feliz, passou a escrever e cantar repentes e se apresentar em pequenas festas da cidade.
Ganhou o apelido de Patativa, uma alusão ao pássaro de lindo canto, quando tinha 20 anos. Nesta época, começou a viajar pelo Nordeste para se apresentar como violeiro.
Patativa do Assaré faleceu no dia 8 de julho de 2002 em sua cidade natal.
O poeta da roça
Sou fio das mata, cantô da mão grossa,
Trabáio na roça, de inverno e de estio.
A minha chupana é tapada de barro,
Só fumo cigarro de páia de mío
Trabáio na roça, de inverno e de estio.
A minha chupana é tapada de barro,
Só fumo cigarro de páia de mío
Sou poeta das brenha, não faço o papé
De argum menestré, ou errante cantô
Que veve vagando, com sua viola,
Cantando, pachola, à percura de amô.
De argum menestré, ou errante cantô
Que veve vagando, com sua viola,
Cantando, pachola, à percura de amô.
Não tenho sabença, pois nunca estudei,
Apenas eu sei o meu nome assiná.
Meu pai, coitadinho! vivia sem cobre,
E o fio do pobre não pode estudá.
Apenas eu sei o meu nome assiná.
Meu pai, coitadinho! vivia sem cobre,
E o fio do pobre não pode estudá.
Meu verso rastêro, singelo e sem graça,
Não entra na praça, no rico salão,
Meu verso só entra no campo e na roça
Nas pobre paioça, da serra ao sertão.
Não entra na praça, no rico salão,
Meu verso só entra no campo e na roça
Nas pobre paioça, da serra ao sertão.
Só canto o buliço da vida apertada,
Da lida pesada, das roça e dos eito.
Da lida pesada, das roça e dos eito.
E às vez, recordando a feliz mocidade,
Canto uma sodade que mora em meu peito.
Canto uma sodade que mora em meu peito.
Eu canto o cabôco com suas caçada,
Nas noite assombrada que tudo apavora,
Por dentro da mata, com tanta corage
Topando as visage chamada caipora.
Nas noite assombrada que tudo apavora,
Por dentro da mata, com tanta corage
Topando as visage chamada caipora.
Eu canto o vaquêro vestido de côro,
Brigando com o tôro no mato fechado,
Que pega na ponta do brabo novio,
Ganhando lugio do dono do gado.
Brigando com o tôro no mato fechado,
Que pega na ponta do brabo novio,
Ganhando lugio do dono do gado.
Eu canto o mendigo de sujo farrapo,
Coberto de trapo e mochila na mão,
Que chora pedindo o socorro dos home,
E tomba de fome, sem casa e sem pão.
Coberto de trapo e mochila na mão,
Que chora pedindo o socorro dos home,
E tomba de fome, sem casa e sem pão.
E assim, sem cobiça dos cofre luzente,
Eu vivo contente e feliz com a sorte,
Morando no campo, sem vê a cidade,
Cantando as verdade das coisa do Norte.
Eu vivo contente e feliz com a sorte,
Morando no campo, sem vê a cidade,
Cantando as verdade das coisa do Norte.
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