Tudo é essencial

 

Artes: Edgley Brito

Versos: Alexandre Morais

 
Pro vendedor de pipoca
Essencial é o milho
Que feito pipoca troca
Num pão pra boca do filho
Mas se o pai adoecer
Pode o filho perecer
Pela falta de comida
Sem remediar o mal
Tudo é essencial
Mas principalmente a vida
 
Pro barraqueiro de praia
Essencial é areia
Com gente que se espraia
Deixando a areia cheia
Mas o mesmo ar benéfico
Também pode ser maléfico
Se uma partícula sorvida
Tiver carga infeccional
Tudo é essencial
Mas principalmente a vida
 
Pro futuro do aluno
Essencial é ter aula
Que o saber é oportuno
E o não saber, uma jaula
Mas sujeitar-se ao contágio
Pode ser só um estágio
Pruma formação doída
Em torno de um funeral
Tudo é essencial
Mas principalmente a vida

Pra quem é dono de bar
Essencial, com certeza
É ver cheio o seu lugar
Pra ver cheia a própria mesa
Mas quando a doença chama
Pode encher é uma cama
Com matéria adoecida
Em um já cheio hospital
Tudo é essencial
Mas principalmente a vida

Pro dono de restaurante
Essencial é aquela
Cena do salão constante
Repleto da clientela
Mas um vírus em ação
Pode fazer do salão
A cena não pretendida
De um grande campo viral
Tudo é essencial
Mas principalmente a vida
 
Pra quem tem loja de roupa
É essencial, por certo
Abrir, que o credor não poupa
Se o débito não for coberto
Mas quando o mal se aloja
Não adianta ter loja
Pois matéria combalida
Não paga nota fiscal
Tudo é essencial
Mas principalmente a vida

Pra quem é comerciário
Essencial é servir
A quem lhe paga o salário
Pra seus deveres cumprir
Mas se só pensar na paga
Pode ser só uma vaga
A ser substituída
Na folha salarial
Tudo é essencial
Mas principalmente a vida
 
Pra essência dos artistas
Essencial é fazer
Cada arte ir às vistas
Do público que as quer ver
Mas a plateia presente
Pode se tornar ausente
Sem direito a despedida
De um, de parte ou total
Tudo é essencial
Mas principalmente a vida

Pra quem vive do turismo
Essencial é quem solta
Um grito de euforismo
Dizendo que indica e volta
Mas tanto a indicação
Quanto a volta podem não
Ser mais tarefa cumprida
Ser só um ponto final
Tudo é essencial
Mas principalmente a vida

Para as gigantes empresas
Essencial é ter várias
Já previsíveis surpresas
Nas muitas contas bancárias
Mas não tem juro que cubra
Nem dinheiro que descubra
Da morte qual a saída
Quando a doença é mortal
Tudo é essencial
Mas principalmente a vida
 
Para as multinacionais
Essencial é que ações
Superem as dos rivais
Em muitos e muitos ões
Mas por fim dos muitos lucros
Não podem restar sepulcros
Para uma gente oprimida
Que nem conhece o rival
Tudo é essencial
Mas principalmente a vida
 
Para a vida do poeta
Essencial é saber
Qual o lado que completa
A sua essência de ser
Quem vive de autoqueixa
É mais uma vítima que deixa
Sua arte ser medida
Na trena do capital
Tudo é essencial
Mas principalmente a vida