Montaigne, Chico Buarque e o Amor que não pede explicações
– por Paulo Setúbal, Revista Prosa Verso e Arte
O que faz nascer uma amizade imorredoura? O que move uma paixão desmedidamente extraordinária dentro de nossos humanos corações? O que nos leva a gostarmos tão intensamente de uma pessoa, por vezes tão diversa de nós? Ou a nos apaixonarmos perdidamente por alguém e mantermos com esse alguém um relacionamento que, no dizer do Poetinha, enquanto dura infinito é.
Amigos, parentes, conhecidos e desconhecidos, veem essa relação vivida com olhos de quem assiste a algo em que a lógica se volatiliza e se lhes escapa, algo improvável, indefinível, pleno de estranheza, difícil de ser decodificado, entendido, assimilado. Para desvendar esse mistério, buscando um satisfatório entendimento disso, Chico Buarque – compositor, cantor, dramaturgo e escritor – foi buscar a melhor definição nos ensaios de Michel de Montaigne, o célebre escritor, humanista e filósofo da França. Chico conta em um vídeo que Montaigne, por ser insistentemente questionado sobre o porquê de sua mais que imensa e eterna amizade por outro humanista e filósofo francês, Étienne de La Boétie, cuja morte precoce o levou a escrever o ensaio “Da amizade”, Montaigne disse apenas que gostava dele e ponto. Quinze anos mais tarde, revendo o que escrevera, o escritor acrescentou que gostava do grande amigo “porque era ele”. Outros quinze anos depois fez mais um acréscimo à frase, completando-a definitivamente: “porque era ele, porque era eu”. Chico entendeu como simples porem perfeita a definição dada por Montaigne.
Porque era ela, Porque era eu
Eu não sabia explicar nós dois
Ela mais eu
Porque eu e ela
Não conhecia poemas
Nem muitas palavras belas
Mas ela foi me levando pela mão
Íamos tontos os dois
Assim ao léo
Ríamos, choravamos sem razão
Hoje lembrando-me dela
Me vendo nos olhos dela
Sei que o que tinha de ser se deu
Porque era ela
Porque era eu
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