sexta-feira, 23 de abril de 2021

ZÉ QUEIRÓS E A FILARMÔNICA DE CARNAÍBA

abril 23, 2021 Por Alexsandro Acioly Sem comentários

 

 

MAESTRO ZÉ QUEIRÓS

 

 William Malaquias

(Músico e integrante da Diretoria da Associação Filarmônica Santo Antônio de Carnaíba-PE)

 


Imagem/Internet: Foto do maestro Zé Queirós
 

              No final do século XIX, nascia na pacata Carnaíba das Flores; José Queirós de Lima, filho único de João Queirós de Lima e Maria Minervina de Queirós (genitores também carnaibanos e primos legítimos entre si). Lugar simples e próspero, devido as suas riquezas naturais e homens de coragem que trabalhavam na agricultura, criação de gado um pequeno comércio já iniciava na Vila. Até então era a terra dos grandes fazendeiros, e não terra de músicos como é conhecida na atualidade.

A chegada do jovem maestro Zé Queirós após passar parte de sua infância e adolescência na cidade de Caruaru, pode-se considerar o marco da música instrumental em Carnaíba, vale salientar que até o momento desconhece datas de sua ida para a região do Agreste, e onde o mesmo aprendeu música, provavelmente nessa região; celeiro de grandes músicos.

        Logo fixou morada nas proximidades do Boqueirão; no sítio Matinha dos Queirós, onde já moravam vários familiares. Casou-se três vezes; o primeiro casamento com Ana Vaz de Medeiros, da qual teve quatro filhos, porém se tem conhecimento de dois com os nomes; Domícia e Manuel; O segundo com Maria Borrego e tiveram quatro filhos que não se criaram e por último se casou com Leocádia Leandro e teve quatro filhos, somente um se criou; chamado Valdecir.

Esse retorno a sua terra natal aos 17 anos foi primordial, dando início à história da Banda Filarmônica Santo Antônio. O clarinetista iniciou a primeira formação musical no carnaval do mesmo ano, com poucos músicos. Preparou a garotada durante o ano e no final chegou a apresentar a Banda completa a sociedade executando bem o repertório e agradando ao público presente.

 Depois dessa ótima fase, veio a triste notícia; o seu afastamento temporário, por motivos de alcoolismo, haja vista os ambientes em que frequentava eram oferecidos bebidas, o mesmo foi se acostumando, e caiu no vício, porém alegava também que não recebia salário, e deixou a Banda no ano de 1919, sendo substituído por um maestro oriundo de Afogados da Ingazeira: o mestre Valdevino.

          Logo depois reassumiu a Banda novamente, e junto ao cidadão José Martins teve a brilhante ideia de fundar a Sociedade Fhilarmônica Santo Antônio de Carnaíba.

Com a união e dedicação dos sócios, a maioria formada por comerciantes, a Banda chegou ao auge com bons músicos, dentre eles estavam: Israel Gomes, na época tocava bombardino; Dário Gomes ( clarinete) ; Zuca Vasco( tuba) ; Zé Pretinho de clarinete; Zé Vicente(bombo) ; Antônio Escrivão(saxofone) ; Otávio Vasco (clarinete) ; Zé Tenório no Barítono; Osias Vasco (clarinete); e os irmão Barbosa: João(trompete), José (trombone) e Josafá (trompete). Segundo Padre Fredérico bezerra Maciel no livro, “Carnaíba A Pérola do Pajeú”.

O jovem Zé Queirós além de professor de música, maestro e compositor exercia também nas horas vagas as profissões de Seleiro, Sapateiro, Ourives, Relojoeiro, e consertava várias máquinas. Ele tinha uma frase: “dizia que fazia de tudo, menos chover e fazer mel de abelha”.

           O maestro chegou a liderar por um bom tempo o Grupo de Canto Sacro da Igreja Católica. Tocava requinta ou clarinete, e chegou a montar uma simples Orquestra com os integrantes Osias Vasco no seu saxofone, Antônio Escrivão na flauta e Otávio Vasco no trombone.

Ensaiava missas e outros cantos, e às vezes tocava serafina e cantava com as cantoras Domícia Queirós (sua filha), Luísa Mendes, Elisa Cabral (Belisa), Ester de Zé Vicente e Salomé de Maria Escrivão. Sempre muito cuidadoso ele separava as vozes soprano, meio soprano, tenor, contralto etc.

Lamentavelmente em 1936 o Grupo de Canto Sacro foi extinto e o grande maestro dobrou as atenções para composições sendo considerado um excelente compositor compondo vários dobrados em homenagem aos sócios da Filarmônica  Zé Dantas (pai), Manuel José, Zé Martins e Saturnino Bezerra e nessa mesma época compõe o dobrado chamado “Saudades das Madrugadas”.

O maestro também Compôs marchas fúnebres como, “Lágrimas de Mãe’, “Saudades de Mãe” e ‘Silêncio”. Também compôs Modinhas e outras composições elaboradas à noite, isso quando não ingeria bebida alcoólica.

Infelizmente quando deixou Carnaíba estava em péssimas condições financeiras, doente e continuava a bebedeira incessante, e seu rico arquivo musical foi perdido no tempo. Uma pena não ter sua obra pra ser explorada por futuras gerações, porém somos gratos por esse extraordinário músico, deixar uma semente plantada com trabalhos altamente relevantes como a fundação da Banda Filarmônica, contribuindo para a formação de músicos profissionais que deram continuidade a história da arte musical em nossa terra, portanto foi forte sua contribuição, mesmo ás vezes recebendo gratificações irrisórias sempre esteve disposto a ajudar na formação musical dos jovens conterrâneos.

Depois dessa bela história construída em Carnaíba o maestro segue para a cidade de Agrestina onde passa os seus últimos dias de vida, vindo a falecer no dia 19 de novembro de 1947, aos 57 anos .

 

Fonte: Livro: Carnaíba A Pérola do Pajeú - Padre Frederico Bezerra Maciel.


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