segunda-feira, 17 de maio de 2021

Mussum: o psicodélico do samba

maio 17, 2021 Por Alexandre Morais Sem comentários


Por Rita Alves

Site do IMMub

 Um artista negro, sambista, morador de morro, atuar na maior emissora de TV em plena ditadura: muitos embates e conflitos – internos – e estereótipos que precisavam ser quebrados.

 Antônio Carlos Bernardes Gomes, já identificado como Carlinhos da Mangueira ou Carlinhos Reco-Reco, Mussum, é um desses nomes que passam a ser adjetivo.  Batismo feito pelo imenso Grande Otelo. Chaplin brasileiro, carioquíssimo, participou do primeiro grupo musical chamado Modernos do Samba.  E não sendo “Tempos Modernos”, mas tempos de chumbo, o negro sambista passou a frequentar o bairro do Rocha, onde trabalhava como mecânico, nas proximidades da Estação Primeira de Mangueira, como forma de despressurizar os tempos difíceis.

  No ano de 1960 forma e integra o grupo Os Sete Morenos, que em 1961 passou a se chamar Os Originais do Samba, cujo repertório consta de onze álbuns. Com o grupo se apresenta na França, sendo o primeiro grupo de samba a ficar em cartaz no icônico Teatro Olympia, a mais antiga sala de espetáculos musicais de Paris.

  Após apresentar-se em São Paulo, no bairro de Adoniran, o Bixiga, no Teatro Sergio Cardoso, ao lado de Baden Powell e Marcia.  São Paulo, aliás, representa um capítulo especial na carreira do Mussum, com “Do lado direito da rua direita”, composição dele e de Chiquinho, tornando-se um grande sucesso do álbum “Os originais a caçamba”.

  Com narrativas musicais de construções poéticas improváveis, como o lendário “Tragédia no fundo do mar”, que transita entre a alegoria lisérgica e os subterfúgios que os compositores encontravam para driblar a censura e cantar subliminarmente a violência da ditadura militar, a letra percorre os caminhos da opressão e da tortura: “(...) O caranguejo levou preso o tubarão / Siri sequestrou a sardinha / Tentando fazer confessar / O guaiamum que não se apavora / Disse: eu que vou investigar // Vou dar um pau nas piranhas lá fora / Vocês vão ver, elas vão ter que entregar”.

  Pop como nenhum outro no samba, foi para a TV e foi membro do grupo de humoristas Os Trapalhões, inventa um dialeto próprio:  O “mussunlês”, dando significado diferente a significantes como “forevis”, “mé”, ou modificando a terminação de algumas palavras como Cachacis, Cacildis.  

  E para comprovar que não passou por esse mundo de brincadeira, tem composições com João NogueiraJorge AragãoDedé da Portela, tendo gravado sambas de Zeca PagodinhoLuiz Carlos da VilaArlindo Cruz.
  Embora cômico, o humorista carregou por toda a vida o olhar meigo e triste de Carlitos, aquele melancólico sorriso entre a lágrima e a ingenuidade quase infantil, mas muito consciente de toda a estética de sua arte múltipla.

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