A Poesia
Os homens não sonhavam acordados. Lutavam com encarniçamento pela conquista do pão. Odiavam-se mutuamente. Havia o sol, a lua, o firmamento, azul quando era dia, ou recamado de estrelas quando a noite invadia a natureza; havia flores, perfumes, mulheres e crianças; havia o mar, as montanhas, as árvores.
Porém, os homens, de coração voltado apenas para as necessidades da vida material, não tinham olhos para tanta beleza e arrastavam-se pesadamente pelas intermináveis estradas do mundo.
O mar apiedou-se da pobre humanidade. E, reunindo na mesma criatura sua inefável paz dos dias de calmaria, a frenética rebelião das horas de borrasca, a luz da bonança, a escuridão das tormentas, deu nascimento à Poesia. Deu-lhe mais: acentos de paixão, a alegria do canto, a suavidade, a leveza, clangor de trombetas, murmurar de fontes, enfim, tudo quanto significasse encantamento, música e beleza.
A Poesia, filha do mar, encaminhou-se para o meio dos homens. Afagou rostos impassíveis, pôs centelhas em olhos apagados e, em cada coração humano, as notas delicadas de leves canções. E os homens dançaram, riram e choraram.
E então, perceberam o azul do céu, o lamento do verde mar, o perfume das flores; suspiraram, acompanhando o voo leve das aves; alegraram-se, ouvindo o riso ingênuo das crianças; enfim, conheceram o amor.
Fios invisíveis ligaram os sonhos das criaturas humanas ao céu estrelado, e Deus penetrou em cada coração.
Copiado de Beatriz Becker / Extraído de Enciclopédia Universal da Fábula, vol. XII; Editora das Américas. Tradução de Oscar Paes Leme.
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