sexta-feira, 18 de junho de 2021

Generino Batista

junho 18, 2021 Por Alexandre Morais Sem comentários



   Não conseguimos informações sobre a ainda vivência do poeta Generino Batista (foto). Embora seja uma preciosa informação, não nos aguentamos em esperar pra só depois fazer esta publicação.

  Ademais, temos a certeza que nossos historiosos leitores e leitoras ajudarão nessa busca. E torcemos que o mesmo esteja vivo a ativo em seus 85 anos, contados em 2021.

  Generino é um daqueles poetas que não são lembrados tanto quanto tantos dos nossos repentistas. Mas que tem versos impagáveis. Há muitos assim também.

   A ideia aqui era trazer quatro estrofes classificadas como tais. São estrofes simples ditas de forma grandiosa e que ganham ainda mais grandeza quando se conhece a vida de quem as produziu.

  Mas eis que nas internéticas pesquisas nos aparece um Generino contador – isto mesmo, contador e não cantador. Um contador de histórias ao bom estilo sertanejo, daqueles que juntam gente pra lhe dar ouvidos.

  O contador nos apareceu como personagem de uma dissertação para o título de Mestrado em Literatura e Interculturalidade da Universidade Estadual da Paraíba, de 2009. O título é Seu Generino: um contador de histórias orais na contemporaneidade e a autora é Candice Firmino de Azevedo Nogueira. Foi de lá que copiamos a foto acima.

   Vale muito a pena ler. É só clicar aqui

 Resumidamente, temos que o poeta Generino Batista nasceu na zona rural do município de Teixeira, na Paraíba. O berço é o mesmo da cantoria de repente e o tempo (1936) é o do espalhamento da arte pelos sertões nordestinos.

Cidade de Teixeira, no Sertão da Paraíba
   Conta que a vida foi de muito sofrimento. Nisto não foi conto inventado, foi conto verídico. O pai era repentista dos que passavam dias e meses sem aparecer em casa, deixando quatro filhos aos inteiros cuidados da mãe. Quando esta morreu, Generino tinha apenas 6 anos. O pai passou a deixar os filhos em lugares nunca certos, enquanto ia e voltava das cantorias. Um dos irmãos abandonou aquela vida cigana e nunca mais deu notícias. Com mais três anos, o pai também morreu. Tava Generino com 9.


Aí eu fiquei por casa dos outros. Trabalhando de graça, num tempo muito atrasado e só pelo mundo, apanhando do povo que eu fui criado, porque eu chorava para não ir para o roçado. Chorava com fome lá. Aí eu fui crescendo...


Depois, de uns trabalhos já gratificados e de umas andanças nas feiras foi que conheceu o cordel. Comprava sem saber ler e logo viu que precisava decorá-los. Do decoro vieram os pedidos pra contar e cantar histórias pro povo e dali surgiram os próprios versos e improvisos.


... fazia umas rimas desmanteladas... e com aquilo, quando deu fé, eu estava rimando, já fazendo umas coisas, os cantadores já me procuravam e eu fui com muito medo, porque a cantoria é uma coisa pesada!


   Danou-se a tocar por Paraíba e Pernambuco, apaixonou-se em Serra Redonda (PB), casou a contragosto do pai da moça – um dos muitos da época que chamavam cantador de viola de vagabundo – e teve 15 filhos, sendo oito sobreviventes. Pra sustentar a meninada dividiu a viola com enxada.


E a gente morando no que era dos outros. Só passava um ano num canto. Tinha uma história de que o homem não queria morador, porque o morador podia tomar a casa do patrão. Aí você estava morando assim num canto, quando dava fé, o patrão botava para fora... Eu fiz 36 mudanças.


  E a bonança veio quando os filhos foram morar em São Paulo, passaram a ajudar financeiramente, teve sítio próprio, casa própria, aposentadoria e um fusca. Tudo no roteiro Serra Branca – Campina Grande, na mesma Paraíba.

   Entre um sofrimento e outro, entre uma cantoria e outra, os versos que temos do mestre Generino Batista:


Você tem toda razão

Dizer que eu não falo bem

Papai chamava prumode

Mamãe chamava quiném

E um filho desse casal

Que português ele tem?

 

  O poeta recita esta estrofe em um vídeo publicado no youtube no canal do poeta Neto Ferreira. Há outra versão em que os dois primeiros versos são os seguintes:

 

Eu moro num pé de serra

Que não sabe ler ninguém

 

* * *

 

Eu quando pego um preá

Mato, pelo, espeto e asso

A mulher come uma banda

Cada menino um pedaço

E eu sou feliz quando sobra

O osso do espinhaço

 

* * *

 

Eu tava me alimentando

Com frutos de macaúba

Mas o pé cresceu demais

Pra subir não há quem suba

Com vara ninguém alcança

Com pedra ninguém derruba


* * *


Seu doutor me dê dinheiro

Preu comprar um boi pra eu

Que eu trabalhava com dois

Mas um a cobra mordeu

E eu preciso botar outro

No lugar do que morreu

 

Salve, salve Poesia!

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