Não conseguimos informações sobre a ainda vivência do
poeta Generino Batista (foto). Embora seja uma preciosa informação, não nos aguentamos
em esperar pra só depois fazer esta publicação.
Ademais, temos a certeza que nossos historiosos leitores e leitoras
ajudarão nessa busca. E torcemos que o mesmo esteja vivo a ativo em seus 85
anos, contados em 2021.
Generino é um daqueles poetas que não são lembrados tanto quanto tantos
dos nossos repentistas. Mas que tem versos impagáveis. Há muitos assim também.
A ideia aqui era trazer quatro estrofes classificadas como tais. São
estrofes simples ditas de forma grandiosa e que ganham ainda mais grandeza quando
se conhece a vida de quem as produziu.
Mas eis que nas internéticas pesquisas nos aparece um
Generino contador – isto mesmo, contador e não cantador. Um contador de
histórias ao bom estilo sertanejo, daqueles que juntam gente pra lhe dar ouvidos.
O contador nos apareceu como personagem de uma
dissertação para o título de Mestrado em Literatura e Interculturalidade da
Universidade Estadual da Paraíba, de 2009. O título é Seu Generino: um contador
de histórias orais na contemporaneidade e a autora é Candice Firmino de Azevedo
Nogueira. Foi de lá que copiamos a foto acima.
Vale muito a pena ler. É só clicar aqui
Resumidamente, temos que o poeta Generino Batista nasceu
na zona rural do município de Teixeira, na Paraíba. O berço é o mesmo da cantoria
de repente e o tempo (1936) é o do espalhamento da arte pelos sertões
nordestinos.
![]() |
Cidade de Teixeira, no Sertão da Paraíba |
Aí
eu fiquei por casa dos outros. Trabalhando de graça, num tempo muito atrasado e
só pelo mundo, apanhando do povo que eu fui criado, porque eu chorava para não
ir para o roçado. Chorava com fome lá. Aí eu fui crescendo...
Depois, de uns trabalhos já gratificados e de umas
andanças nas feiras foi que conheceu o cordel. Comprava sem saber ler e logo viu que
precisava decorá-los. Do decoro vieram os pedidos pra contar e cantar histórias
pro povo e dali surgiram os próprios versos e improvisos.
... fazia umas rimas
desmanteladas... e com aquilo, quando deu fé, eu estava rimando, já fazendo
umas coisas, os cantadores já me procuravam e eu fui com muito medo, porque a
cantoria é uma coisa pesada!
Danou-se a tocar por Paraíba e Pernambuco, apaixonou-se
em Serra Redonda (PB), casou a contragosto do pai da moça – um dos muitos da
época que chamavam cantador de viola de vagabundo – e teve 15 filhos, sendo oito
sobreviventes. Pra sustentar a meninada dividiu a viola com enxada.
E
a gente morando no que era dos outros. Só passava um ano num canto. Tinha uma
história de que o homem não queria morador, porque o morador podia tomar a casa
do patrão. Aí você estava morando assim num canto, quando dava fé, o patrão
botava para fora... Eu fiz 36 mudanças.
E a bonança veio quando os filhos foram morar em São
Paulo, passaram a ajudar financeiramente, teve sítio próprio, casa
própria, aposentadoria e um fusca. Tudo no roteiro Serra Branca – Campina Grande,
na mesma Paraíba.
Entre um sofrimento e outro, entre uma cantoria e
outra, os versos que temos do mestre Generino Batista:
Você
tem toda razão
Dizer
que eu não falo bem
Papai
chamava prumode
Mamãe
chamava quiném
E
um filho desse casal
Que
português ele tem?
O
poeta recita esta estrofe em um vídeo publicado no youtube no canal do poeta
Neto Ferreira. Há outra versão em que os dois primeiros versos são os seguintes:
Eu
moro num pé de serra
Que não sabe ler ninguém
*
* *
Eu
quando pego um preá
Mato,
pelo, espeto e asso
A
mulher come uma banda
Cada
menino um pedaço
E
eu sou feliz quando sobra
O
osso do espinhaço
*
* *
Eu
tava me alimentando
Com
frutos de macaúba
Mas
o pé cresceu demais
Pra
subir não há quem suba
Com
vara ninguém alcança
Com
pedra ninguém derruba
* * *
Seu doutor me dê dinheiro
Preu comprar um boi pra eu
Que eu trabalhava com dois
Mas um a cobra mordeu
E eu preciso botar outro
No lugar do que morreu
Salve, salve Poesia!
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