Benvindo
Arte: Edgley Brito |
Não importa se o evento é político, social,
esportivo, cultural ou qualquer outro de distinto nome. Não importa se fechado-fechadíssimo
ou se aberto-escancarado. Não importa se festo ou funesto. Benvindo não se
importa. Ele tá lá. E não só tá, como faz questão de mostrar-se lá.
Dos antigos álbuns, com retratos impressos, às novas
galerias digitais, é fácil-facílimo ver-se Benvindo. Não nos arquivos da
própria família. Mas nos achados de várias, se não todas, famílias da cidade. Nos
achados de altas autoridades e de todos os escalões desautorizados também.
Benvindo é do tipo arroz de festa, pulga de cós,
papagaio de pirata e caatinga de imbigo, se é que não deu pra entender ainda.
Talvez no impulso do nome que a santa mãe lhe deu, o danado se acha necessário.
Ou aceito por melhor dizer.
Gasta o que não tem para andar vestido e calçado ao
melhor modo do lugar onde vai. É mestre nas artes cênicas e cínicas de rir e
chorar conforme a precisão e ainda fala sobre qualquer assunto com doutoral
desenvoltura. Nunca esperou um convite nem se fez de rogado pela falta de
nenhum deles.
Outro dia se meteu numa reunião de prefeitos como se
fora um. Deu boas vindas aos de fora como se fosse o da casa e não se importou
com os foras levados do de casa. Não discursou alto no soante microfone, mas
soou baixo aos tantos ouvidos forçadamente emprestados. Ao final, claro, foi o
mais presente entre todos os registros fotográficos, além, claro de novo, das
dúzias de autorretratos produzidos.
Conta-se que no passado foi realmente bem vindo em
muitos momentos. Os feitos da adolescência e da juvenescência demonstravam uma
sapiência desconexa com os de mesma idade. Ali, sim, havia convites. E
reconvites e treconvites. E tudo era lindo. Indo e vindo, tudo era lindo. E
Benvindo se dava bem indo e vindo.
Mas o tempo que passa fez Benvindo se passar. E como
se passa. Passa o tempo se passando. Mesmo sendo passado pra trás se sente bem
por trás de qualquer cena. E acena. Acena pra um e pra todos sem nem se
importar se os acenos são devolvidos.
E assim segue sempre estando e se achando. A
Benvindo não importa ser bem vindo. Importa sentir-se bem. Mesmo que a mal dos
outros.
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