segunda-feira, 23 de agosto de 2021

Alexandre Morais - Crônicas em Retalhos

agosto 23, 2021 Por Alexandre Morais Sem comentários

 Benvindo

Arte: Edgley Brito


Não importa se o evento é político, social, esportivo, cultural ou qualquer outro de distinto nome. Não importa se fechado-fechadíssimo ou se aberto-escancarado. Não importa se festo ou funesto. Benvindo não se importa. Ele tá lá. E não só tá, como faz questão de mostrar-se lá.

Dos antigos álbuns, com retratos impressos, às novas galerias digitais, é fácil-facílimo ver-se Benvindo. Não nos arquivos da própria família. Mas nos achados de várias, se não todas, famílias da cidade. Nos achados de altas autoridades e de todos os escalões desautorizados também.

Benvindo é do tipo arroz de festa, pulga de cós, papagaio de pirata e caatinga de imbigo, se é que não deu pra entender ainda. Talvez no impulso do nome que a santa mãe lhe deu, o danado se acha necessário. Ou aceito por melhor dizer.

Gasta o que não tem para andar vestido e calçado ao melhor modo do lugar onde vai. É mestre nas artes cênicas e cínicas de rir e chorar conforme a precisão e ainda fala sobre qualquer assunto com doutoral desenvoltura. Nunca esperou um convite nem se fez de rogado pela falta de nenhum deles.

Outro dia se meteu numa reunião de prefeitos como se fora um. Deu boas vindas aos de fora como se fosse o da casa e não se importou com os foras levados do de casa. Não discursou alto no soante microfone, mas soou baixo aos tantos ouvidos forçadamente emprestados. Ao final, claro, foi o mais presente entre todos os registros fotográficos, além, claro de novo, das dúzias de autorretratos produzidos.

Conta-se que no passado foi realmente bem vindo em muitos momentos. Os feitos da adolescência e da juvenescência demonstravam uma sapiência desconexa com os de mesma idade. Ali, sim, havia convites. E reconvites e treconvites. E tudo era lindo. Indo e vindo, tudo era lindo. E Benvindo se dava bem indo e vindo.

Mas o tempo que passa fez Benvindo se passar. E como se passa. Passa o tempo se passando. Mesmo sendo passado pra trás se sente bem por trás de qualquer cena. E acena. Acena pra um e pra todos sem nem se importar se os acenos são devolvidos.

E assim segue sempre estando e se achando. A Benvindo não importa ser bem vindo. Importa sentir-se bem. Mesmo que a mal dos outros.

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